HERÓI UMA REVISTA QUE INSPIROU UMA GERAÇÃO


LivroHeroi

“Tem um monte de gente que na adolescência abandona a paixão por quadrinhos, animação, cinema. Eu não”André Forastieri


PRELÚDIO

“Meu caso de amor virou um caso sério, cobrindo minha vida de mistérios e o sol nasce em seu sorriso” Caso SérioGolpe De Estado.

um menino de cabelos castanhos, olhos claros, cor de mel, sobrancelhas grossas carregando consigo sangue de alemães, portugueses e possivelmente de tupis-guaranis, sentia-se perdido, vivendo nas sombras, considerado tímido pelas pessoas, principalmente pelos pais, mas que na verdade sofria de fobia socialque geraria depressão mais tarde  e de transtornos compulsivos obsessivos. Ninguém o entendia, e ele não entendia a si mesmo, também achava que era tímido e que seus TOCs eram uma maldição, talvez, punição divina de algo de sua vida passada… Quando entrava no bosque que tinha na chácara que morava, onde seu pai era caseiro, precisava dar voltas nas árvores que estavam entre o fundo do bosque a área aberta, caso contrário sentia-se mal e não conseguia tranquilidade. Pensava constantemente, a mente um ventilador maluco, uma hélice de helicóptero na guerra interna em sua mente, entre seu ser e o mundo na qual vivia. revista2bheroi-2b1Não tinha paz, definitivamente.

Em meados da década de 90, 1994, estreou no Brasil o anime CAVALEIROS DO ZODÍACO, na extinta REDE MANCHETE, e marcou a vida do menino solitário. Ele como todo menino de sua idade tinha a televisão como entretimento e apesar de ter gostado de desenhos como a versão japonesa do PEQUENO PRÍNCIPE e ter assistido ZILLION, vários Tokusatsus, ainda assim não tinha encontrado nada que lhe gerasse fascínio, até mesmo apego sentimental, porém, numa manhã, aparentemente como qualquer outra, viu uma comercial na TV que anunciava um novo desenho, sobre a batalha entre cavaleiros que precisavam proteger uma deusa, nos poucos segundos de imagens, despertou no menino a curiosidade, e este esperou o dia inteiro, ansioso que a tarde terminasse e pudesse ver o tal desenho. Sentou em frente o televisor, esperou e surgiu a abertura: “Os guardiões do universo hão de vencer o mal/ O seu destino é combater por um mundo ideal”, desde já sabia, algo dentro de si dizia que aquilo era diferente de tudo o que já havia visto. Ele não conhecia ainda o conceito de Jornada do Herói, mas isso não importaria mesmo que soubesse, mesmo assim seria diferente de tudo que presenciou. Assistia cada episódio de olhos vidrados, adquiriu um ritual peculiar: sentava em posição de lótus e prestava atenção em cada cena, cada dialogo. Pela primeira vez na vida sua atenção teve foco, não pensava em mais nada, seus pensamentos repetidos desapareciam, e conseguia adentrar naquele universo de signos, “poderes e responsabilidades”. Aprendia com os CAVALEIROS DO ZODÍACO o valor da amizade, do amor, fraternidade e que o segredo da liberdade, socialmente falando, era respeitar o espaço do próximo, merecendo o seu próprio. A sua família percebia o quanto o menino, lobinho solitário gostava do desenho. Este havia visto pouco tempo depois um comercial de TV de uma revista especializada em desenhos, CAVALEIROS DO ZODÍACO, principalmente, desejou tê-la, mas de família pobre, seu pai ganhava como jardineiro, apenas 140 reais por mês, ficou “sem jeito” de pedir que comprasse para ele, faria diferença aquele valor-revista2bheroi-2b6 na sua cabeça era egoísmo.

Num belo dia, sua mãe e sua irmã após voltarem do centro da cidade, IBIÚNAuma cidade pequena em quesito urbano, mas terceira maior em território, antro de caipiras para muitos paulistas– trouxeram consigo uma revista com o personagem preferido dele: IKKIO MAIS FURIOSO DOS CAVALEIROS. Por causa de seus problemas, o menino era o mais furiosos dos meninos, apesar do seu bom coração- naquela época ainda não tinha sido pervertido pelo sistema, perdendo sua inocência. O sorriso abriu em sua face, o sol nasceu em seu olhar: era o cavaleiro de FÊNIX e justamente a REVISTA HERÓI. O seu cosmo ardeu e sua alma fria se aqueceu. Esse foi o inicio de um caso sério de amor.

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Antes da HERÓI, apenas tinha lido alguns quadrinhos, colecionado álbuns de figurinhas, no entanto, por algum motivo que até hoje desconhece, picou tudo o que tinha, entrou num frenesi de destruir para reconstruir. Lembra que numa desses dias que a mãe foi visitar os parentes, uns dos seus primos tinha um álbum do JASPION, mas como a capa do álbum havia se estragado, este fez a sua própria, desenhou e colou. Chegando a sua casa, o menino arrancou a capa do seu álbum, também do JASPION, e fez umrevista2bheroi-2b48a capa própria também. Não era inveja, nada disso: era loucura, claro, mas também uma vontade de dar vida às coisas. Antes de CAVALEIROS, pelas leituras que havia feito, seus heróis eram PETER PARKER e HAL JORDAN, mas não tinha como saber nada deles, nada aprofundado, não conseguia acompanhar publicações, então o universo se abriu: a HERÓI possibilitou saber o que estava acontecendo no mundo dos heróis fictícios. Além dos CAVALEIROS, a edição falava sobre Super Gatasé claro que lobinhos solitários também gostavam de gatas, normal– e de vídeos games. Tinha também uma ilustração de um cara se aproximando de uma mulher em cima de uma concha com os cabelos compridos tapando a genital: anos mais tarde o menino foi entender a referência simbólica da imagem. Seu pai viu nos olhos a alegria do menino, se dispôs a comprar a revista para o filho. Conseguiu as edições passadas, menos a edição de Nº 3 com o SUPER- HOMEM na capa, por isso como a raposa e as uvas pensou: “eu nem gosto do Super- Homem mesmo”. Não era totalmente verdade, ele queria a edição por mais que naquela época não gostasse do personagem, no caso não gostava pelos filmes, nem desenhos, quadrinhos nunca tinha lido. Não conseguiu a edição, mas foi comprando as outras.

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_ A Herói 25 veio com essa imagem sensacional

Na edição cinco houve uma matéria sobre FRANKENSTEIN, isso emocionou o menino por que desde há muito sentia atração pelo “macabro”, mas não tinha onde saber nada sobre, apenas dependia da TV para assustá-lo de vez em quando com alguns filmes. Toda e nova edição abrindo mais o leque de possibilidades de como histórias podem ser contadas e de como são importantes. Os seus amigos de escola não compravam a revista como ele, preferiam gastar o seu precioso dinheirinho com outras coisas, segundo eles, porém, todo dia perguntavam o que iria acontecer no próximo capítulo e ele sabia, claro que sabia, pois a HERÓI era “vidente” conseguia prever o futuro e o deixava a par das coisas. Spoiler era algo que nem havia sido conceituado na época. Não incomodava o menino saber o que iria acontecer, na verdade gerava em si um verdadeiro “estudo sobre o ato de contar história”, por quê? Por que mesmo sabendo o que aconteceria, buscava imaginar como realmente seria: “então, ‘ tudo começa num dia descontraído no orfanato, até Makoto resolver correr atrás do seu avião de brinquedo em meio ao carro que passa velozmente pela rua’, mas qual vai ser o olhar da criança?” Ele via ali apenas um resumo e não literatura, assim que assistiu o OVAO SANTO GUERREIRO, sentiu a emoção em cada quadro, o desespero dos heróis em quererrevista2bheroi-2b18-2b2000 salvar a sua deusa e em consequência a humanidade. Ele sabia tudo o que viria acontecer- tinha lido e relido a edição de número 21 várias vezes– mas mesmo assim a emoção tornou-se épica e a história parte de si para sempre. No fim da matéria, MARCELO DEL GRECO, escreveu: “é hora de colher os louros da vitória, afinal os santos guerreiros de Athena livraram mais uma vez e toda a humanidade da sombra do mal que nos ameaçava”, e com isso também mais um pouco das sombras da alma do menino dissipavam.  As matérias de DEL GRECO não apenas descrevia os episódios, elas também explicavam alguns detalhes das histórias, como por exemplo, A GUERRA DOS DEUSES, no qual não se contentou apenas em contar a história, mas passou seu conhecimento sobre a mitológica Nórdica e isso era importante, isso ajudava a absolver melhor ainda a história assim que o OVA era assistido. De forma igual, claro, o próprio anime favorecia que descobríssemos um novo universo por causa do embasamento mitológico. A edição em questão, comprei com o único dinheiro que meu avô me deu, não que eu quisesse que ele ficasse me dando grana, mas este nunca sentiu afeto por mim, na verdade, espancava minha mãe quando ela era criança, então, o ato dele foi inesperado.

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Era costume do menino, levar para a escola as suas revistas por que gostava de ler durante os momentos que não havia o que fazer e por que os amigos pediam para ver; e numa dessas ocasiões, sentiu-se triste. Um “amiguinho” seu pegou emprestado sem ordem; e a professora viu o que fez com que esta recolhesse a revista, com o SHUN na Crevista2bheroi-2b50apa envolto por suas corrente [edição Nº 32], e não mais devolvesse. Algumas línguas disseram que esta chegou a dar para outro aluno de outra sala- isso apenas fez o menino perceber que o ser humano é realmente capaz de muitas maldades. Um dia o seu amigo, JONAS, um rapaz que sofria ás vezes de ataques epiléticos, apareceu com a edição Nº 50, 50 CAVALEIROS DO ZODÍACO, a qual o menino não tinha conseguido comprar- a mulher dona da banca na qual ele comprava e separava para ele as edições, não mais o fazia, infelizmente– e disse:eu troco pela edição com o Shun, no caso, a edição de Nº sete, porém, ele não poderia fazê-lo, era importante para ele e não tinha nada que pudesse trocar com o amigo, muito menos conseguiria comprar.

Quando pequenino o menino já começou a desenhar- quer dizer tentava, – desde que teve pela primeira vez, com uns quatro anos de idade, um gibi da TURMA DA MÔNICA e pôs na cabeça que seria desenhista. A vontade se fortaleceu com o anime dos CAVALEIROS DO ZODÍACO, aliás, com a HERÓI aprendeu o “termo certo” para desenhos nipônicos. A revista ajudava- o ter imagens para reproduzir no papel. Era sua forma de estudar- observação era o segredo da vida para o menino, não por acaso prestava atenção em cada folha das árvores, nuvens, gota de chuva. Pobre menino, não conseguia desenhar como queria, então não conseguiu participar do concurso que tinha como premissa a criação de uma versão do WOLVERINE, por isso, não encontraria com certeza, um desenho seu na edição de número 22, A EXPLOSÃO DOS QUADRINHOS, com as colocações dos desenhos escolhidos: ficou feliz pelos escolhidos, mas triste por sua própria incompetência.

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_ Finalistas

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_ Saudade do Quadrinhos Clássicos e Os 10 Mais

Os anos foram se passando, cada vez mais se interessando pelo ato de contar histórias. Os quadrinhos, desenhos/ animes, cinema, livros, jogos eram plataformas que descobrira através da revista que pode ajudar na criação, aliás, dar vida a mundos, personagens. Ele nunca encontrou uma matéria com ANIMAIS DO BOSQUE DOS VINTÉNS, e ficou muito triste com isso; porém, mais triste ainda ficou quando na escola, na sétima série do ensino fundamental, roubaram sua HERÓI, Nº 6, sua relíquia. Ficou muito mal por um bom tempo.  Essa edição havia o feito perceber o quanto era importante guardar suas aquisições- tanto que atualmente o menino tem uns três guarda-roupas repleto de livros, quadrinhos/ mangás, revistas…

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_ Na época também fiz vários desenhos em envelopes, mas nunca consegui enviar.

O tempo passando, o menino crescendo, tornando-se adolescente, envolvendo-se com a música, principalmente por causa da LEGIÃO URBANA, literatura e tudo o mais, já não encontrava a HERÓI, aparentemente havia cessado publicações, por isso perdeu o seu retorno, infelizmente.

Sempre na saudade.

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_ Artigo sobre a término da saga de Sandman

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Mas, o menino, já “homem feito”, pulou pelas paredes quando ficou sabendo que os responsáveis pela revista tinha a intenção de publicar um livro sobre ela, quebrou, então o teto, quando teve o livro em mãos.

HERÓI- A HISTÓRIA DA REVISTA QUE INSPIROU UMA GERAÇÃO.

o livro foi idealizado por ANDRÉ FORASTIERI e ARIANNE BROGINI, oo2blivro2bda2bher25c325b3i primeiro fundador da revista, a segunda a editora da HERÓI na época. Através do CATARSE-ME, em 2015, deram inicio a campanha, almejando R$ 25. 000, no entanto, arrecadaram R$ 44. 871. O que prova o quão importante à revista é para a cultura nerd, por assim dizer.

Não consegui apoiar na época do projeto, mas comprei a edição recentemente pela loja POPSTER- Por não ter conseguido participar dos extras deixei minhas história no post. O que posso dizer com certeza é que mais do que apenas um registro sobre a história da revista é como um túnel do tempo no qual a gente volta à aurora de nossas vidas, onde esperava pacientemente para assistir novo episódio de CAVALEIROS DO ZODÍACO, adquirir nova edição dos X-MEN pela EDITORA ABRIL, e principalmente, ler outra nova edição da HERÓI, a REVISTA MUTANTE. Nem preciso dizer o que a história do menino lá em cima é minha não é? Pois, é… O tempo passa. Ainda sofro de fobia social, mas a literatura, música, quadrinhos, animes, cinema, me ajudaram a enfrentar isso e conseguir conviver em sociedade. Os Tocs ainda existem, mas diminuíram muito, talvez o que se mantêm é o desejo de escrever sobre tudo o que penso. Eu descobri que assimilo melhor tudo o que leio quando escrevo sobre, esse é uns dos motivos para a criação desse blog, na verdade, mantenho blogs já tem uns 15 anos, porém, fui excluindo esse e aquele, ficando apenas com três: AL, CRÔNICAS DO LOBO INVERNAL e RASCUNHOS DO LOBO INVERNAL– mas, os dois últimos, pretendo mesclar num só. Com a revista HERÓI eu descobri o quão importante é passarmos adiante nosso conhecimento em determinado assunto seja por questão comercial, ou filantrópica. Por mais que eu tenha tido [tenha] meus problemas me sinto privilegiado por ter vivido uma época tão boa. Eu gostava dos artigos do MARCELO DEL GRECO, ODAIR BRAZ JÚNIOR, entre outros que colaboraram com a HERÓI, e serei eternamente grato à eles pelo momentos de descontração e conhecimento oferecido.

Ironicamente, dois anos atrás quando fui trabalhar em SAMPA como assistente de contra regra na peça O HOMEM, A BESTA E VIRTUDE, na volta para casa, numa banca em PINHEIROS, encontrei a revista Herói, Nº 6 com o IKKI. Fiquei, muito, mas muito feliz com isso. Em sebos também encontrei outros números, como a edição Nº 50, mencionada lá em cima. Aos poucos estou adquirindo os números que faltam em sebos; minha perseveram é encontrar todas. A fase pós HERÓI GOLD, eu só tenho uma revista, infelizmente, Nº 18, e tenho a HERÓI +.

Da mesma forma que o anime CAVALEIROS DO ZODÍACO foi o boom para a invasão dos animes no BRASIL, a revista HERÓI foi o boom para as revista focadas na cultura nerd- isso é inegável.

Algo que considerei bem interessante foi o momento na qual foi dito que eles optavam por um design repleto de poluição visual, que não gostavam de fundo branco como outras revistas e tals, e me identifiquei, aliás, compreendi por que quando crio blogs eles são um caos visual: a HERÓI é o cerne de meus valores, preferências visuais. Sou apaixonado por imagens, desde o P&B ao tom saturado.  Outra coisa bem legal é que, sendo eu admirador do escritor inglês, NEIL GAIMAN, encontro logo de cara uma foto deste no começo do livro… cool.

Se você, visitante do AL, como eu for um daqueles que acompanhavam a HERÓI, não pode perder a oportunidade de ter HERÓI- A HISTÓRIA DA REVISTA QUE INSPIROU UMA GERAÇÃO; mas mesmo você que não é dessa época, de qualquer forma, é um registro importante de ser ter nas prateleiras.

Eu sei que se for para descrever a importância da HERÓI em minha vida, talvez, conseguiria escrever um livro, por isso fico por aqui, no entanto, deixando registrado que, se mantenho um blog sobre cultura nerd- e cenário underground– isso se deve a existência da revista HERÓI em minha vida.

A revista Herói é realmente mutante!

 


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