OS GAROTOS PERDIDOS [1987]- [JOEL SCHUMACHER] |

“Dormir de dia. Fazer festa a noite toda. Nunca ficar velho. Nunca morrer. Ser vampiro é o maior barato.”

SINOPSE: Humor, Terror e Rock ‘N’ Roll em uma história de vampiros modernos. Uma mulher recém-divorciada (Dianne) muda-se para uma nova cidade acompanhada de dois filhos, Michael (Patric) e Sam (Haim). Atraído por uma bela garota (Jami), Michael entra para uma estranha gangue de motoqueiros liderada por David (Sutherland). A turma é bem mais sinistra do que sugerem as aparências. Eles são vampiros dispostos a aproveitar a vida, curtir a noite e transformar Michael no mais novo membro de seu grupo. Terror moderninho de Joel Schumacher, diretor de Batman & Robin– interfilmes.com/film

uem viveu os anos 80/90 sentiu a flor da pele a efervescência da música, principalmente do rock’n’roll, e do cinema, onde títulos como E.T. – O EXTRATERRESTRE [1982], DE VOLTA PARA O FUTURO [1985] e DIRTY DANCING – RITMO QUENTE [1987], fizeram a alegria dos jovens rebeldes da época. Filmes que sem a internet– que até 1995, no Brasil, era apenas de acesso restrito a professores e funcionários de universidades e instituições de pesquisa– fizeram parte da grade de canais televisivos como rede GLOBO e SBT, e muitos jovens , grande maioria, carregarão consigo a “mágica” dessas décadas- e eu sou um deles.

Não, não é “coisa” de velho dizer que aqueles eram outros tempos, que tudo era diferente; nem esse saudosismo deve ser considerado apenas parte do processo de envelhecimento no qual nada parece novo, e que é um erro considerar que antigamente algumas coisas eram melhores. Não mesmo. Lógico que nem todos os filmes- ou produções de qualquer mídia– eram obra primas, longe disso, HOWARD, O SUPER-HERÓI [1986], por exemplo, é uma das adaptações mais estranhas para as telonas que poderia haver, ou, SUPER MARIO BROS [1993] que destrói o personagem ícone dos games de todas as formas possíveis. No entanto, existiram premissas que fizeram toda diferença, e de forma consistente aproveitou a cultura pop da época, OS GAROTOS PERDIDOS [The Lost Boys, no original] é um bom exemplo disso.

JANICE FISCHER e JAMES JEREMIAS deram inicio ao roteiro, no entanto, o diretor, JOEL SCHUMACHER, assumindo a película, mudou alguns detalhes e conseguiu oferecer ao público um filme que mistura, na dose certa, terror e comédia, contendo uma trilha sonora espetacular, que são interpretações de músicas conceituadas da época, por músicos cults, da mesma.

_Mexendo com os hormônios dos adolescentes? com certeza!

Seres sobrenaturais como VAMPIROS há muito fazem parte da literatura e do cinema, e desde a propagação do mito, principalmente por causa da obra DRÁCULA DE BRAM STOKER, esses seres tornaram-se motivo de “culto” para a sociedade, dando a eles certo romantismo e sensualidade. A música, com certeza, não ficaria fora do tema, e compositores como PETER MURPHY, o qual, no ano de 1979, gravou o single, BELA LUGOSI’S DEAD, com sua banda BAHAUS, favoreceu para a concepção sensual e mística do vampiro. Tendo ciência desse fato, podemos considerar a película, de SCHUMACHER, inovadora nesse sentido porque consegue transpor de forma singela o lirismo <subjetivo> de PEOPLE ARE STRANGE, canção escrita por ROBBY KRIEGER e JIM MORRISON, em 1967, que versa sobre alienação e vulnerabilidade sentimental:

“Pessoas são estranhas quando você é um estranho. Rostos olham feio quando você está sozinho.”

A introdução do filme, inicia-se com a interpretação da banda ECHO & THE BUNNYMEN para canção de MORRISON, oferecendo nas primeiras cenas nuances daquilo que existe por detrás das “cortinas do mundo”. Diferente da concepção anterior dos seres das trevas, os vampiros quando revelam sua real aparência não são nada belos, e tudo o que a “caça” menos vai quer destes é um abraço e presas nas suas veias jugulares. Dado que a essência do vampirismo, ou, talvez, melhor dizendo, a sua principal característica é a de oferecer ao individuo a vida eterna, não por acaso, a analogia de SCHUMACHER com PETER PAN, obra clássica de 1911, torna-se base da trama, começando logo pelo nome OS GAROTOS PERDIDOS, clara referência à criação de J. M. BARRIE. Sem fadas e piratas, a ânsia pela juventude eterna em OS GAROTOS PERDIDOS, é apresentada pela gangue de motoqueiros arruaceiros, encabeçada pelo vampiro DAVID [KIEFER SUTHERLAND]; e o arrependimento sob a figura de STAR [JAMI GERTZ] que tenta avisar MICHAEL [JASON PATRIC] sobre o perigo de se envolver com DAVID e tornar-se um ser da noite.

_24 horas sugando sangue?

Quem assistiu ao filme OS GOONIES [The Goonies], de 1985, pode considerar meio parecida a premissa deste com a de OS GAROTOS PERDIDOS: adolescentes que enfrentam o perigo, controlando o medo, adentrando em ambientes sufocantes e vencendo o inimigo no final. Isso se deve porque, uns dos primeiros nomes escalados para a direção foi RICHARD DONNER, diretor responsável por OS GONNIES, no entanto, este abandonou o projeto para produzir MAQUINA MORTÍFERA, deixando o cargo para MARY LAMBERT, que também abandonou o barco, alegando diferenças criativas, então coube a SCHUMACHER dar vida a trama inicial. Umas das primeiras coisas que fez foi inserir a personagem STAR, que no roteiro original seria um rapaz, e tornar os irmãos FROGS, adolescentes e mais carismáticos. São os dois irmãos, ALAN [JAMISON NEWLANDER] e EDGAR [COREY FELDMAN]- nomes que aludem ao escritor EDGAR ALLAN POE, – que dão o tom humorístico para a trama, auxiliando o personagem SAM [COREY HAIM], a conseguir a cura para a maldição vampírica adquirida pelo irmão mais velho MICHAEL que não quer tornar-se igual aos membros da gangue de DAVID.

_Sam [centro] e os irmãos Frogs: Alan [esquerda] e Edgar [direita]

É interessante a ironia na trama: os vampiros dominam a cidade de SANTA CLARA, localizada no estado norte-americano da CALIFÓRNIA, estado que tem como uma de suas características a temperatura média de 25 °C, ou seja, longe do clima de outras histórias de vampiros que normalmente se passam em regiões europeias e seu frio avassalador.

Outra nuance interessante do filme, é o fato de que algumas coisas são sugeridas, por exemplo, pelas cenas dá se a entender que os vampiros são capazes de voar, mas isso “não” fica claro, algumas cenas demostram isso, mas não revelam; e na cena, na qual MICHAEL visita o esconderijo de DAVID, é visível um quadro enorme com o rosto de JIM MORRISON- que reza a lenda que, ao começar se envolver com xamanismo, chegou a beber sangue humano em rituais-; e o momento, no qual o vampiro líder oferece alimentos, e MICHAEL vê vermes e minhocas, sugere que os vampiros possuem o poder de controle mental, mesmo que limitado.

_Fiquei esperando o cara entrar numa cabine telefônica…

Como o disse no começo, OS GAROTOS PERDIDOS, tanto é um filme de terror como de comédia; e mesmo que tenha várias características dos filmes de adolescentes da época- que não poderia ser diferente já que era para tal que foi filmado– não deixa de ser um clássico importantíssimo para a linha histórica cinematográfica dos vampiros; e muito provavelmente aqueles que desdenharam o filme na época, voltaram atrás, anos depois, quando apareceu o filme de certo vampiro que brilha como fada…

Em suma, vale a pena conferir, pelo teor trash, as boas atuações, o humor negro, e a trilha sonora que além da releitura de um clássico de MORRISON, também contêm CRY LITTLE SISTER, de GERARD MCMANN e MICHAEL MAINIERI, canção que fica em nossa mente durante muito tempo quando o filme termina.

TRILHA SONORA:

SEQUÊNCIAS:

THE LOST BOYS: REIGN OF FROGS: é uma minissérie, em quadrinhos, publicada em 2008.
LOST BOYS: THE TRIBE: filme produzido em 2008.
LOST BOYS: THE THIRST: Terceira e última edição, fechado a trilogia em 2010.