Entrevista/ Octavio Cariello [Revista Heróis Do Futuro, Nº 01]

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Octavio Cariello- Na DC Comics, Págs.., 20-21.


Desde há muito eu gosto de histórias em quadrinhos, filmes, animações, principalmente animes. Eu faço parte do grupo de jovens que vivenciou a febre dos anos 90 das animações como Tartarugas Ninjas, X-Men, Homem- Aranha, entre outros, e da “Guerra dos Animes” na TV aberta, onde tivemos o boom os Cavaleiros Do Zodíaco que gerou o interesse das emissoras na aquisição de animações japonesas, oferecendo a oportunidade para os brasileiros assistirem animes como Dragon Ball, Shurato, Guerreiras Mágicas de Rayearth, Yu Yu Hakusho,Fly, Buck, entre outros.  Então, tal interesse nas animações e quadrinhos, normalmente gerava também curiosidades sobre o universo como um todo, por tal motivo, muito de nós comprávamos revistas especializadas sobre a cultura nerd nessa época pré-internet. Hoje em dia, a fonte de informações mais comum é a internet- apesar de ainda existir meios impressos especializados nesse ramo, lutando contra a banalização das informações e a superficialidade que existem em muitos artigos na rede, em muitos casos até com informações errôneas.

Muitas dessas revistas além dos artigos continham entrevistas com escritores, desenhistas, entre outros profissionais da cultura nerd, no entanto, “se perderam” no tempo, estando à disposição de alguns poucos que ainda guardam consigo essas publicações, como a Revista Herói/ Gold, Heróis Do Futuro, AnimaxUltra Jovem, entre outras. Eu tenho algumas revistas em minha coleção, então decidi postar aqui essas entrevistas como uma forma de registro de uma época.  Espero que gostem da iniciativa.


Transcrição da entrevista com Octavio Cariello- Na DC Comics

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_foto reprodução Pág.,20

Ele tentou estudar medicina, arquitetura, passou por grupos de teatro, pintou quadros para motéis e até foi professor de inglês. Mas estava escrito nas estrelas: Octavio Cariello sairia de Recife para ser um dos mais requisitados desenhistas dos Estados Unidos. Através do Estúdio ArtComix, que representa desenhistas brasileiros nos USA, publicou Rainha dos Condenados na Innovation. Blood Childe pela Milleniun e atualmente, já com representação própria, desenha para a D.C. Comics o personagem Black Lightining e Death Stroke. É fera entre as feras da D.C. E tudo começou com alguns cadernos de desenhos que sua mãe comprava quando Cariello ainda nem sabia ler. A equipe da Heróis Do Futuro invadiu o estúdio numa tarde chuvosa e caçou para seus leitores alguns pensamentos de Octavio Cariello. Saquem só:

Heróis Do Futuro Qual a data do seu nascimento?

Cariello- 25 de Fevereiro de 1963

H.F.- Qual a primeira revista que você leu?

C.- Comecei a ler com 5 anos de idade de livros a quadrinhos. Gostava muito do Tio Patinhas, Peninha, Asterix, Tin Tin e Pateta. De super-heróis consumia de Judoka (herói brasileiro) a Tarzan.

H.F. – Qual o herói atual que você mais gosta?

C.- Infelizmente o Sandman. Digo infelizmente porque acabou.

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_imagem reprodução, Pág.. 20

H.F. – Qual o trabalho que você fez que mais curtiu?

C.- Os quadrinhos que produzi para fanzines, que são criação livre. Profissionalmente também curti o Black Lightining.

H.F. – Pessoa que mais gostaria de encontrar pra um bate-papo?

C.- Já encontrei- Neil Gaiman (Sandman)

H.F. – Quais superpoderes gostaria de ter?

C.- Telepatia (o dom de ler os pensamentos das pessoas) e Telecinese (o poder de mover os objetos sem tocá-los). Já imaginou enfrentar os seus inimigos e pensar– Que doam os seus ovos!!!

H.F. – E se tivesse os superpoderes dos seus personagens?

C.- O Black Lightining solta energia elétrica, o que me faria não gastar mais gás para fazer comida; o Death Stroke é um imortal, o que eu gostaria de ser; e os Vampiros que desenhei (Entrevista com o Vampiro que virou filme com Tom Cruise) sempre me fazem sentir um pouco vampiro também, já que costumo desenhar de madrugada.

H.F. – Já que falou em madrugada, qual o lanchinho preferido às duas da manhã?

C.- Alguma coisa doce com um belo milk-shake. Sou chocólatra.

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_imagens reprodução Pág., 21

H.F. – Qual seu hobby favorito?

C.- Impublicável! [risada] Brincadeira. Adoro ler quadrinhos e livros e gosto de

 dançar. (entrevista interrompida nesse momento pelo telefonema de Pat Garrahy, editor de

Cariello na D.C.).

 

H.F. – Qual a melhor fantasia que já vestiu?

C. – Há 15 anos atrás me vesti de punk na festa de um amigo.

H.F. – Um bom filme que assistiu ultimamente?

C.- Prêt- à- porter.

H.F. – Que pessoa você gostaria que fizesse seu papel numa filme sobre sua vida?

C.- Richard Dreyfuss (risada).


Outras entrevistas registradas no AnarkiALiterária:

Dossiê: Neil Gaiman/ entrevista realizada por Jeffrey Goldsmith [HEAVY METAL-Nº 21-Ano 3]
NEIL GAIMAN: O escritor de SANDMAN entrevistado [Revista PANACEA Nº 38- Ano V]
Marvel 1602: Uma viagem aos tempos medievais [entrevista rápida com Neil Gaiman na revista Wizard Brasil Nº 03

NOTAS:

  • Resumo de vida e obra de Octavio Cariello (fonte/texto:Wikipédia)

Octavio Cariello (Recife, 1963) é um ilustrador, escritor e roteirista de história em quadrinhos brasileiro. Foi um dos fundadores da escola de artes Quanta Academia, ao lado de Marcelo Campos. É irmão de outro quadrinhista famoso, Sergio Cariello.
CARREIRA
Começou a desenhar histórias em quadrinhos profissionalmente em 1981. Colaborou com a revista Semanário, recriando o personagem O Amigo da Onça, do ilustrador Péricles, sob roteiro de Jal. Inferno, publicada na revista Metal Pesado, lhe rendeu o Troféu HQ Mix de melhor desenhista brasileiro de 1992. Publicou também na revista Animal.
É autor de várias histórias em quadrinhos publicadas nos Estados Unidos, entre elas as da série The Queen of the Damned (Innovation), Lovecraft (Malibu e Caliber Press) e Bloodchilde (Millenium). Para a DC Comics, desenhou aventuras dos personagens Death Stroke, Lanterna Verde e Black Lightning. Pela Marvel, publicou Logan: Shadow Society (do personagem Wolverine). No Brasil, desenhou ainda histórias em quadrinhos de publicação independente, como Quebra-Queixo, e o Homem Cueca. Escreveu um dos contos de terror que integra a coletânea O livro negro dos vampiros, publicada em 2007. Editou a coletânea de contos Alterego, publicada em 2009, e escreveu o romance Tueris, publicado em 2012. Cariello ilustrou a versão em histórias em quadrinhos da peça Rei Lear de William Shakespeare, sob roteiro de Jozz. Publicada em 2013. Foi o roteirista do álbum de histórias em quadrinhos Portais, publicado em 2014, ilustrado por Pietro Antognioni. Entre seus trabalhos como ilustrador estão seus desenhos para álbuns de figurinhas, como os dos grupos Casseta e Planeta e Mamonas Assassinas.

  • O Estúdio Art & Comics, era responsável pelo agenciamento de vários desenhistas de quadrinhos no exterior, surgida em 1996, mas que após o término de atividades e algumas outras formações, se tornou a Editora Mythos.
  • Raio Negro (Black Lightning no original) é um super-herói com poderes elétricos, criado por Tony Isabella e Trevor Von Eden para DC Comics, em 1977 (fonte: Wikipédia).

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  • O Exterminador (Deathstroke em inglês) também conhecido como Slade é um personagem fictício criado pela editora norte-americana DC Comics nas mãos de Marv Wolfman e George Pérez e sua primeira aparição foi em New Teen Titans (vol. 1) #2 em dezembro de 1980. A Wizard Magazine o classificou como o 84° maior vilão de todos os tempos (fonte: Wikipédia).

 

BATMAN NINJA / O homem-morcego em novo anime da Warner Bros

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netfontes_arek_is_so_grungey_logois, que “vagando” pelo facebook, encontro uma postagem do jovemnerd.com.br, noticiando que Batman terá um anime, intitulado Batman Ninja, numa história que se passará no Japão feudal. Pois, bem, eu me empolguei porque quando vi o trailer me agradou os traços do Takashi Okazaki, desenhista da animação, sendo este bem diferente da forma que Yoshinori Natsume retratou o personagem na sua obra Batman: A Máscara da Morte, o qual deixou o traço muito mais próximo do comics do que mangá. Segundo o site em questão, a trama terá o Gorila Grodd como um senhor feudal, e o Coringa, como sempre, fazendo seu papel de arqui-inimigo do homem-morcego. Ainda pegando o gancho do Coringa, este recruta outros vilões do universo DC Comics, como, por exemplo, Era Venenosa e Arlequina, em contra partida, Batman busca ajuda de alguns velhos amigos, como, Mulher Gato e Asa Noturna.

Algo que não compreendo é porque sendo Batman Ninja temos um Batman samurai nas cenas… Mas, de qualquer forma os traços estão animais.


TRAILER:


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_esse Coringa, apesar de meio estranho, ficou maneiro no traço

Análise Hellblazer- Universo DC Renascimento: volume 01

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“Todos têm um passado. Todos têm lugares que preferem não visitar, mesmo em nossa memória”Mercury.


netfontes_arek_is_so_grungey_logois, que apesar de toda dificuldade financeira, não resisto e trago pra casa, depois da visita de cada dia na banca perto de casa, HELLBLAZER do Universo DC Renascimento. Como muitos já sabem John Constantine, saiu do Selo Vertigo em 2013 e rumou para o selo normal da DC Comics, ou seja, onde temos há tantos anos o Superman, Lanterna Verde e tantos outros heróis tradicionais.  No entanto, essa decisão da editora não foi muito bem recebida pelos aficionados pelo personagem, e não pra menos, afinal de contas, termos um John Constantine, “agindo” como um herói comum (aliás, podemos defini-lo como herói?), de certa forma se atendo as regras dos uniformizados, não é algo muito prazeroso de ser ler.

Bom, quanto a minha opinião sobre essa mudança de selo do personagem, eu não sou tão conservador (seria esse o adjetivo correto?), porém, com certeza prefiro as origens onde tínhamos um maluco cheio de demônios dentro de si, ironicamente, enfrentando mil e um demônios pela face da terra (ou outras realidades), consequentemente vendo algumas pessoas morrerem por sua ligação com ele (ou estarem no local errado, na hora errada) ou, ás vezes, salvando outras. Não. John Constantine não é um herói, ás vezes são as circunstâncias que o fazem ser um.  Constantine é um sacana com coração de ouro, extremante egoísta: paradoxal, não?

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Monstro do Pântano e Mercury


Hellblazer- Renascimento DC- volume 01, compila a edição Hellblazer: Rebirth e The Hellblazer 1-6. Escrito por Simon Oliver, contendo desenhos de Moritat, Pia Guerra e José Marzán.


Na história John Constantine decide voltar para o seu país natal, Inglaterra, no entanto, precisa dar fim a uma maldição que poderia condenar a sua alma ou a alma de outros cidadãos de Londres.  Durante o seu processo de readaptação, afinal de contas, não tem mais casa, se aproveita da bondade do seu velho amigo Chas Chandler para tal intento, mas uma nova ameaça aparece e com a ajuda do Monstro do Pântano e de Mercury, uma garota com habilidades psíquicas, buscam uma forma de superar esse novo mal.

Esse inicio de Hellblazer na DC – Renascimento não é de todo ruim, quer dizer, temos um John Constantine similar aquele que conhecemos na Vertigo, mais precisamente da fase Peter Milligan, com um Constantine “menos” melancólico e sombrio e um tanto bem humorado, no entanto, ainda sim, está muito heroico para o sacana que conhecemos que não sairia querendo salvar o mundo assim sem pensar duas (quinhentas) vezes se vale a 01pena ou não. Não posso falar muito sobre o roteiro por que por ser um lançamento, os spoilers seriam terríveis (creio eu), mas digo que fiquei feliz em ter ali o Monstro do Pântano e Constantine em suas parcerias conflituosas, e também a aparição de Mercury que deu as caras pela primeira vez no arco A Máquina do Medo. Infelizmente, a arte não combina com o universo ficcional de Hellblazer, visto que está muito limpa, e nada visceral como já foi um dia, afora a capa que escolheram que ficou bem sem graça (irônico que temos uma capa variante em Hellblazer 1 com John Cassady e Paul Mounts que ficaria bem melhor).

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Capa Variante de Hellblazer I

De qualquer forma, valeu a pena ter trazido pra casa esse volume, afinal de contas, comprei sem muita expectativa de ter um roteiro de “explodir a cabeça” e temos bons diálogos- normalmente, são os diálogos que importam bastante nas histórias.

É um novo pesadelo Londrino, não tão pesadelo assim, mas vou continuar a acompanhar. Hellblazer é Hellblazer no fim das contas.

 

A MAGNIFICA ARTE DIGITAL DO ARTISTA FILIPINO WIZYAKUZA

 


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Netfontes_hydrogen_Logorequentemente me impressiono quando com meu “barquinho solitário” remo pelas “águas virtuais” e me deparo com o trabalho de alguns artistas, no caso, durante a “viagem” de hoje, isso aconteceu em relação à belíssima arte digital de CEASAR IAN P. MUYUELA AKA WIZYAKUZA, que simplesmente assina suas criações como WIZYAKUZA.

WIZYAKUZA faz releituras de vários personagens da cultura nerd, principalmente do universo DC/ Marvel Comics e dos Mangás, porém também daqueles derivados de Games e Filmes. É notável que o artista opta por um tom dark, por assim disser, em suas ilustrações.

Personagens De Comics:

 

ALGUMAS OUTRAS:

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SITES DO ARTISTA: tumblr/ deviantart/ pinterest/ loja Virtual


Página do Facebook:

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LIGA DA JUSTIÇA DA AMÉRICA- OS MELHORES DO MUNDO: MESTRE DOS SONHOS #26 [GRANT MORRISON/ HOWARD PORTER]


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Estamos em um sonho que a criatura construiu como campo de concentração. Que tipo de regras se aplicam?”- Superman

Você veio com um manual de instruções para o mundo desperto, Super- Homem? Você já esteve aqui antes.”- Daniel [Sandman]


SINOPSE: “Numa noite, todos os habitantes do planeta Terra caem em sono profundo, exceto a Liga da Justiça. Em meio ao salvamento de carros, aviões e navios desgovernados, os heróis recebem uma surpreendente visita na Torre de Vigilância: Sandman! Indiferente aos questionamentos cada vez maiores dos heróis, o Mestre dos Sonhos alerta à Liga que, para libertar o mundo, será preciso salvar uma criança, cuja vida corre perigo em nome… da Coisa!” Guia Dos Quadrinhos.


Quando li ENTES PERPÉTUOS: O UNIVERSO ONÍRICO DE NEIL GAIMAN, de HEITOR PITOMBO, descobri sobre a aparição de DANIEL, considerado o filho de MORFEUS por ter nascido no REINO DOS SONHOS, que assumiu o cargo após sua morte, numa história escrita por GRANT MORRISON. Claro, como leitor aficionado por SANDMAN– e criações de NEIL GAIMAN– queria muito lê-la, mas infelizmente demorei um tanto para encontra-la, o fazendo há pouco tempo, tendo lido apenas nessa noite de chuva.

“… PERCHANCE TO DREAM” é o título de JUSTICE LEAGUE786659-jla22 OF AMERICA #22, no qual DANIEL “dá as caras”, se formos traduzir ao pé da letra, seria algo como “… talvez, sonhar”, no caso, o termo, Perchance, não é muito utilizado, segundo um amigo meu, era bastante difundido no inglês arcaico, comum na época de SHAKESPEARE. Digo isso por que, logo pelo título, já podemos ter noção da forma que GRANT MORRISON trata suas narrativas.

No Brasil, o título foi traduzido como MESTRE DOS SONHOS, obviamente para existir uma referência mais explícita ao personagem ícone do selo VERTIGO, SANDMAN. A edição #26, da LIGA DA JUSTIÇA DA AMÉRICA: OS MELHORES DO MUNDO, publicada pela EDITORA ABRIL, em 1999, contêm três historias: a primeira delas, O FIM DE UMA ERA, equivalente a edição # 562 de ADVENTURES OF SUPERMAN, a segunda, A COISA, edição JLA # 22, a terceira, CONQUISTADORES, continuação direta da segunda história, edição JLA #23.

O FIM DE UMA ERA possui o argumento de KARL KESEL e JERRY ORDWAY, desenhos de TOM GRUMMETT, e, basicamente, mostra as consequências da compra de LEX LUTHOR DO PLANETA DIÁRIO, mudando o nome para LEXCOM; e a fuga de MIKE “METRALHADORA” GUNN, da U.C.E., com a ajuda da INCENDIÁRIA, que são impedidos pelo Homem de Aço.

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Como todos sabem quando SANDMAN começou a ser publicado, no caso, a releitura de GAIMAN, o personagem ainda fazia parte do selo DC Comics, no entanto, a partir do momento que começaram  a surgir histórias com teor mais sombrio, incluindo SANDMAN, como, por exemplo, a releitura do MONSTRO DO PÂNTANO por ALAN MOORE, a editora acabou criando o selo adulto VERTIGO, porém mesmo que GAIMAN tivesse se distanciado um pouco do universo DC, durante a narrativa da trajetória do REI DOS SONHOS, este nunca chegou a se distanciar completamente, colocando, a título de exemplo, a aparição de SUPERMAN e BATMAN, durante o funeral de MORFEUS, em SANDMAN: O DESPERTAR. Por isso sempre existirá a possibilidade dos escritores utilizarem os personagens criados por GAIMAN, no universo “normal” da DC Comics, mesmo que o escritor inglês não queira que isso aconteça. Até onde tenho ciência, existe um acordo de NEIL GAIMAN com a editora, de que, mesmo que a DC seja dona do personagem MORFEUS, apesar do escritor ter reinventado o personagem, tornando o totalmente diferente de WESLEY DODDS, SANDMAN da Era de ouro dos quadrinhos, esta não permitirá a utilização do personagem por outro escritor sem seu consentimento, no entanto, o seu substituto, DANIEL, não faz parte do acordo, ou seja, este pode ser utilizado. Pelo o que andei pesquisando, GAIMAN não era de acordo que GRANT MORRISON, usasse DANIEL nessa história, mas não pôde impedir. De qualquer forma, DANIEL, após essa aparição parece ter sido esquecido.

A APARIÇÃO DE DANIEL NA TORRE DA VIGILÂNCIA:


gears-of-war-skull-2WARNING: Contêm Spoilers


Algo está erLiga das justiça da américa- mestre dos sonhos-03rado”, um menino vagando pelas ruas, de nome MICHAEL HANEY, reflete sobre isso, ele não sabe exatamente o que é, mas novamente, após entrar em sua casa, repete em sua mente: “Algo está errado”. Parece uma noite como qualquer outra, envolto em sombras, a lua brilhante no céu, e alguma coisa espreitando, vigiando as pessoas, vigiando o menino… Esperando. Enquanto isso, talvez, do outro lado da cidade, SUPERMAN é convocado por AJAX, O MARCIANO, que diz que as pessoas estão começando a cair num sono profundo, algo está totalmente errado, SUPERMAN ruma, então, para a TORRE DA VIGILÂNCIA.

MICHAEL HANEY, por sua vez, agora está no Reino dos Sonhos, adormeceu depois de fazer alguns desenhos em sua solidão, no quarto.

Na torre, DALJA- Mestre dos sonhos-04NIEL, o novo SANDMAN, está à espera de todos os heróis, segundo, o anjo renegado, ZAURIEL, o perpétuo é uma forma abstrata, as máquinas revelam isso.  “É mais antigo do que pensa. Espreitou o mundo e agora ataca. Primeiro, conquista nos sonhos. Depois na realidade”, diz, DANIEL, quando indagado por SUPERMAN sobre o que seria a presença alienígena que possivelmente está causando o sono repentino dos cidadãos. DANIEL também revela, entre um e outro signo em sua linguagem metafisica, que uma criança clama pela ajuda d’OS MELHORES DO MUNDO, e esta está no plano onírico, lugar que os heróis devem ir, agindo de acordo com a do menino.

MICHAEL HANEY, continua no seu quarto, mas diferente de antes, no plano onírico, sendo tentado pelo alienígena, pela COISA.

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A COISA, no sonho, domina a mente das pessoas, divide suas emoções, interfere na sua vontade de potência, deseja torna-las suas marionetes, Zumbifica -las, enquanto, HANEY, procura por um nome, não, mais que isso, procura superar o niilismo, auxiliado pelo mensageiro DANIEL, o SENHOR DOS SONHOS, que mostra o desenho feito por HANEY, antes de adormecer: o SUPER- HOMEM, essa é a salvação da perda da razão, perda dos sentidos, ele precisa tornar-se o Super Homem do filosofo, NIETZSCHE.

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Durante esse meio tempo, os heróis: SUPERMAN, MULHER MARAVILHA, LANTERNA VERDE [KYLE RAYNER] vagam pelos sonhos a procura do menino perdido, o menino que deposita fé nos potencial dos heróis. “Por que você sempre exita? Jordan, que usou o anel mágico antes de você… afeta todas as suas ações” afirma, DANIEL, quando, KYLE, demonstrasse inseguro, sem saber o que fazer, nem aonde ir. O LANTERNA VERDE, novamente, demonstra insegurança quando age de acordo com sua vaidade, mesmo admirando HAL JORDAN, e diz que todos consideram JORDAN, o antigo portador do anel, como o melhor Lanterna de todos, porém DANIEL, afirma que KYLE, sabe algo que JORDAN nunca aprendeu: sentir medo. A coragem pode, em muitos casos, gerar arrogância, favorecer a fúria, enquanto o medo, quando superado, consegue tornar- o individuo virtuoso, digno, capaz de se sacrificar por um ideal.

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As duas passagens são extremamente importantes na narrativa por que, ao mesmo tempo em que, DANIEL está com os heróis, também está com HANEY, e após mostrar esses dois pontos de vistas, uma consciência onírica reflete: “Mas é só imaginação. Todos dizem que ele tem isso de sobra. Que ele é estranho. Ela sabe”.

Por um lado, o individuo deve se aperfeiçoar, potencializar sua própria personalidade, buscar sua própria felicidade, e não a felicidade coletiva, antes de pensar na sociedade, tornar-se o Super Homem; por outro, o indivíduo deve vencer o medo, seguir em frente, ser capaz de ajudar, amar o próximo, buscar a paz coletiva– o Lanterna Verde é o signo para isso. Mas: “A voz do pai é grossa e engraçada, como se ele falasse com gelatina na boca. Como duas vozes ao mesmo tempo. Talvez seja só imaginação.”, prossegue a voz onírica.

A entidade alienígena, segundo, AQUAMAN: “A Coisa… está livre… divide… e invade (…) ela é mais velha que o tempo (…) ela divide e conquista.”, no entanto, quando a vontade de potência do menino, HANEY, aliada a convicção dos heróis no sonho; e o esforço dos membros da LJA despertos, a COISA é derrotada, seu sonho deixa de ser palpável, e o conquistador descobre que acima do lobo no riacho que devorou a ovelha que, supostamente, sujou sua água, existe outro lobo mais feroz acima, espreitando, capaz de devorá-lo.

“Nas mansões ilimitadas do rei das histórias um sonho termina”

CONSIDERAÇÕES:

Toda a narrativa de MORRISON é repleta de simbolismo, começando pelo designo da entidade alienígena: A COISA. É bem provável que ela seja da mesma raça de STARRO, O CONQUISTADOR ESTELAR, que apareceu pela primeira vez na história, THE BRAVE AND THE BOLD #28, em 1960, porém isso não é claro, MORRISON, nos deixa na duvida, afinal de contas, mesmo tendo as mesmas particularidades, STARRO, é roxo, ao passo que, A COISA é verde, de tamanho descomunal. Importante frisar que o nome do segundo capítulo é CONQUISTADORES, e tem duplo sentido: tanto pode remeter e especificar que a COISA é descendente de STARRO; quanto é o símbolo “Nietzschiniano” para o Super Homem, do filosofo, tendo como base HANEY e os membros da LIGA DA JUSTIÇA DA AMÉRICA.  A denominação COISA também remete a especulações metafísicas , por exemplo, se alguém pegar uma pedra, puser em cima de uma mesa, em seguida com uma marreta dividi-la no meio, o resultado será: duas pedras, ou uma pedra partida em dois pedaços? Ou seja, quantas coisas serão? O que é uma coisa? Definimos as coisas por suas propriedades individuais, ou como um todo?

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_“Cuidado com a coisa, coisando por aí, a coisa sempre coisa, também coisa por aqui… Sucesso e seu resgate envenena sua atenção”Marcianos Invadem a Terra [Legião Urbana]

MORRISON, não por acaso, quis usar DANIEL em sua história; em A TEMPESTADE, SHAKESPEARE, versa o seguinte: “Somos feitos da matéria de que são tecidos os sonhos e a nossa vida tão curta tem por fronteira um sono”, ou seja, todas as informações que temos em relação ao universo como um todo, são representações de nossa mente, então como é possível provar a existência de uma realidade? Quando pensamos em alguma Coisa, prontamente vem à mente o contrário de Nada, mesmo que não tenhamos a imagem delineada de objeto, ou ser vivo, LJA- Mestre dos sonhos-10algum. Durante o período de sono, e consequentemente sonhos por mais que haja nossa interação, tudo sempre remete a névoas, e muito do que vivemos empiricamente nesse momento, ao acordarmos cai no esquecimento. Quando KYLE acredita já ter despertado do sonho, diz que pode então fazer o que quiser; é possível se libertar das representações das crenças? O conceito, de superação individual e transcendência além da estrutura e contexto, de NIETZSCHE, aparece nesse momento da narrativa.

Usar a COISA como um conceito filosófico de nossa definição <Não definição> da realidade; e DANIEL como a representação abstrata das ideias, analogando, tanto com conceitos de NIETZSCHE; quanto com o MITO DA CAVERNA do filósofo grego, PLATÃO, foi uma “sacada” extremamente filosófica, praticamente irônica, de certa forma.

A história é capaz de oferecer várias interpretações seguindo a premissa entre especulações da realidade e dos sonhos; MORRISON conseguiu em poucas páginas fazer jus ao personagem <conceito> “criado” por NEIL GAIMAN. A arte de HOWARD PORTER é caprichada, principalmente nos quadros com DANIEL.

“Ela teme o que sabe. Ela sabe o que todos os conquistadores descobrem: sempre há alguém maior que você”

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

http://www.guiadosquadrinhos.com/edicao/melhores-do-mundo-os-n-26/mmu0302/7248

http://observationdeck.kinja.com/a-history-of-dc-crossovers-the-sandman-1708127365

https://pt.wikipedia.org/wiki/Kyle_Rayner


LIGA DA JUSTIÇA: TORRE DE BABEL [MARK WAID/ DAN CURTIS JOHNSON/ HOWARD PORTER/ PLABO RAIMONDI/ STEVE SCOTT…]

 

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Quantas vezes você sonhou em ouvir  a voz de seu pai de novo? Ou sentir o toque de e sua mãe?Ra’s al Ghul!.

Ou ser digno da memória deles?”- Batman.


SINOPSE: “Os arquivos secretos de Batman sobre a Liga da Justiça caíram nas mãos do seu mais antigo e mortal inimigo: Ra’s al Ghul! Agora, Superman, Mulher Maravilha, Aquaman, Caçador de Marte, Lanterna Verde e Flash estão sendo levados a armadilhas especificamente projetadas para se opor às suas notáveis habilidades. Será que a Liga da Justiça sobreviverá? E se sobreviver, será capaz de perdoar Batman por esta terrível traição?”.


Então, a humanidade agindo de acordo com sua vaidade desmedida começa a construir uma torre que conseguiria chegar até os Deuses, no entanto, Javé, de acordo com o Velho Testamento, derruba com sua onipotência a construção egocêntrica, e para garantir que sua vontade seja satisfeita, no caso, de que descendentes de Noé se espalhassem pelo mundo, o habitassem, não se agrupando em um único lugar, também mistura as línguas criando assim a possível origem para os idiomas diferentes que tecem a civilização.

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LIGA DA JUSTIÇA: TORRE DE BABEL [JLA TOWER OF BABEL] mantem como premissa essa alegoria bíblica, no caso da minissérie de MARK WAID e DAN CURTIS JOHNSON, a Torre, construída e mantida em segredo na Antártica por RA’S AL GHUL, é capaz de interferir no processo de decodificação do cérebro que garante a possibilidade de compreender sinais e sons, causando assim, no começo, a impossibilidade da humanidade de compreender a linguagem tanto escrita quanto de sinais, e depois de um tempo, também afetando a linguagem falada, que por consequência causa o caos e a eminência de guerra, muito provavelmente chegando a nível bélico. A ironia alegórica está no fato de que a humanidade classifica os seres vivos da natureza- ou “não” vivos, se incluirmos os vírus– criando uma torre <Pirâmide>, por assim dizer, dividindo em gêneros, que são dividias em famílias, e assim em diante, culminando nos reinos, e por existir a necessidade da cadeia alimentar os humanos decidem quais os seres vivos, seja animal, vegetal… Que devem ser sacrificados para garantir a existência da espécie, ou seja, a raça humana. Por tanto tal fator em consequência afeta a natureza porque o homem não sente necessidades apenas fisiológicas, mas também de outros itens que, por exemplo, fazem parte da Hierarquia de necessidades de Maslow, teoria cunhada pelo psicólogo americano, MASLOW, como a necessidade de segurança, o que exige moradias, por isso quantas florestas já não foram devastadas para existir grandes metrópoles? A natureza, então há muito tem sofrido pela intervenção do homem; no universo DC COMICS, esse egoísmo perturba o vilão, RA’S AL GHUL, que prevê uma catástrofe ambiental sem precedentes se a condição humana continuar na mesma, por isso, construiu a TORRE DE BABEL: diminuir a quantidade de seres humanos no mundo, facilitando assim o controle sobre eles. RA’S AL GHUL, não é movido por motivos egoístas, na verdade ele quer salvar a natureza, porém como alguns psicopatas, este tem sua própria noção de justiça, ignorando a injustiça em seus próprios atos.

Torre de Babel 03

Para concretizar o seu plano, sabia que precisava tirar de cena os heróis mais poderosos que protegem a Terra: AQUAMAN, FLASH, SUPERMAN, CAÇADOR DE MARTE,MULHER MARAVILHA, LANTERNA VERDE [KYLE], HOMEM BORRACHA, BATMAN, ou seja, a LIGA DA JUSTIÇA,  consegue tal intento com a ajuda do próprio BATMAN que, no seu calculismo, têm estudado todos os seus amigos de equipe para ter meios de imobiliza-los, caso sejam dominados por alguma entidade- como já aconteceu no passado, o caso Agamenon, no qual a LJA foi dominado e causou temor nos terráqueos, – e mantinha, na TORRE DA VIGILÂNCIA, registros especificando esses métodos. Roubando, por intermédio da filha, TALIA, esses arquivos, e distraindo o homem-morcego com uma das poucas formas que podem afetá-lo emocionalmente, aos poucos RA’S AL GHUL consegue conter os heróis, auxilado por sua LIGA DAS SOMBRAS, e inicia seu plano de redução da superpopulação e possível controle sobre os restantes.

A ironia é o mote da história, a analogia com o evento bíblico, no entanto, o cerne do conflito, está na forma que os personagens, sejam os heróis, sejam vilões, reagem a precaução de BRUCE WAYNE. E claro, não apenas os conflitos internos dos personagens vão sendo desenvolvidos durante a trama em relação ao ato, talvez, traiçoeiro, mas somos convidados a entrar nesse questionamento e assim, talvez, chegarmos as nossas próprias conclusões.

Durante o pano de fundo da história, essa questão das pessoas não conseguirem compreender umas as outras, podendo causar uma guerra que dizimaria a humanidade, me incomodou um pouco por que num mundo na qual não existem apenas os heróis membros da LIGA DA JUSTIÇA, o evento carrega em si a temática das minisséries que envolvem a vida de todos os personagens como, por exemplo, FIM DOS TEMPOS, porém durante a trama nenhum personagem, além daqueles da LJA, aparecem- eu considero isso um tanto inverossímil.

Quanto aos desenhos, estes são bem detalhados, cumprem bem o papel, apenas, em alguns casos, incomoda o exagero nas expressões dos personagens.

Torre de Babel 04

_As expressões tanto podem não incomodar o leitor quanto podem deixar incomodado a níveis apocalíticos.

Mesmo que exista um ou outro pequeno detalhe que incomoda, a minissérie, não por acaso, é uma das mais lembradas pelos aficionados pelo universo DC Comics, e realmente não poderia deixar de fazer parte da linha DC COMICS COLEÇÃO DE GRAPHICS NOVELS da EAGLEMOSS: COLLECTIONS.

LJA- Torre de Babel 02A edição da EAGLEMOSS, VOLUME 4, contêm a primeira aparição da LIGA DA JUSTIÇA DA AMÉRICA na história: STARRO, O CONQUISTADOR, na qual enfrentam o vilão STARRO, vindo do espaço sideral, capaz de tornar gigantes as estrelas do mar, tornando-as suas subordinadas- aliás, a própria aparência de Starro é de uma estrela do mar, -intencionando dominar o universo, começando pelo planeta Terra. Os extras são galerias de capas, informações sobre a origem da LJA, descrição dos eventos que culminaram em Torre de BABR-057-017gabel.


O arco no Brasil, anteriormente saiu pela EDITORA ABRIL, na linha SUPERMAN– SUPER-HERÓIS PREMIUM, Nº 17, em 2001/ SUPERMAN- SUPER-HERÓIS PREMIUM, Nº 21, em 2002.



LIGA DA JUSTIÇA: A LEGIÃO DO MAL [JUSTICE LEAGUE: DOOM] é uma animação de 2012, dirigida por LAUREN MONTGOMERY, que adaptou livremente TORRE DE BABEL, mudando vários detalhes, princip22almente o responsável pelo roubo das informações confidencias do BATMAN, no caso, ao invés de TALIA, é o vilão SAVAGE.

TRAILER:

Torre de Babel 07


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Liga_da_Justi%C3%A7a:_Torre_de_Babel

http://www.guiadosquadrinhos.com/edicao/superman-1-serie-n-17/sm00301/8171


NEIL GAIMAN: O escritor de SANDMAN entrevistado [Revista PANACEA Nº 38- Ano V]


Panaceia 19

Arevista Panacea surgiu numa época na qual a internet começou a dar seus primeiros passos, e a importância do registro dessa entrevista está no fato de que nos mostra um Neil Gaiman um tanto diferente do qual o conhecemos atualmente. É visível  [de acordo com entrevista] que naquela época Gaiman, como a maioria dos escritores [de quadrinhos] não nutria muito interesse pelo cinema, diferente de agora que procura se envolver com 7ª arte e já teve alguns roteiros filmados/ adaptados. O Gaiman da entrevista é o escritor pós Sandman, buscando seu lugar no mundo dos quadrinhos, e ainda não tinha escrito seu primeiro romance solo Lugar Nenhum, e muito menos Deuses Americanos.

Sem delongas, bom, eis a transcrição dessa entrevista da revista PANACEA Nº 38 [MARÇO/ ABRIL/ 1996]- espero que gostem.


Panaceia 16- F

Esta entrevista se deu por e-mail, uma das muitas coisas, extremamente úteis que a internet pode oferecer, e que será uma mão na roda em muito pouco tempo [se o governo brasileiro não fizer muita besteira]. O inconveniente é que ela se assemelha a uma entrevista por fax ou por carta porque é uma entrevista por carta. Só que mais dinâmica e mais barata. O resultado é que as perguntas foram feitas, respondidas, e novas perguntas feitas em cima das respostas, mas sem ter a linguagem corporal e o modo de falar, a entonação e as ênfases do entrevistado, que ajudam sobremaneira na condução de uma boa entrevista. Outro grande problema foi a falta de tempo, que acabou me forçando a concentrar as perguntas e assim, ser obrigado a escrever o que faltou. Aí está, este misto de matéria e Entrevista. Mais entrevistas nesse estilo [com artistas estrangeiros] já estão pautadas. Aproveitem porque é só na Panaceia


Panaceia 02

Neil Gaiman é inglês. Ou britânico, depende sobre o que você quer falar.

Na infância, foi um pequeno rato de biblioteca. Leu muito. Tanto, que resolveu que seria escritor. De livros. Mas Gaiman também lia muitos quadrinhos [as histórias de KIRBY chegavam à Inglaterra com um certo atraso, o que fez com que Gaiman as lesse quase todas].

Depois de trabalhar como crítico “cultural” em jornais e revistas Ingleses, resolveu que seria escritor. De quadrinhos. E assim o fez. E fez bem: após a sua estréia, em VIOLENT CASES, foi atrás dos editores da DC- que se encontravam em Londres “caçando cabeças” -, acompanhado de DAVE MCKEAN, e fechou negócio para a produção da minissérie ORQUÍDEA NEGRA. Um pouco depois, Gaiman foi contatado pela editora KAREN BERGER para começar a escrever um título mensal. Nasceu SANDMAN, e Gaiman mudou-se para os EUA.

KAZI: Qual a sua idade?

GAIMAN: 34.

KAZI: Você tem curso superior?

GAIMAN: Não.

KAZI: Por que você mudou para os Estados Unidos? Por causa do trabalho na DC? Você está feliz aí?

GAIMAN: Eu mudei porque minha esposa é americana, e a família dela Panaceia 03queria ver as crianças. Estou feliz, apesar de sentir muitas saudades da Inglaterra.

KAZI: Você vive nos EUA com sua mulher e filhos? Quantos anos têm seus filhos? Eles lêem seus quadrinhos?

GAIMAN: Sim. Eles têm 11 e 9. Meu filho, MICHAEL, gosta dos trabalhos que eu fiz para o SPAWN [quadrinho de TODD MCFARLANE, publicado pela IMAGE, editora do próprio Todd].

KAZI: Quais são as diferenças básicas entre os quadrinhos americanos e os quadrinhos ingleses?

GAIMAN: A maioria dos quadrinhos ingleses são antologias semanais.

KAZI: Você sempre escreveu o que gostaria de ler?

GAIMAN: Sempre. Há muito tempo eu escrevi um livro que eu não leria, por dinheiro. Depois que ele foi publicado eu decidi que nunca mais faria isso.

KAZI: Quais são seus escritores de quadrinhos preferidos?

GAIMAN: ALAN MOORE, DAVE SIM, CHESTER BROWN, GILBERT HERNANDEZ, WILL EISNER, JEFF SMITH…

KAZI: Você acha que essa onda de escritores de quadrinhos “autobiográficos” como HARVEY PEKAR [AMERICAN SPLENDOR], CHESTER BROWN [YUMMY FUR, UNDERWATER] ou mesmo PETER BAGGE [HATE] é um avanço na linguagem dos quadrinhos?

GAIMAN: Eu acho que qualquer aumento no número de gêneros e assuntos nos quadrinhos é sempre um avanço.

KAZI: Alan Moore é um escritor esplêndido, e a maioria dos escritores de quadrinhos da DC ou da MARVEL [bem, não tanto dessa última] que perco meu tempo procurando são ingleses. Você acha que Moore foi de importância crucial pra “invasão inglesa” do mercado americano no início dos anos 90?

GAIMAN: Sem dúvida. Sem Alan nada disso teria acontecido.

KAZI: Certa vez você disse sobre o personagem SWOON, de CEREBUS [na verdade, você falou de seu autor, DAVE SIM]: “Ele consegue me imitar, ao menos em Sandman”. Num dos capítulos de “VIDAS BREVES”, enquanto SONHO e DESTRUIÇÃO, estão conversando, DELÍRIO está fazendo algumas “coisas”, e uma dessas coisas é… Cerebus. Foi uma homenagem sua ou de JILL THOMPSON [a desenhista]? O que você acha de Cerebus como quadrinhos literatura?

GAIMAN: Estava no roteiro. Eu acho que Cerebus se dá melhor como literatura quando tenta ser bom quadrinho do que quando tenta ser boa literatura.

KAZI: Você costumava desenhar quadrinhos. Você ainda desenha?

GAIMAN: Eu desenhei urna história chamada “BEING AN ACCOUNT OF THE LIFE OF THE EMPEROR HELIOGABOLUS”, que foi publicada naPanaceia 04 revista Cerebus 174 [acho].

KAZI: Você acha que a crítica de quadrinhos é um mal necessário? Pergunto isso porque, no Brasil, os críticos não têm formação: eles são fãs. Você acha que é necessário dar aos quadrinhos o status de arte?

GAIMAN: Eu acho que a crítica de qualidade [corno um todo, não apenas “apontar os erros”] é vital para qualquer meio. Mas não, não acho necessário dar aos quadrinhos o status de arte. Você produz trabalhos mais “vitais” se ninguém estiver olhando.

KAZI: Sua experiência como crítico de quadrinhos fez de você um melhor escritor de quadrinhos? Ou apenas fez com que você quisesse se tornar um escritor de quadrinhos?

GAIMAN: Eu nunca me vi corno um crítico muito bom, seja de literatura, cinema ou quadrinhos. Entretanto, conhecer bons críticos foi de grande ajuda – é bom ver as coisas pelos olhos deles.

KAZI: Onde você trabalhou como crítico de quadrinhos e cinema?

GAIMAN: Em várias revistas e jornais ingleses de 1983 a 1987. Eu também resenhava livros nessa época.

KAZI: Que tipo de filmes você gosta? Eu arriscaria dizer Fellilíí…

GAIMAN: Eu gosto de filmes difíceis. Acho FELLINI FASCINANTE, mas sua prioridade não são as histórias, mas as imagens e as pessoas, e eu tendo mais para as histórias. Cineastas que eu admiro: PETERPanaceia 05 GREENAWAY, JAN SVANK: Major, Bob Fosse e Terry Gilliam.

KAZI: Você já teve vontade de escrever e/ou dirigir um filme? Sobre O que ele seria?

GAIMAN: Às vezes, mas quando isso acontece tomo uma ducha fria ou dou um passeio longo até a vontade passar.

KAZI: Que tipo de música você gosta?

GAIMAN: Tudo. Atualmente estou gostando muito de JOHN CALE e CONLAN NANCARROW.

Panaceia 06VIOLENT CASES é tida como a entrada de Gaiman nos quadrinhos, mas a coisa não é bem assim. Gaiman trabalhou em diversas outras revistas na mesma época, com resultados pouco animadores. Não por si, nem pelo meio [médium], mas por ter constatado que o mercado poderia ser pior do que parecia. Hoje, Gaiman recebe convites aos montes para desenvolver projetos, mas falta-lhe tempo.

KAZI: Como foi sua experiência com a revista inglesa 2000 A.D., da EDITORA FLEETWAY?

GAIMAN: Não me impressionou muito. Eu parei de trabalhar com eles quando vi que eles estavam reeditando meu trabalho e não estavam me pagando por isso.

KAZI: Sobre o que era “FUTURE SHOCK”?

GAIMAN: Houve 5 ou 6 “Future shocks”histórias divertidas, estranhas e curtas com finais esquisitos. A única da qual tenho boas lembranças foi uma discussão de duas páginas sobre a utilização do planeta Terra como um enfeite decorativo.

KAZI: Quem é PAUL GRAVATT? As pessoas no Brasil sabem muito pouco sobre a REVISTA ESCAPE. Qual é a importância de Gravatt e da Escape para os quadrinhos britânicos?

GAIMAN: Paul Gravatt é o atual curador do Museu Inglês de Quadrinhos. Ele editou a Escape, que era uma das melhores revistas de quadrinhos que eu já vi, durante os anos 80.

KAZI: Qual é exatamente o seu papel no quadrinho MR. HERO?

GAIMAN: Eu o inventei, e sugeri JIM VANCE para escrevê-lo. Eles [a EDITORA TEKNO COMIX] me enviam a revista quando ela sai.

KAZI: Ouvi um rumor acerca de um projeto chamado NIGHT CIRCUS, que você escreveria e SIMON BISLEY faria a arte. É verdade?

GAIMAN : Para ser honesto, eu não sei se Night Circus acontecerá algum dia. Veremos…


VIOLENT CASES foi uma das primeiras coisas que li de Neil Gaiman. Um álbum originalmente publicado em preto e branco [serializado na revista Escape] e depois em cores [resgatando a arte maravilhosa de Dave McKean] pela TUNDRA, a extinta editora de KEVIN “Teenage Mutant Ninja Turtle” EASTMAN. A história gira em torno de uma criança e a forma como ela vê um mundo que não compreende: o mundo adulto. O título é uma brincadeira com um mal entendido: os gângster carregavam “violin cases” [caixas de violinos, onde escondiam suas armas].


KAZI: Violent Cases foi uma espécie de despertar para você?

GAIMAN: Um despertar? Suponho que sim. Foi o trabalho mais honesto que fiz em minha obra ficcional, e foi o ponto no qual percebi que o que faz de um [a] artista diferente ou importante é o [a] próprio [a] artista.

KAZI: Estaria Violent Cases completa com MR. PUNCH?

GAIMAN: Eu duvido.

Panaceia 08

SIGNAL TO NOISE, a segunda Graphic Novel de Gaiman [também em parceria com McKean], foi também serializada em revista, desta vez em THE FACE. A EDITORA VICTOR GOLANCZ publicou o álbum na Inglaterra, e a DARK HORSE nos EUA. SIGNAL TO NOISE [a expressão] refere-se à relação entre sinal e ruído numa transmissão: quanto mais sinal menos ruído, mais compreensível à mensagem, e vice-versa. A história é uma fábula sobre mortalidade, relacionamentos e começos e fins. O pivô é um cineasta [uma homenagem a EISENSTEIN] que descobre estar com câncer, e que talvez não tenha tempo de terminar seu último filme.

KAZI: Você já pensou na possibilidade de encontrar com suas criações quando morrer?

GAIMAN: Não. Às vezes eu imagino se eles iriam vir para me ver quando eles morressem. Afinal de contas, se eu vou me encontrar com meu criador, talvez eles façam o mesmo…

KAZI: Por que você diz, em Signal to noise, que a virada do milênio é em 31 de dezembro de 1999 se, na verdade, ela se dará em 31 de dezembro dePanaceia 07 2000?

GAIMAN: Percepção pública. É como o Odómetro de um carro, o momento em que ele passa dos 1000 para os 2000. E o último “fervor de milênio” foi quando [o ano] 999 virou para 1000, não quando 1000 mudou um dígito e se tornou 1001. Eu sei qual Ano Novo eu vou comemorar…

KAZI: Sobre o corcunda, na vila do filme, em Signal to noise: é preciso viver à margem da sociedade para ver as coisas? Seria o corcunda aquele que está realmente livre, em oposição à mulher que estava na prisão?

GAIMAN: Eu não acho: ele está lá mais para ilustrar a forma como uma mente criativa trabalha. Eu preciso de um personagem para [dizer] isso, portanto eu tenho que criá-lo. Mas os marginais frequentemente veem com mais clareza: eles olham de fora, e não de dentro.

KAZI: Apocalipse é salvação? Apocatástase, em português, também significa “doutrina herética segundo a qual, no fim dos tempos, serão admitidas ao Paraíso todas as almas, inclusive a do Diabo”. Você não refere essa acepção em Signal to noise. Você a conhecia? Ela estava escondida intencionalmente?

GAIMAN: Eu não acho. Não. Não em Signal to noise, em momento algum – é um fim, não um começo. Eu não conhecia esse significado de apocatástase, mas agora que você me disse eu provavelmente vou usá-lo na versão para novela radiofônica de Signal to noise.

KAZI: Quando e por onde será irradiada essa versão radiofônica?

GAIMAN: BBC RADIO 3 . Ainda este ano, eu espero.

PUNCH foi a última obra publicada de Gaiman em parceria com McKean. Gaiman refere-se a ela como uma “autobiografia mentirosa”. Nela, o escritor volta ao passado e vê, com seus olhos de garoto, as relações familiares de seu avô, entremeando a narrativa com uma peça de teatro de marionetes secular chamada Mr. Punch [THE MR. PUNCH AND JUDY SHOW], onde um homem mata um bebê, a mãe do bebê, um policial, a Lei, o Demônio e se dá bem no final.

As metáforas não são tão evidentes. Gaiman fez questão de deixar as coisas pouco óbvias [tanto quanto possível], ao ponto de brincar que só ele entenderia a obra. Mas é clara a intenção de expurgar sentimentos passados e dúvidas presentes. Aparentemente sem sentido, Mr. Punch é a obra mais redonda de Gaiman até hoje. Afiada e belíssima. E que não está, ainda, completa.

GOOD OMENS[BONS AUGÚRIOS/BELA MALDIÇÕES] é um livro de Gaiman, escrito em parceria com TERRY PRATCHETT. No livro, o Anticristo nasce e é trocado na maternidade, não recebendo a “educação” que deveria. O Apocalipse fica um pouco diferente das escrituras por causa disso…

KAZI: Mr. Punch é autoanálise?

GAIMAN: Não é autoanálise: é uma autobiografia não confiável [mentirosa], o que é bem diferente.

KAZI: Seus livros, inclusive GOOD OMENS, parecem narrar despertares diferentes. Seria essa sua intenção: acordar ou fazer com que seu leitor acorde?

GAIMAN: Um pouco dos dois. Todas as histórias são despertares, e todo despertar é um momento de criação: é quando nós moldamos o mundo.

KAZI: Sempre há uma história dentro da história em seus livros, e elas sempre se misturam. Isso é bastante claro em Mr. Punch e Signal to noise. É uma “fórmula” ou não? WATCHMEN, de Alan Moore, teria sido uma influência?

GAIMAN: Uma fórmula? Não acho. De certa maneira é uma obsessão se exorcizando. Meus personagens definem-se através das suas histórias. Watchmen, nesse caso, me influenciou menos que as obras ficcionais de BORGES e GENE WOLFE.

Panaceia 09

KAZI: Você parece bastante interessado em histórias e contadores de histórias e em formas de contar histórias. Foi por isso que você escolheu os quadrinhos? Por que não usar outro meio? Eu li que você gostaria de ser escritor, é verdade?

GAIMAN: Eu gosto de contar histórias. Eu gosto de quadrinho porque é um meio sub-utilizado e é o único lugar onde se pode fazer ficção serializada hoje em dia. Eu já escrevi “meio-livro” [Good omens], e indubitavelmente escreverei mais alguns antes de morrer.

KAZI: Você está procurando padrões nas histórias, uma conexão entre todas as histórias, inclusive a história da sua vida e a de todo mundo? Como se tudo estivesse escrito num grande livro [mais ou menos como o livro de DESTINO]?

GAIMAN: Claro, se não fosse assim, por que escrever?

KAZI: O que você acha de colocarem finais felizes nas histórias antigas?

GAIMAN: Eu acho que as histórias, tal como a água, encontram seu nível, apropriado para a cultura e para o tempo nos quais são contadas.

KAZI: Qual foi o problema com a DC e o álbum Mr. Punch? Por que a DC só imprimiu 15 mil cópias?

GAIMAN: Porque o departamento de marketing [que define a tiragem das revistas] decidiu que iriam imprimir 15 mil cópias. Não faço a menor idéia do porquê.

KAZI: Haverá realmente mais outros dois álbuns, além de Violent Cases e Mr. Punch [uma obra em quatro partes]?

GAIMAN: Possivelmente. Veremos. Para ser honesto, eu não sei – em alguns anos eu posso sentir vontade de escrever o próximo.

KAZI: Eu achei Good Omens engraçado, mas tocante. Você ficou satisfeito com o fim do livro?

GAIMAN: Eu nunca fico satisfeito.

Panaceia 10

MIRACLEMAN se chamava MARVELMAN, mas uma certa editora Norte- Americana resolveu criar caso… Alan Moore foi o responsável pela volta do herói, nos anos 80. Só que ele voltou mais, er, real. Moore transformou Miracleman em uma espécie de deus; afinal, um ser com poderes virtualmente ilimitado não poderia ser um humano. Comparável ao que fez com o MONSTRO DO PÂNTANO, Moore transformou Miracleman num quadrinho de super-herói digno de ser lido [façanha considerável]. Gaiman herdou [por indicação de Moore] a revista da Eclipse e vinha escrevendo até a falência da editora. Ninguém sabe o que será de Miracleman no futuro. Interessante saber que Gaiman já criticou em entrevista os quadrinhos da IMAGE e o gênero de super-heróis em geral [“clones de STAN LEE de quinta geração“, sendo que um deles seria o próprio Stan Lee].

KAZI: Hoje em dia os super-heróis são bem diferentes do que eram há 30 anos. O que você acha dos super-heróis atuais?

GAIMAN: Eu não sei o que pensar, realmente. O que sei é que tudo o que me lembro dos super-heróis da minha juventude é amenizado por uma nostalgia tema, e que os heróis de hoje. Bem, não tenho muita saudade deles.

KAZI: Você acha que, se os super-heróis realmente existissem, eles se pareceriam com a sua versão de Miracleman?

GAIMAN: Não.

KAZI: O que está acontecendo com a revista Miracleman da Eclipse? MARK BUCKINGHAM [o desenhista] já foi pago?

GAJMAN: Não, Mark ainda não foi pago. Acredito que a Eclipse abriu falência. Você sabe tanto quanto eu sobre o futuro [da revista].

SANDMAN dispensa apresentações? Talvez. Mas falar um pouco não fará mal a ninguém. Há sete “seres” sencientes chamados PERPÉTUOS. Os Perpétuos são irmãos, ou algo que eles chamam de irmãos, e personificam potencialidades de todos os seres vivos do Universo. Antes mesmo de nascer, todo ser tem traçado seu Destino. Quando nasce, já está Panaceia 11fadado à Morte. Antes mesmo de ter consciência de sua individualidade, o indivíduo já pode Sonhar. E o instinto de Destruição lhe assegura a sobrevivência, assim tomo o Desejo o ajuda a perpetuar a espécie. Consciente, um ser está à mercê de outros sentimentos, tais como o Desespero e o Delírio [ou o Deleite]. Ei-los, os sete Perpétuos: DESTINY, DEATH, DREAM, DESTRUCTION, DESIRE, DESPAIR e DELIRIUM.
Sandman é Sonho, e o SONHAR que habita. Gaiman usa esse palco para contar histórias, fundamentalmente, sejam elas tiradas do folclore celta, da mitologia grega, hindu ou egípcia; sejam contos de fadas ou fábulas modernas. Sejam devaneios filosóficos de JOHN MILTON ou de Neil Gaiman.
A EDITORA GLOBO, em parceria com a DEVIR, publica a revista no Brasil [quase] mensalmente.

KAZI: Há uma relação nos relacionamentos entre você e seu avô e entre Delírio e Sandman? Isso me pareceu evidente na cena onde você/Delírio tem que lidar com a mesma situação quando seu avô/Sandman está em Panaceia 14choque [Mr. Punch e “Brief lives”].

GAIMAN: Suponho que sim. Sim, a loucura me assusta – talvez mais do que qualquer coisa. E adultos “indefesos” sempre nos forçam a amadurecer de maneira mais dura do que deveríamos…

KAZI: Sandman é uma história sobre um contador de histórias [ou um guardião de histórias], de certa maneira. Você deixa isso claro o tempo todo, especialmente em “SONHOS DE UMA NOITE DE VERÃO” [uma das melhores histórias até agora]. Você conhece algum RPG? Já pensou em escrever algum, como os da WHITE WOLFE [WEREWOLF/ LOBISOMEM é dedicado a você]? Há alguma possibilidade da White Wolf publicar algum quadrinho escrito por Neil Gaiman?

GAIMAN: Por que jogar RPG? Eu tenho que ser cada um dos personagens que eu criei todos de uma vez. A White Wolf vai publicar um Panaceia 12livro infantil que escrevi e Dave McKean ilustrou.

KAZI: Qual o nome desse livro? Quando ele vai ser lançado?

GAIMAN: THE DAY I SWAPPED MY DAD FOR TWO GOLDFISH [O DIA EM QUE TROQUEI MEU PAI POR DOIS PEIXINHOS DOURADOS]. Espero [que saia] em maio de 1996.

KAZI: Sandman é um personagem imaturo e egoísta. Você acha que essa faceta adolescente da personalidade é que fez dele tão popular?

GAIMAN: Eu não acho que sua personalidade adolescente é o que o faz tão popular: ele poderia ter uma personalidade completamente diferente e ainda assim ser popular. Mas Sandman é a história de uma adoPanaceia 13lescência.

KAZI: Quanto tempo você leva para escrever uma história de Sandman?

GAIMAN: Um número de Sandman leva em torno de um mês para ser
escrito.

KAZI: Morte é, de certo modo, sua personagem de maior sucesso. Mais do que o próprio Sandman, Morte é adorada pelo público [ao menos aqui no Brasil], e me parece que você a mantém sob controle. É isso mesmo?

GAIMAN: Sim.

KAZI: Você tem vontade de fazer mais histórias com a personagem Morte depois de parar de escrever Sandman?

GAIMAN: Eu farei, com certeza, mais uma história da Morte: “THE TIME OF YOUR LIFE”. Outras, bem, veremos.

KAZI: Você aborda assuntos que poderiam lhe causar problemas, como homossexualismo, ou um button onde se lê: “I CHOSE TO HAVE A BABY BUT I’M GLAD I HAVE A CHOICE” [“eu escolhi ter um bebê mas estou feliz por ter escolha”] … Você tem problemas com sua editora ou com o público americano por causa disso?

GAIMAN: Não. [A associação] THE CONCERNED MOTHERS OF AMERICA [algo como as mães preocupadas da América] anunciou, alguns anos atrás, que iria boicotar Sandman, mas as vendas não foram afetadas.

KAZI: Em Sandman não há uma religião “suprema”: há deuses que surgem e morrem. Entretanto, você parece ter mostrado um certo cuidado quando falou do deus judaico-cristão. Por exemplo: quando você diz que Lúcifer e Deus são mais poderosos que Sandman, que são os dois seres mais poderosos do universo. Você tem alguma religião?

GAIMAN: Eu não vejo evidência que o “Criador” mencionado em “ESTAÇÃO DAS BRUMAS” seja o deus judaico-cristão. [Lúcifer certamente não é judaico-cristão: ele é Miltoniano.].

KAZI: Não só eu, mas as pessoas com quem converso sobre o seu trabalho em Sandman às vezes não sabe quem está desenhando a revista. Seu texto é tão forte que nós quase só lemos os balões. Às vezes há um grande artista, como MARC HEMPEL ou P. CRAIG RUSSEL, mas isso não é frequente. É você quem escolhe os artistas de Sandman, ou eles são impostos pela DC?

GAIMAN: Um pouco dos dois.

Panaceia 15

KAZI: Tem havido muitas pistas indicando que Sandman vai morrer. Pistas demais para me fazer achar que ele realmente vai. Sandman vai morrer até o fim da revista? [Ei, eu posso tentar, não posso?].

GAIMAN: Boa pergunta.

KAZI: Falando de finais, quando a revista vai acabar?

GAIMAN: No número 75.

KAZI: “Ali Bette’s stories have happy endings. That’s because she knows where to stop. She’s realized the real problem with stories – if you keep them going long enough, they always end in death.” [“Todas as histórias de Bette têm finais felizes. É porque ela sabe quando parar. Bette descobriu o verdadeiro problema com as histórias se você deixá-las ir longe demais, elas sempre acabam em morte.”] Sandman já foi longe demais?

GAIMAN: Quase.

KAZI: “THE KINDLY ONES” parece estar se alongando por mais capítulos do que deveria. É por causa do seu contrato com a DC?

GAIMAN: Não, não tem nada a ver com o meu contrato com a DC. O fato é que “The kindly ones” foi escrita para passar por todos os personagens e temas de Sandman, e há muito mais do que eu achei que haveria…

KAZI: Eu ouvi falar de minisséries que você faria com os outros Perpétuos, e eu acho que Delírio está crescendo em importância nas suas histórias. Quantas serão? Quando sairão?

GAIMAN: [Farei] uma para cada Perpétuo, espero.

KAZI: Quanto vai durar “THE WAKE” [“O funeral”, o último arco de história de Sandman]?

GAIMAN: “The wake” terá três capítulos.

KAZI: Sobre o que será “THE TEMPEST” [história a ser publicada após o fim da revista]?

GAIMAN: Vai ser sobre Shakespeare, e [a história] se dará em 1611.

KAZI: Lendo todos os capítulos de Sandman [até o número 67, o último disponível no Brasil], sinto que você vai deixar um monte de pontas soltas, de perguntas sem respostas. Algumas delas, eu acho, devem ficar sem resposta, mas você vai voltar a algumas nas minisséries?

GAIMAN: A algumas delas, sim. Mas vai haver uma boa dúzia sem resposta.

KAZI: Como você conheceu Dave McKean [o artista das capas de Sandman]?

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GAIMAN: Nós nos encontramos [para fazer] um quadrinho chamado BORDERLINE, que nunca foi publicado, e gostamos do trabalho um do outro…

KAZI: Há muitos rumores no Brasil sobre um número especial do Sandman com McKean fazendo a arte. Algum projeto de verdade?

GAIMAN: Há idéias, mas isso não vai acontecer por algum tempo ainda…

KAZI: Há algum [a] artista com o [a] qual você gostaria de trabalhar e ainda não o fez?

GAIMAN: BARRY WINDSOR SMITH, talvez…

KAZI: A DC é dona de todos os personagens de Sandman. Isso não desanima?

GAIMAN: Claro.

KAZI: Você vai trabalhar de novo para uma editora que não deixe você possuir legalmente os direitos sobre suas criações?

GAIMAN: Eu duvido.


O que faria um escritor tido em consideração pela profundidade de sua obra escrevendo histórias para a Image, uma editora que não prima por histórias, digamos, inteligentes? Na verdade, a Image é a exacerbação do gênero dos super-heróis, que acaba definitivamente com qualquer resquício de história inteligível. Como num filme pornô, onde só importam as cenas de sexo explícito, às páginas de Spawn, por exemplo, são base para desenhos arrojados de “fortões de maiô lutando no espaço sideral”. MIKEY, filho mais velho de Gaiman, seria o responsável pela façanha. O que não faz um pai consciencioso…
Já o trabalho com a Marvel veio através da gravadora de ALICE COOPER com desenhos de MICHAEL ZULLI, Gaiman fez a adaptação para quadrinhos do mais recente álbum [THE LAST TEMPTATIONde Cooper.


KAZI: Como foi trabalhar para a Marvel?

GAIMAN: Eu não fiquei muito impressionado com a Marvel.

KAZI: Como foi escrever uma história para o Spawn?

GAIMAN: Muito, muito divertido.

KAZI: Como foi escrever mais uma história para o Spawn?

GAIMAN: Eu não estava com muita vontade de trabalhar…

KAZI: Você vai escrever outro título mensal em breve?

GAIMAN: Não!

Panaceia 18


Enquanto você lê esta entrevista, é possível que Neil Gaiman ainda esteja no Brasil, mais precisamente em São Paulo, para receber o TROFÉU HQ MIX de melhor roteirista estrangeiro. Desde nosso primeiro contato, no ano retrasado, Gaiman diz que tem vontade de visitar o país. Corra e pegue o autógrafo dele na PANACEA!


Panaceia 17

KAZI: Ouvi dizer que você estaria no Brasil em abril. É verdade?

GAIMAN: Esse é o boato, realmente. Pergunte a Globo…

KAZI: O que você conhece do folclore brasileiro? Você citou O CURUPIRA na minissérie ORQUÍDEA NEGRA.

GAIMAN: Conheço um pouco, mas não tanto quanto gostaria.

KAZI: Você conhece algum quadrinhista brasileiro? Ou escritor?

GAIMAN: Ainda não. Mas posso conhecer em abril.

KAZI: Você é reconhecido nas ruas nos Estados Unidos? Como você lida com fãs sedentos por autógrafos?

GAIMAN: Eu só sou reconhecido ocasionalmente. Fico meio embaraçado quando não estou esperando por isso, mas lido bem com a situação quando estou esperando…

KAZI: O que você espera da sua viagem ao Brasil?

GAIMAN: Problemas com o fuso-horário e pessoas legais.

KAZI: Você conhece as discussões sobre Sandman na USENET [fórum de debates da Internet]? O que você acha delas?

GAIMAN: Eu me sinto lisonjeado que isso aconteça, mas tenho visto muito pouca coisa de valor nas mensagens nos últimos quatro anos. Ou melhor, as mensagens interessantes ocasionais estão soterradas pela grande quantidade das desinteressantes. Mas as observações certamente são úteis, ainda que incompletas [e às vezes erradas].

KAZI: Você vê algum futuro para os quadrinhos nos CD-ROMs ou nas tecnologias de produtos multimídia?

GAIMAN: Não, realmente. Eu espero que os CD-ROMs e similares achem um conteúdo próprio…

ANOTAÇÕES NA AREIA:

I- A década de 80 começou a ser marcada pelas facilidades provindas pelo progresso tecnológico da época, algo que facilitou e muito aos FANZINEIROS produzir em maior quantidade os seus ZINES. No entanto, tais facilidades também aumentaram a elevação dos custos, e o desequilíbrio econômico, no final dessa mesma década, acabou levando o país à hiperinflação, como consequência muitas editoras fechando as portas e muitos fanzines diminuindo sua produção, quando não extintos. Por consequência, o editor do fanzine POLÍTIQUA, JOSÉ CARLOS RIBEIRO, denominou esse novo período COMO CRISE NOS INFINITOS FANZINES, uma alusão à saga CRISE NAS INFINITAS TERRAS da editora americana DC COMICS. Os fanzines passaram então ter como meta não a obtenção de lucro, mas meios de auto sustento, continuidade e evolução.

O significado de zine, segundo o site FANZINEEXPO.WORDPRESS.COM “vem da contração da expressão em inglês fanatic magazine, que significa em português revista de fãs. E o que isso significa? Significa que os fanzines são publicações feitas por pessoas e para as pessoas que gostam de um determinado tema em comum, sejam elas amadoras ou profissionais”.

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Durante a ressaca da Crise nos infinitos fanzines, na década de 90, entusiastas da mídia alternativa começaram a batalhar dentro do mundo de publicações independentes brasileira, entre eles um cara chamado JOSÉ MAURO KAZI que criou o FANZINE PANACEA em Osasco, São Paulo- este aluno da USP. A Panacea inicialmente era um folheto de oito páginas fotocopiadas no formato meio-ofício, contendo histórias em quadrinhos, artigos sobre HQS, música e também textos literários. Durou 33 edições, no entanto chegou a ganhar o TROFÉU ÂNGELO AGOSTINI no ano de 1992 como melhor fanzine. KAZI é lembrando num misto de amor e ódio, pois para sugerir uma atmosfera mais profissional ao fanzine publicava artigos usando pseudônimos, algo que muitos editores na época consideravam ser antiético. E havia também o fato de sua criticas serem extremamente diretas, sem fazer nenhum tipo de concessão. Apesar disso, o fanzine, após, seu termino acabou virando uma revista de 80 páginas, a PANACEA: A REVISTA BRASILEIRA DE QUADRINHOS (E OUTROS BICHOS), comportando dessa forma mais espaço para resenhas de quadrinhos, música; e entrevistas com os mais variados escritores dos quadrinhos como ALAN MOORE, NEIL GAIMAN, DAVID MAZZUCCHELLI e FLAVIO COLIN. Contabilizando as edições como zine e como revista foram 40 edições até o término definitivo. Sem sombra de dúvidas a Panacea merece ser lembrada pelo sua importância cultural e dedicação ao universo dos quadrinhos.

II- NA MESMA EDIÇÃO ENCONTRAMOS UMA TIRA SATIRIZANDO DAVE MCKEAN:

Panaceia Dave part 3


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 


 

SUPERMAN/BATMAN: INIMIGOS PÚBLICOS [JEPH LOEB/ ED MCGUINNESS]


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Sou conhecido como um herói, um exemplo e um lutador. A vida tem sido boa.”-Superman.

Sou conhecido como uma lenda urbana, uma criatura assustadora, o bicho papão. Não desejo esta vida a ninguémBatman.

SINOPSE:

“O homem de aço une forças com o Cavaleiro das trevas quando o corrupto presidente dos estados unidos, Lex Luthor o acusa de crimes terríveis contra a humanidade. Enquanto fogem, os melhores heróis do mundo têm de enfrentar uma equipe ultrassecreta de seres superpoderosos, a fim de salvar a Terra de um meteorito mortal e derrotar Lex Luthor. “


Ok, vamos lá…

Desde há muito que sou, talvez, estranho, no sentido de que, quanto mais fazem criticas negativa de um livro, ou HQ, mais sinto vontade de ler a história, é algo que faz parte de mim desde pivete, por isso eu não via a hora de ter em mãos a edição da EAGLEMOSS COLLECTIONS: SUPERMAN/BATMAN: INIMIGOS PÚBLICOS, simplesmente porque todo mundo parece odiar o arco e queria saber por qual motivo- até mesmo pelo fato de ser um arco bem conhecido.

A história de LOEB, se analisarmos apenas o pano de fundo, no caso, LUTHOR como presidente dos Estados Unidos, aproveitando do surgimento de um meteoro de Kryptonita que não tardará em colidir com o Planeta Terra, e o SUPERMAN pressuposto como a causa desse evento, a premissa, então pode ser considerada muito simples e em alguns momentos da narrativa até mesmo exagerada, no entanto, considero que a importância de INIMIGOS PÚBLICOS não está nesse evento, mas sim na forma em que ele é contado: pelo ponto de vista de ambos os personagens perseguidos, SUPERMAN e BATMAN.  Os diálogos dos personagens são muito bem estruturados, verossímeis e conseguimos, não apenas compreender, mas empatizar com ambos os personagens, mesmo que estes defiram em pontos de vistas em relação alguns assuntos e tenham diferentes filosofias de vida.

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_ Metallo é um personagem interessante

A graça, diversão –e lirismo– da história é essa, é conseguirmos adentrar na psique dos personagens, como consequência darmos mais valor para ambos. Todo mundo- sim, eu sei, existem exceções– cultuam o homem morcego, todavia, o homem de aço nem tanto, visto que é um personagem que surgiu reunindo- ou criando– muitos dos estereótipos de heróis: super força, visão raio x, super velocidade, super audição, super isso, super aquilo, o que dificulta a criação de histórias – e de vilões– para estes por que o “cara” têm muita proteção física para si, sendo necessário até mesmo dar ênfase na Kryptonita como uns dos poucos artefatos que podem feri-los – o que acabou o deixando meio chato em alguns aspectos. E como consequência surge outro entrave: sendo tão poderoso, este não poderia controlar o mundo a seu bel-prazer? É, então, isso não poderia acontecer- com exceção de Injustiça- Deuses entre nós que é outra história– tornando necessário que o personagem tivesse como parte de sua personalidade as sete virtudes: simplicidade, caridade, temperança, diligência, paciência, bondade e humildade. Então, bom, o mundo “mudou” e anti-heróis tornaram-se mais legais, fazendo com que o homem de aço já não fosse tão fácil de trabalhar em histórias contemporâneas. LOEB é um roteirista importante para o universo dos quadrinhos por isso: é competente no desenvolvimento psicológico dos personagens- apesar de eu não ter gostado da forma que trabalhou Wolverine, e alguns aspectos do Homem-Aranha em Capitão América: Morre uma lenda. SUPERMAN pode até ser um “Deus”, um alienígena, mas faz mais jus ao que deveria ser a humanidade- se formos levar em consideração o sentido taxinômico para ela – do que muitas pessoas. Por tanto, como seria estar na pele de alguém que possui poderes inimagináveis, porém opta pela ética e boa moral? Com certeza seria extremamente difícil conviver com isso, não que seja por existir a vontade de agir de forma injusta e, mesmo assim, levar sempre em consideração a honra acima de tudo, mas porque sempre haverá aqueles que atirarão pedras e crucificarão aqueles que preferem fazer o  bem “sem olhar a quem”. Somos  capazes <induzidos> em INIMIGOS PÚBLICOS de fazer parte desse dilema da mesma forma que o oposto também é muito bem desenvolvido: na figura do cavaleiro das trevas, a fragilidade de ser biologicamente humano é sempre mostrada, oferecendo ao leitor a importância da ferramenta natural que temos, ou seja, o cérebro, em nossas vidas. O protetor de GOTHAM é sempre aquela persona que vive nas sombras, envolta em mistérios e apesar de sua fragilidade, derrama até a última gota de sangue para concretizar suas metas, levantando constantemente a bandeira da lei e da ordem, sempre lembrando que as pessoas devem ser julgadas pelas suas ações e não intenções porque é “impossível” definir intenções, mas fatos são sempre fatos e, até que se prove o contrário, medidas são necessárias.

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Em relação ao final da história, bom, se você visitante, ainda não leu, pule esse parágrafo, concordo que a forma que solucionam o problema é meio… Sem graça? Porém, não é tão inverossímil assim, visto que, num universo em que a tecnologia é extremamente avançada, existindo maquinários efetivos e seres poderosos, então construírem um foguete imenso em pouquíssimo tempo, não fica tão destoado da narrativa como muitos argumentam. HIRO OKAMURA, O HOMEM DOS BRINQUEDOS, foi o requisitado para construir o foguete, este apesar de ser extremamente inteligente, ainda é apenas uma criança de treze anos e seu alterego é um individuo fissurado em brinquedos, destarte, é tão estranho assim ter construído um foguete com a forma do homem de aço e o homem morcego? Eu não acho.

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Por sua vez o traço de MCGUINNESS, particularmente eu gostei muito, é uma mistura do estilo de desenhos da década de 90 com o atual, favorecido com a arte final de VINES.

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Quanto à síntese de inimigos públicos: é inegável que muitos daqueles que estão no poder manipulam o sistema da forma que melhor lhes provêm e são os cidadãos que sofrem as consequências. É sempre muito mais viável disseminar o ódio, tratar com descaso a educação, escravizar disfarçadamente, privilegiar uns, desmerecer outros, fazer o amanhã <futuro> apenas baseado em esperança e não em fatos.  Despostas reformam cruzes e nessas mesmas cruzes queimam os cegos produzidos em massa com as vendas de ignorância que também são responsáveis pela disseminação, gerando um círculo vicioso de decadência, egoísmo e injustiça.

Enfim, é isso.


SUPERMAN/BATMAN: INIMIGOS PÚBLICOS é o primeiro arco de histórias do título mensal SUPERMAN/BATMANque perdurou entre 2003 e 2011, – escrito pelo roteirista, JEPH LOEB, que tem em seu currículo BATMAN: O LONGO DIA DAS BRUXAS [Batman: The Long Halloween], CAPITÃO AMÉRICA: MORRE UMA LENDA [Fallen Son: The Death of Captain America], HOMEM-ARANHA AZUL [Spider-Man Blue] entre outras séries de sucesso; e desenhada por ED MCGUINNESS, desenhista que já participou de histórias de DEADPOOL, HULK, SUPERMAN e da minissérie THUNDERCATS: RECLAIMING THUNDERA; enquanto a arte final ficou por conta de DEXTER VINES, conhecido principalmente por sua participação em GUERRA CIVIL [Civil War] da MARVEL COMICS.

No Brasil o arco saiu em encadernado pela editora PANINI COMICS, em 2007, contento os seis capítulos principais [OS MELHORES DO MUNDO / ESTADO DE ALERTA / CONTRA TODOS / A BATALHA / SITIADO / CONTAGEM FINAL] e o extra QUANDO CLARK ENCONTROU BRUCE, que mostra CLARK KENT jogando baseball com seu amigo PETE, e avistambatman, superman, inimigos publicos 08 uma limousine negra com o abatido BRUCE WAYNE, no banco de trás- levado por Alfred que considerou que novos ares fariam bem ao menino devido à morte de seus pais em Gotham -, e este reflete se teria sido bom ter jogado com eles, chegando à conclusão que não por que sua vida não é mais a mesma, não é mais um garoto como todos os outros, as sombras dentro de si o tornaram diferente.

SUPERMAN/BATMAN: INIMIGOS PÚBLICOS também faz parte da linha DC COMICS COLEÇÃO DE GRAPHIC NOVELS da empresa EAGLEMOSS: Volume 05. O encadernado contém, além do arco principal, como extras: as histórias O PRIMEIRO ENCONTRO DE CLARK E BRUCE: UMA HISTÓRIA DOS TEMPOS DE SMALLVILLE [a mesma do encadernado da Panini], A DUPLA MAIS PODEROSA DE TODO MUNDO! [Superman 76], no caso, a história, na qual BATMAN e SUPERMAN descobre a identidade secreta um do outro, de 1952; e galeria de capas, esboços e curiosidades sobre os encontros entre os personagens no mesmo título ao longo das décadas.

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Em 2009, SUPERMAN / BATMAN: PUBLIC ENEMIES foi adaptado, como animação para o mercado de vídeos, por STAN BERKOWITZ; e lançado pela WARNER PREMIERE e WARNER BROS.

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https://www.youtube.com/watch?v=RyB7FwlK8Wk


para ler ouvindo

RAGE AGAINST THE MACHINE – RAGE AGAINST THE MACHINE [1992]

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PUBLIC ENEMY – FULL ALBUM – THE EVIL EMPIRE OF EVERYTHING [2012]maxresdefault


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

http://www.guiadosquadrinhos.com/edicao/superman-e-batman-inimigos-publicos/su01105/21319

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jeph_Loeb

https://en.wikipedia.org/wiki/Superman/Batman:_Public_Enemies


BATMAN: PEQUENA GOTHAM [DUSTIN NGUYEN & DEREK FRIDOLFS]


Desculpe, Victor. Você é definido pelas suas ações, não intenções.”- Batman

 

batman- pequena gothan 00BATMAN: PEQUENA GOTHAM foi publicada, em fevereiro [2015], pela editora PANINI COMICS, com o preço de capa de R$ 22,90.  O encadernado reúne as edições 1-6 da minissérie LI’ L GOTHAM. Contêm 14 histórias, escrita por DUSTIN NGUYEN e DEREK FRIDOLFS, com arte em aquarela do primeiro.

Durante algum tempo fiquei pensando como escreveria sobre as sensações que tive lendo PEQUENA GOTHAM, sobre a linda arte em aquarela de NGUYEN e o designer Super deformed”, criado por ele, para os personagens que aparecem- e que não são poucos, por sinal; e que favorece o lirismo das histórias curtas, mas emocionantes de FRIDOLFS, no entanto, não sabia como fazê-lo, até que pensei: “por quê não um poeminha sem muita pretensão?”, então, eis, minha resenha:

BATMAN: PEQUENA GOTHAM

É uma obra composta

De singelas histórias

Que reúne

Personagens marcantes

Como ASA NOTURNA,;

COLIN;

CORINGA…

E sensuais,

Provocantes:

ZATANNA;

ARLEQUINA;

ERA VENENOSA…

Cada capítulo,

Datas comemorativas,

De pano de fundo:

Halloween,

Dia de ação de graças,

Dos pais, mães, namorados.

Cada herói, anti-herói, vilão,

Na narrativa, bem contextualizado.

Com lição de moral, ou não.

É um prato cheio

Para seu fim de semana,;

Viajem de ônibus;

Aniversário;

Feriado…

Ou “matar” de aula;

Ausência [atestado?] no trabalho.

É uma obra tão linda

Que pode ser elogiada com:

Bonita;

Magnifica;

Espetacular…

Ou se preferir:

Muito foda;

Do cacete;

Do caralho…

São histórias curtas

Que satisfazem

Os adultos;

As crianças;

Se bobear até o seu papagaio.

Sem maniqueísmo

Personagens humanos

Que sonham, se entristecem

E sorriem com pequenos gestos

E garanto:

Vale a pena.

Não custa nada…

Reduzir alguns…

Copos a menos no boteco;

E no meu coração: a gratidão mais sincera

Aos artistas:

DEREK FRIDOLFS

&

DUSTIN NGUYEN

Pela obra de arte oferecida,

Aproveitando, muito bem, o talento que ambos têm.

 

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_Damian é um chato de carteirinha

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_Arlequina infernizando a vida do Coringa =)

Bom, não foi um poema muito poético- como queria que fosse, – nem de muita qualidade artística, mas foi escrito de coração. E é isso 😀


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A LENDA DA CHAMA VERDE [NEIL GAIMAN]- DC COMICS/ WIZARD-BRASIL Nº03


A lenda da chama verde neil gaiman dcE eu caminho por lugares obscuros… vocês me lembraram a humanidade, sempre tentando classificar o que vê, procurando segurar o que não pode ser contido… Se eu realmente tivesse um lugar, um lar, como poderia ser uma FANTASMA?Vingador Fantasma.


Wizard Brasil Nº 03 CapaNetfontes_vampire_games_Logo LENDA DA CHAMA VERDE, infelizmente- principalmente para aqueles que prezam o talento de contar histórias de NEIL GAIMAN– é uma obra que passou despercebida por muitos brasileiros aficionados por quadrinhos, talvez por ter sido publicada na revista WIZARD BRASIL Nº 03 que nem todos tinham o costume de comprar, talvez pelo fato que a história tenha sido escrita no ano 1988, a pedido de MARK WAIDnaquela época uns dos editores da revista ACTION COMICS WEEKLY, no entanto, publicada apenas mais de 10 anos depois, em 2000, tornando-a fora da cronologia normal do universo DC- mesmo que ela não o seja de fato.

A obra, no original: GREEN LANTERN/SUPERMAN: LEGEND OF THE GREEN FLAME, é uma interessante narrativa feita por GAIMAN, um ano antes do seu Magnum opus: SANDMAN, e seria o último volume do título ACTION COMICS WEEKLY que seria cancelada por baixa venda de mercado, no caso a história de GAIMAN encerraria o ciclo da revista como uma forma de homenagem, porém, não pôde ser usada naqueles tempos; a trama não se encaixava dentro do UNIVERSO DC por um simples detalhe: HAL JORDAN conhecia a identidade secreta do SUPERMAN, CLARK KENT. Isso entrava em contradição com a linha de tempo ficcional, já que o título do homem de aço havia passado por uma reformulação nas mãos do escritor JOHN BYRNE [Os Fabulosos X-Men: A Saga da Fênix Negra, Quarteto Fantástico] em tempos PÓS-CRISE NAS INFINITAS TERRAS, o qual havia assumido o título em 1986, e nessa fase HAL não tinha ciência de quem era o filho de KRYPTON. WAID havia aprovado o roteiro – e segundo ele, tinha gostado muito do enredo -, mas por esse enclave, precisou pedir que NEIL reescrevesse mudando esse detalhe, o que não foi aceito – afinal de contas o lirismo da obra possui isso como uns dos princípios de toda narrativa, – sendo então, A LENDA DA CHAMA VERDE, engavetada por muitos anos até que HAL JORDAN começou a ter seus méritos próprios como personagem; GAIMAN por sua vez já estava bastante conhecido na mídia, e a DC Comics propôs ao escritor publicar alguns trabalhos antigos de sua autoria. A editora KAREN BERGER [sempre ela] se lembrou do roteiro não aproveitado; e GAIMAN contatou WAID, o antigo diretor da DC para saber se não haveria problema por questão de continuidade ficcional, este respondendo que não, decidiram aproveitar o momento oportuno para publicar a história como encadernado no ano de 1996.  Então tiveram outro enclave: o resgate do script. Conseguir a história de certa forma foi um processo problemático, simplesmente por que ele não tinha mais o roteiro e não havia cópia nos arquivos da DC. Uns dos amigos de GAIMAN, BRIAN HIBBS, proprietário da gibiteria SAN FRANCISCO’S COMIX EXPERIENCE, para quem ele havia dado uma cópia, também não tinha, no entanto, este lembrou que havia feito outra  cópia para um amigo: JAMES BARRY, que guardava consigo e devolveu, possibilitando assim que GAIMAN contatasse o diretor que tinha assumido o cargo nessa mesma época, BOB SCHRECK, entregando o material- para deleite do público que pôde ter em mãos essa aventura do Homem de aço e o LANTERNA VERDE, dos primórdios da Era de Prata dos Quadrinhos, HAL JORDAN.

A HQ possui 40 páginas com uma estrutura um tanto fora do usual: contendo QUATRO CAPÍTULOS, PRÓLOGO, EPÍLOGO, e dois ESTRANHOS INTERLÚDIOS divididos na obra de forma bem incomum, sendo, tal anarquia, recurso narrativo extremamente funcional para o lirismo da aventura dos dois super-heróis clássicos.  A edição tem 13 nomes de peso, além de GAIMAN:

A arte do PRÓLOGO 1949 é autoria de EDDIE CAMPBEL; MIKE ALLREDTERRY AUSTIN assumiram O CAPÍTULO UM, MARK BUCKINGHAN , metade do mesmo;  O CAPÍTULO DOIS, JOHN TOTLEBENMATT WAGNER, ESTRANHO INTERLÚDIO; ERIC SHANOWER e ARTHUR ADAMS, O CAPÍTULO TRÊSJIM APAROO ESTRANHO INT79_49528_1_GreenLanternSupermanLegendofthERLÚDIO 2KEVIN NOWLAN, CAPÍTULO QUATRO; e JOHN LITTLE, O EPÍLOGO. A edição teve cores de MATT HOLLINGSORTH, e FRANK MILLER, o autor da capa.

A Versão original possui essa linda contra capa, algo que não temos no Brasil por ter saído apenas na Wizard-Brasil

gears-of-war-skull-2DESENVOLVIMENTO DO ENREDO: [CONTÊM REVELAÇÕES]:

No final da SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, no ano de 1949, dois FALCÕES NEGROS encontram dentro de um bunker abandonado na Europa uma LANTERNA VERDE entre outros objetos notoriamente pertencentes à SOCIEDADE DA JUSTIÇA; Mesmo não sabendo a utilidade, ou se tem algum valor comercial, um deles leva o artefato consigo por ter um lapso de memória que remete o achado a algo dito por seu pai anos atrás, porém incerto.  Quarenta anos se passam, HAL JORDAN, decide procurar por CLARK KENT em seu trabalho no PLANETA DIÁRIOquando este demonstrou não ter interesse em atender suas ligações– para conversar um pouco, muito provavelmente desabafar sobre sua condição emocional atual, no entanto, diferente do que CLARK queria, no caso voltar para sua casa, recebeu um pedido de LOIS LANE para cobrir a abertura de uma exposição num museu. Ela não poderia fazê-lo por causa do surgimento de uma pauta urgente. Com o argumento de que tinha ingresso para duas pessoas; esses aceitaram a oferta. Após, caminharem pela noite, saírem ilesos da tentativa frustrada de uma gangue em assaltar ambos, e HAL JORDAN não conseguir seu intento de desabafar, ambos chegam ao museu e nele encontram algo que parece muito com uma lanterna usada por ALAN SCOTT, o primeiro Lanterna Verde, mas, que não faz parte dos GUARDIÕES DE OA. Nesse momento acontece o inesperado: ao tentar recarregar o seu anel na Lanterna, ambos os heróis morrem na explosão gerada durante o ritual. A alma do Lanterna e do Homem de aço acabam indo para o LIMBO, encontrando DEADMAN– DESAFIADOR, como é conhecido no Brasil, – que “explica” a situação, e numa tentativa de JORDAN de tirar a alma de ambos do lugar acaba por piorar a situação e enviá-los para o INFERNO; é nesse momento que o SUPERMAN sofre uma revelação sobre a penitência dos mortos ali enclausurados: ELES ESTÃO ALI POR ESCOLHA PRÓPRIA.

a lenda da chama verde espectro

_Deadman

 

Nesse meio tempo, o VINGADOR FANTASMAuns dos místicos do universo DC– abandona sua atual moradia na pretensão de algo que não sabemos até o momento a intenção.  Assim que HAL consegue tirar a alma de ambos do caldeirão infernal, retornam ao museu, mas dessa vez dentro da Lanterna, que haviam encontrado, na qual encontram a entidade CHAMA VERDEou seja, referente ao título da história. Nisso temos a revelação de que foi ela quem os trouxe até sua presença.  A CHAMA VERDE tenta persuadir HAL a abandonar os Guardiões, por conseguinte tornar-se um servo seu, optando pelo poder derivado da MAGIA e não da CIÊNCIA a qual é o fundamento comum das baterias – e anéis – dos guardiões, porém, o VINGADOR FANTASMA aparece e auxilia HAL, lembrando-o que ALAN SCOTT, o antigo Lanterna Verde, tinha poder obtido dessa lanterna; conjurando, então o lema “perdido no tempo” consegue controlar a CHAMA VERDE, o suficiente para saírem dessa enrascada com o VINGADOR ajudando-os a voltarem para seus corpos e levando a lanterna verde consigo- oferecendo assim para ambos além da liberdade uma nova perspectiva de vida para si.

a lenda da chama verde lanterna e superman

CONSIDERAÇÕES [E viagens psicodélicas]

É perceptível para quem conhece SANDMAN que GAIMAN em A LENDA DA CHAMA VERDE, trabalha aspectos similares. De certa forma, é como um pequeno “ensaio experimental” do que seria a saga de MORFEUS: alguém procurando seu lugar, buscando novos valores, tendo como pano de fundo na narrativa, misticismo e questões filosóficas.

HAL JORDAN está sentindo-se perdido no mundo, já não “vive” o mesmo sentimento com a namorada- no caso ex -, os amigos não parecem mais precisar dele- no caso OLIVER QUEEN, o ARQUEIRO VERDE-, carrega o fardo de ter acidentalmente destruído a BATERIA CENTRAL de OA, em suma, parece não fazer parte de nada e guarda dentro de si o mais variados demônios, ou seja, isso não é muito diferente de SONHO que apenas com a ajuda de um ente querido, sua irmã MORTE, redescobre novos motivos para seguir em frente. No caso de HAL, seu laço fraternal é com o amigo lanterna 02CLARK que, como a MORTE, é mais seguro de si naquele momento. GAIMAN, aqui já demonstra seu apego por questões METAFÍSICAS, trazendo de volta a linha cronológica dos LANTERNAS VERDES, a bateria energética da Era de Ouro dos quadrinhos, aquela usada por ALAN SCOTT,  que não possui a mesma essência que as baterias dos GUARDIÕES DE OA, esta no caso tendo a magia como fluxo de energia; outra questão abordada é a RELIGIOSIDADE: após a morte os heróis vão parar no limbo e encontram o personagem ESPECTROque GAIMAN usaria mais tarde em OS LIVROS DA MAGIA.  Também é importante mencionar que usar o limbo e o inferno dessa forma foi sugestão de ALAN MOORE para se encaixar no conceito de Limbo e Inferno de sua saga no título MONSTRO DO PÂNTANO. ESPECTRO se demonstra um tanto sarcástico quanto ao desespero dos heróis recém-mortos e isso é interessante. Vale lembrar que o limbo no cristianismo é considerado o lugar onde as crianças quando morrem, sem ter recebido a graça batismal, vão, não indo nem para o PARAÍSO, nem para o inferno por que apesar de tudo estão livre do pecado.

Muitos casos de crianças sofrendo depressão mostram que elas, muitas vezes, se culpam por algo que não é necessariamente sua culpa, e JORDAN como um menino sofrido carrega o peso dos Lanternas mortos no acidente em OA e a solidão que isso causa em si. Temos também o homem de aço demostrando certa arrogância em sua atitude ao confrontar ESPECTRO cara a cara e isso é um detalhe importante. Assim que ambos seguem para o inferno por HAL tentar novamente com a ajuda do anel retornarem a realidade, no caso a vida, acabam indo para o inferno. É nesse momento a parte filosófica-espiritual da coisa toda: No limbo, CLARK, disse que apenas a KLYPTONITA e a MAGIA poderiam feri-lo, mas quando adentram o círculo infernal descobre que a existência, principalmente a sua, não é apenas uma questão do que pode feri-lo fisicamente ou não, mas, sim a própria psique dos seres capazes de raciocinar. Os mortos ali pagando pelos seus pecados estão nessa penitência por que eles próprios o querem; esse conceito é abordado por GAIMAN de forma magistral em ESTAÇÃO DAS BRUMAS, SANDMAN.

A REVELAÇÃO leva o SUPERMAN às lágrimas; o limiar do limbo que estavam anteriormente, o levou agora para as profundezas do inferno e eminente insanidade ao saber que- e esse é uns dos dilemas humanos mais sofridos da vida– não é possível ajudar aqueles condenados a menos que eles queiram.  Logo mais, após saírem do inferno e irem de encontro com A CHAMA VERDE, esta se demonstra uma entidade similar à SERPENTE incitando EVA a comer o fruto da ÁRVORE DO CONHECIMENTO, ou, LÚCIFER buscando seguidores no intuído de destronar JEOVÁ, porém, o “santo” SUPERMAN, e o confuso JORDAN são auxiliados pelo VINGADOR FANTASMA, o ANJO da “parada”- que sempre teve como principal característica participar de várias histórias de outros personagens, mas, sua própria vida continuar um mistério: lembre-se da conversa que ele estava tendo no seu apartamento em NOVA YORK com OS LORDES DA ORDEM E DO CAOS. O VINGADOR incentiva HAL a lembrar de que as forças podem ser dominadas, mesmo as forças do CAOS podem ser CONTROLADAS; ouvindo o conselho usa O VERBO, no caso, O JURAMENTO antigo de ALAN SCOTT, para assim sobrepujar a força em desiquilíbrio- é importante lembrar que no conceito, “Vertigo” de Gaiman, a magia, é nula do bem e do mal, sendo aqueles que a utiliza quem dá a medida da força gerada.

a lenda da chama verde


Há muito no que “se viajar” na narrativa de NEIL GAIMAN, emWwoman158 poucos detalhes ele consegue homenagear muitos personagens- e até mesmo aparece dentro da história num easter egg bem legal-, logo no Prologo menciona CHANG TZU, conhecido também como EGG FU, um vilão da ERA DE PRATA, agente comunista com aparência de ovo- bem bizarro, por sinal, – e não para por aí. A primeira homenagem feita foi à SOCIEDADE DA JUSTIÇA, mostrando a máscara de gás e o, sobretudo de WESLEY DODDS, jogado entre os escombros.  Na época que NEIL escreveu esse roteiro, o personagem WESLEY DODDS, o SANDMAN da ERA DE OURO, em determinado processo de revitalização passou a ser membro da SOCIEDADE. É importante mencionar que GAIMAN queria trabalhar esse personagem, mas, pelo fato citado, isso não poderia acontecer no momento. Voltando ao roteiro, temos na cena da inauguração do Museu, SELINA KYLE, a MULHER GATO, dando o ar de sua graça. Surgem outras referências que valem a pena procurarem, no entanto uma bem legal e que, infelizmente, na tradução encontrada na revista WIZARD-BRASIL se perdeu, é o momento final no qual CLARK KENT se despede de HAL JORDAN e atrás deste, um homem está tirando as letras de um luminoso do cinema, onde está escrito FATAL ATRACTION, ficando apenas ACTION, ou seja, referência a ACTION COMICS WEEKLY.

Neil Gaiman em A lenda Da chma verde,ester


É fato que, apesar de todas as homenagens e conceitos, a narrativa em determinados instantes parece um tanto crua, nos fazendo refletir que os aspectos ali contidos da história poderiam ser muito mais explorados se contivesse mais capítulos, mas, não acredito que seja preguiça de GAIMAN em aprofundar o roteiro – sendo que a publicação ocorreu 10 anos depois de ser concebido, – mas, sim que se sentiu satisfeito com o resultado de qualquer forma: “Eu me orgulhei de aproveitar os elementos do enredo de Action Weekly, como retratar o Lanterna Verde – então o “homem sem medo” Hal Jordan – como alguém enfrentando uma crise emocional e que havia ligado para seus amigos e nenhum deles quis falar com ele, nem mesmo Superman, para quem Jordan liga no telefone do trabalho no Planeta Diário. [A Lenda da Chama Verde] acabou se tornando a história de dois velhos amigos – um com problemas e outro sem – e de todos os lugares que eu poderia levá-los. Eu a escrevi em uma semana. Eu amei escrevê-la. Eu adorei ‘brincar’ com esses personagens, como uma criança com um novo brinquedo ou um roteirista ensaiando uma peça com todos os atores veteranos que ele sempre admirou.”     — Neil Gaiman, na introdução.


  • A WIZARD-BRASIL era uma revista informativa sobre HQS, versão Brasileira da revista americana WIZARD PRESS, atual WIZARD ENTERTAINMENT GROUP, publicada pela PANINI Comiwizardcs em meados de 2000, durando 36 números com esse título, precisando mudar para WIZMANIA por causa de um processo judicial feito pela escola de idiomas de mesmo nome. Sob o novo nome a revista durou pouco tempo, sendo agora, um blog hospedado no próprio site da editora PANINI.
  • A revista WIZARD sabe-se lá por que diabos, não publicou o prefácio da obra original escrito por NEIL GAIMAN e MARK WAID. Espero de coração que essa história ainda seja republicada por aqui em formato merecido.

    a lenda da chama verde final


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: