Dossiê: Neil Gaiman/ entrevista realizada por Jeffrey Goldsmith [HEAVY METAL-Nº 21-Ano 3]


A digno de registro transcrevi essa matéria publicada na revista HEAVY METAL-Nº 21-ANO 3

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Série de entrevistas realizadas por Jeffrey Goldsmith

heavy2O escritor NEIL GAIMAN continua sua arte de escrever histórias que renovam constantemente os quadrinhos, desde o lançamento de SANDMAN há mais de dez anos. Apesar de inovadores, seus personagens e histórias são inspirados nos clássicos, e a arte é feita por artistas brilhantes como DAVE MCKEAN, entre outros.


JG: Eu traduzo muitas histórias da Heavy Metal em espanhol do francês para o inglês. Por isso acabei me tornando um pouco sensível á “voz” dos personagens, algo que você faz muito bem. Como explicar esse conceito de voz a pessoas que não são escritoras?

NG: Se você consegue dar uma fala ao personagem, você consegue identificar em um ou dois balões de urna história, quem está falando. Acontece o mesmo em um roteiro ou romance. Se os nomes caíram da página, você tem de ser capaz de colocar tudo de volta no lugar. Não pode haver nenhuma dúvida ao ler uma fala, sobre quem está falando. Eu suponho que isso seja a “voz” que você se refere. A jovens escritores que me perguntam a respeito de diálogos, digo que é uma questão de prestar  atenção e passar a escutar, Ouça as vozes na sua mente. Ouça.

JG: Isso pode ser aprendido ou é um instinto de certas pessoas que se tomam escritoras?

NG: Boa pergunta. Não sei… É algo em que você melhora com o passar do tempo. Aprendi muita coisa quando jovem jornalista ao fazer entrevistas. Conversava com alguém, então tinha 6.000 palavras para serem encaixadas num espaço de 2.000 destinadas à entrevista.  Assim, tem que se aprender a economizar palavras, a como reproduzir um padrão de voz, como reproduzir as idiossincrasias da fala em um espaço muito pequeno.

JG: E agora, quando você inventa um personagem, digamos DELÍRIO, que fala balões com arco-íris, como você “encontra” a voz dela’?

NG: Isso meio que apareceu na página. Pensei em DELÍRIO como essa figura nervosa, “punkóide”, uma criatura com uma mistura de pesadelo e dor. Mas não era o que ela queria quando foi para o papel. Outras pessoas diziam coisas tristes para ela, e eu ficava prestando atenção às quais seriam as respostas. Os personagens mais importantes, acho, são os mais previsíveis.

JG: SANDMAN é quem domina a cena. Ele simplesmente apareceu no papel?

NG: Bem, eu queria alguém aristocrático, mas também profundamente alheio a tudo. Acho que levou uns três ou quatro números da revista pra ver exatamente o que eu havia criado e corno funcionava. Por exemplo, um dos elementos chave com ele, estranhamente, eram uns balões em preto com o texto em branco, que deixaram loucos os assistentes de produção da revista por sete anos.

JG: Os personagens da série falam em balões coloridos…

NG: É uma das várias vantagens que os quadrinhos têm sobre a prosa, Você tem o letreiramento, e com ele pode criar vozes para os personagens, e tem um arsenal de recursos que pode utilizar.

JG: SANDMAN domina seu reino. Seu romance NEVERWHERE [Lugar Nenhum] se passa em um a espécie de submundo de Londres. As histórias acontecem num mundo além, através da literatura, começando com Gilgamesh. Por que você acredita que nos importamos com esse outro mundo?

NG: Há mais motivos provavelmente, mas posso dar duas respostas completamente diferentes que são igualmente verdadeiras. A resposta fundamental é porque existem mistérios. O que acontece quando você sonha?  Talvez esteja dentro de sua cabeça, talvez não, mas isso é algo completamente desconhecido. E há também a morte, que é algo ainda mais desconhecido. A origem de muita dessas caminhadas em lugares escuros vem simplesmente de um esforço de contar histórias sobre essas caminhadas. A outra resposta é uma jornada. Uma história é uma jornada que você faz. Você não retoma a mesma pessoa que partiu.  Muitas vezes a jornada do personagem vai do mundano ao miraculoso. Essa jornada ecoa para o universo do leitor.

JG: Você usa recursos de roteiro clássicos, como um grupo contando histórias numa taverna, mas você também faz algumas misturas.  Por quê?

NG: Não vejo nenhuma razão para negar os métodos verdadeiros e comprovados de contar histórias justamente porque eles são verdadeiros e comprovados. O prazer, para mim, de fazer a série FIM DOS MUNDOS foi que eu pensei comigo: “Okay, quero fazer um punhado de histórias. De que maneiras isso já foi feito antes? Aí imediatamente olhamos para os CANTEMBURY TALES, O DECAMERÃO, aquelas histórias na quais você reúne pessoas para contar histórias umas as outras. É uma forma antiga e funcional. Eu pensei: “Vamos fazer isso. Vamos deformar a história” . Foi um esforço muito consciente testar e fazer isso na taverna. Seis diferentes formas de seis  gêneros, variando de H.P.  LOVECRAFT, passando por algo que KIPLING  teria contado, até uma espécie de romance fanfarrão de ALEXANDRE DUMAS, e minha favorita, a que se passa num cemitério gigante. Eu tinha acabado de ler um livro sobre hábitos funerais ao redor  do mundo. E adorei. Fiquei completamente obcecado e deliciado pela diversidade de atitudes que tomamos com relação a nossos mortos.

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JG: Eu li em HERÓDOTO sobre os direitos de enterro dos animais no antigo Egito. Cada espécie de animal era enterrada em uma cidade diferente.

NG: A coisa mais triste sobre isso é que desenterraram os gatos que haviam sido mumificados. Pelo que eu sei, dois entre centenas de milhares desses gatos mumificados foram preservados, hoje se encontram no museu britânico. O resto deles, na época vitoriana, foi usado como adubo.

JG: Em ENTES QUERIDOS há uma cena que começa com uma imagem extraída diretamente da Mitologia Grega em que Adônis apanha Diana tomando banho na floresta. Por que essas imagens funcionam?

NG: Eu acho que elas estão intrinsecamente ligadas dentro de nós. Estive lendo recentemente sobre o assunto e, se você fizer uma analogia com computadores, elas fazem parte da BIOS. Durante a Era Vitoriana, muitos antropólogos ficavam malucos tentando descobrir de onde vinham as histórias e por que você encontra uma variação de histórias da CINDERELA em cada cultura do planeta. Eles até chegaram a pensar: “Bem, os primeiros povos, em algum vale da África, inventaram uma história e contavam uns para os ou

.JG: Ou então cada garota miserável no mundo quer que seu pai venha salvá-la da mãe e das irmãs malvadas.

NG: Está tudo interligado. Os aborígenes têm histórias desse tipo. Os índios também. Quase todas as histórias seguem uma sequencia completa, um padrão, formatos… Muitos desses “formatos” são a maneira pela qual damos sentido ao mundo.just

JG: E como damos sentido aos quadrinhos?  Eles são mais desenhos ou mais histórias?  Mais diálogo ou mais imagem?

NG: Acho que se são bons quadrinhos, elas se situam na mágica terra de ninguém entre a história e a arte. Quando eu tinha 13 ou 14 anos, fiquei de férias na França. Meu francês não era muito bom, mas eu peguei umas cópias de uma revista que estava chegando às bancas naquela época, chamada METAL HURLANT. Levei aquelas revistas para casa. Depois li as histórias, particularmente as de MOBIUS.  Francamente eu não entendia o que acontecia nelas, mesmo com a ajuda de um dicionário. Mas elas eram, obviamente, grandiosas, mágicas, maravilhosas e brilhantes. Só anos depois pude lê-las traduzidas. E descobri que não, não, não, elas eram como palavras sem sentido com absolutamente nada acontecendo. Não havia conteúdo. Acho que não sou capaz de voltar no tempo e lê-las novamente.  Elas eram interessantes para mim naquele momento, quando eu pensava que o texto estava no mesmo nível que a arte, e na verdade não estava. Eu acho que você deve ter ambos, mas também penso que, como escritor, se tivesse que escolher entre ler uma história com um bom roteiro, mas que não tivesse sido brilhantemente desenhada, e uma história muito bem desenhada, mas completamente vazia, eu escolheria a bem escrita.

JG: Mas que tipo de dívida você acredita que tem para com um artista como DAVE MCKEAN, com quem você trabalhou? Se vocês dois não tivessem se conhecido, suas carreiras seriam como são agora?

NG: Acho que DAVE e eu somos um bom exemplo. Nós dois ternos carreiras de sucesso, independentemente. DAVE como autor de projetos gráficos para capas e como artista de propaganda, e eu como novelista e escritor de prosa.  Mas não, eu acho que foi a feliz confluência de termos trabalhado em parceria que fez a diferença.  Fiquei deliciado quando vi uma edição da Newsweek com um artigo que citava nosso livro infantil “THE DAY I SWAPPED MY DAD FOR TWO GOLDFISH” [nota: O dia em que troquei meu pai por dois peixinhos dourados] como um dos melhores livros do ano no gênero.

JG: Tanto você quanto DAVE têm filhas. Você sente que isso ajuda a ser capaz de escrever um livro para crianças?

NG: O que incitou a criação do livro foi que nós dois lemos histórias para nossas filhas. Se você lê uma historia pra uma criança, você não a lê apenas uma vez. Você a lê de novo, de novo e de novo. Então eu quis escrever uma história que as crianças iriam gostar e que os pais não ficassem incomodados por lê-las 100 vezes para os filhos. DAVE queria fazer desenhos dos quais as crianças fossem gostar, mas que os adultos pudessem vê-los de forma que não fosse automática. Mas nossas carreiras tem se desenvolvido incrivelmente com base num apoio mútuo. Odeio ter de pensar de como teria sido minha vida se eu não tivesse encontrado DAVE.

JG: BLACK ORCHID [a minissérie em duas edições ORQUÍDEA NEGRA publicada pela GLOBO há alguns anos] ajudou bastante na carreira de vocês.

NG: A outra coisa que ajudou enormemente foi DAVE ter tido a visão e a sensação para o personagem SANDMAN. É difícil agora para as pessoas apreciarem o quanto eram radicais as capas de SANDMAN dez anos atrás.  O livro “DUST COVERS” [nota: CAPAS NA AREIA, no Brasil, publicado pela OPERA GRAPHICA EDITORA] tem todas as capas da série com comentários meus e de DAVE. O prazer de trabalhar com um artista como DAVE é que há alguns artistas que, quando trabalham com você, o que você tem de volta é tão bom quanto o que você esperava. Ás vezes o que você esperava era algo bem grande! Estou falando de pessoas como CHARLES VESS, CRAIG RUSSEL… Você sabe que eles vão detonar, e eles detonam!

JG: Parece um pouco da dinâmica entre JACK KIRBY e STAN LEE.

NG: Acho que essa é uma das parcerias na qual junto eles produziram coisas que nenhum deles individualmente seria capaz de produzir. Eu acho que quando olho para um trabalho como SIGNAL TO NOISE e MR. PUNCH são obras que nenhum de nós individualmente poderia ter feito. Você tem a mim e a DAVE tentando impressionar e deliciar um ao outro. Deliciar é a palavra chave.

JG: Isso me leva à pergunta sobre MR. PUNCH. Aquele boneco inglês é um personagem completamente desagradável. Então por que nós adoramos um cara tão terrível?

NG: Não sei. O fato de nós gostarmos dele é o que me fascina.  Ele sai por aí matando pessoas. Ele nem é do tipo adorável de sacana. Ele é um assassino. Ele começa matando o próprio bebê. Ele mata própria esposa. E sai matando todo mundo. Suponho que haja diversas explicações através dos anos por várias pessoas dizendo que ele representa o lado liberado da nossa individualidade e assim por diante. Eu não tenho idéia alguma. Acho que, novamente, é uma daquelas coisas interligadas que ficam dentro da BIOS.

ANOTAÇÕES NA AREIA:

  • JEFF GOLDSMITH: Atualmente é consultor de Marketing da empresa REVOLVE ROBOTICS, durante seus anos de carreira escreveu para revistas como WIRED,
    jefrrey

    _Jeffrey Goldsmith

    DETAILS, CONDE NAST TRAVELER, HEAVY METAL MAGAZINE.

  • REVISTA HEAVY METAL: É uma publicação que surgiu nos anos 70, durando até 2003, contendo várias histórias em quadrinhos fechadas, dos mais variados autores, entre eles JEAN HENRI GASTON GIRAUD, mais conhecido pelo seu pseudônimo MOEBIUS.  As histórias eram marcantes por seu teor alto de violência e erotismo, sendo considerado um importante veículo para aqueles que se interessam por fantasia e ficção científica. A primeira versão da revista surgiu na França, em Dezembro de 1974, sob o titulo de MÉTAL HURLANT [Metal Rangente, traduzido ao pé da letra]. No ano de 1977 ocorreu a versão Norte- Americana, a qual no seu inicio publicava apenas as histórias do país de origem, apenas pouco tempo depois produzindo material próprio assumindo o nome de HEAVY METAL.  No Brasil o título foi publicado pela HEAVY METAL EDITORA, licenciada pela METAL MAMMOTH, tendo ao todo 24 edições.
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_Arte de Moebius para ‘Heavy Metal’ magazine, September 1977

SEGUE O VÍDEO COM IMAGENS DAS CAPAS DAS REVISTAS “GRINGAS” DE 1977-2000. 

 

“… O que faz um homem ganhar, se ele perde a si mesmo? Já pensou nisso?”

In O Homem da Televisão, pág. 30

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Heavy_Metal_(revista)

https://www.linkedin.com/in/amarketingconsultant

http://www.foundersspace.com/mentors/jeff-goldsmith-featured-advisor/

http://tec-cia.com.br/2012/10/27/a-fantastica-hq-heavy-metal-suas-adaptacoes-e-a-nova-serie-metal-hurlant-chronicles/

http://www.guiadosquadrinhos.com/edicao/heavy-metal-brasil-n-0/he04701/61993

FANFIC: DAVID BOWIE ACOLHIDO POR MORFEUS


– Está na hora.
– Cadê a “Morte”?
– Ela não virá, Seu trabalho aqui, com os mortais, está feito. Vamos retornar ao Reino dos Sonhos.

Homenagens assim sempre emocionam.

FONTE: NEIL GAIMAN BRASIL [Facebook]/ G. Willow Wilson [Twitter]


 

LIGA DA JUSTIÇA DA AMÉRICA- OS MELHORES DO MUNDO: MESTRE DOS SONHOS #26 [GRANT MORRISON/ HOWARD PORTER]


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Estamos em um sonho que a criatura construiu como campo de concentração. Que tipo de regras se aplicam?”- Superman

Você veio com um manual de instruções para o mundo desperto, Super- Homem? Você já esteve aqui antes.”- Daniel [Sandman]


SINOPSE: “Numa noite, todos os habitantes do planeta Terra caem em sono profundo, exceto a Liga da Justiça. Em meio ao salvamento de carros, aviões e navios desgovernados, os heróis recebem uma surpreendente visita na Torre de Vigilância: Sandman! Indiferente aos questionamentos cada vez maiores dos heróis, o Mestre dos Sonhos alerta à Liga que, para libertar o mundo, será preciso salvar uma criança, cuja vida corre perigo em nome… da Coisa!” Guia Dos Quadrinhos.


Quando li ENTES PERPÉTUOS: O UNIVERSO ONÍRICO DE NEIL GAIMAN, de HEITOR PITOMBO, descobri sobre a aparição de DANIEL, considerado o filho de MORFEUS por ter nascido no REINO DOS SONHOS, que assumiu o cargo após sua morte, numa história escrita por GRANT MORRISON. Claro, como leitor aficionado por SANDMAN– e criações de NEIL GAIMAN– queria muito lê-la, mas infelizmente demorei um tanto para encontra-la, o fazendo há pouco tempo, tendo lido apenas nessa noite de chuva.

“… PERCHANCE TO DREAM” é o título de JUSTICE LEAGUE786659-jla22 OF AMERICA #22, no qual DANIEL “dá as caras”, se formos traduzir ao pé da letra, seria algo como “… talvez, sonhar”, no caso, o termo, Perchance, não é muito utilizado, segundo um amigo meu, era bastante difundido no inglês arcaico, comum na época de SHAKESPEARE. Digo isso por que, logo pelo título, já podemos ter noção da forma que GRANT MORRISON trata suas narrativas.

No Brasil, o título foi traduzido como MESTRE DOS SONHOS, obviamente para existir uma referência mais explícita ao personagem ícone do selo VERTIGO, SANDMAN. A edição #26, da LIGA DA JUSTIÇA DA AMÉRICA: OS MELHORES DO MUNDO, publicada pela EDITORA ABRIL, em 1999, contêm três historias: a primeira delas, O FIM DE UMA ERA, equivalente a edição # 562 de ADVENTURES OF SUPERMAN, a segunda, A COISA, edição JLA # 22, a terceira, CONQUISTADORES, continuação direta da segunda história, edição JLA #23.

O FIM DE UMA ERA possui o argumento de KARL KESEL e JERRY ORDWAY, desenhos de TOM GRUMMETT, e, basicamente, mostra as consequências da compra de LEX LUTHOR DO PLANETA DIÁRIO, mudando o nome para LEXCOM; e a fuga de MIKE “METRALHADORA” GUNN, da U.C.E., com a ajuda da INCENDIÁRIA, que são impedidos pelo Homem de Aço.

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Como todos sabem quando SANDMAN começou a ser publicado, no caso, a releitura de GAIMAN, o personagem ainda fazia parte do selo DC Comics, no entanto, a partir do momento que começaram  a surgir histórias com teor mais sombrio, incluindo SANDMAN, como, por exemplo, a releitura do MONSTRO DO PÂNTANO por ALAN MOORE, a editora acabou criando o selo adulto VERTIGO, porém mesmo que GAIMAN tivesse se distanciado um pouco do universo DC, durante a narrativa da trajetória do REI DOS SONHOS, este nunca chegou a se distanciar completamente, colocando, a título de exemplo, a aparição de SUPERMAN e BATMAN, durante o funeral de MORFEUS, em SANDMAN: O DESPERTAR. Por isso sempre existirá a possibilidade dos escritores utilizarem os personagens criados por GAIMAN, no universo “normal” da DC Comics, mesmo que o escritor inglês não queira que isso aconteça. Até onde tenho ciência, existe um acordo de NEIL GAIMAN com a editora, de que, mesmo que a DC seja dona do personagem MORFEUS, apesar do escritor ter reinventado o personagem, tornando o totalmente diferente de WESLEY DODDS, SANDMAN da Era de ouro dos quadrinhos, esta não permitirá a utilização do personagem por outro escritor sem seu consentimento, no entanto, o seu substituto, DANIEL, não faz parte do acordo, ou seja, este pode ser utilizado. Pelo o que andei pesquisando, GAIMAN não era de acordo que GRANT MORRISON, usasse DANIEL nessa história, mas não pôde impedir. De qualquer forma, DANIEL, após essa aparição parece ter sido esquecido.

A APARIÇÃO DE DANIEL NA TORRE DA VIGILÂNCIA:


gears-of-war-skull-2WARNING: Contêm Spoilers


Algo está erLiga das justiça da américa- mestre dos sonhos-03rado”, um menino vagando pelas ruas, de nome MICHAEL HANEY, reflete sobre isso, ele não sabe exatamente o que é, mas novamente, após entrar em sua casa, repete em sua mente: “Algo está errado”. Parece uma noite como qualquer outra, envolto em sombras, a lua brilhante no céu, e alguma coisa espreitando, vigiando as pessoas, vigiando o menino… Esperando. Enquanto isso, talvez, do outro lado da cidade, SUPERMAN é convocado por AJAX, O MARCIANO, que diz que as pessoas estão começando a cair num sono profundo, algo está totalmente errado, SUPERMAN ruma, então, para a TORRE DA VIGILÂNCIA.

MICHAEL HANEY, por sua vez, agora está no Reino dos Sonhos, adormeceu depois de fazer alguns desenhos em sua solidão, no quarto.

Na torre, DALJA- Mestre dos sonhos-04NIEL, o novo SANDMAN, está à espera de todos os heróis, segundo, o anjo renegado, ZAURIEL, o perpétuo é uma forma abstrata, as máquinas revelam isso.  “É mais antigo do que pensa. Espreitou o mundo e agora ataca. Primeiro, conquista nos sonhos. Depois na realidade”, diz, DANIEL, quando indagado por SUPERMAN sobre o que seria a presença alienígena que possivelmente está causando o sono repentino dos cidadãos. DANIEL também revela, entre um e outro signo em sua linguagem metafisica, que uma criança clama pela ajuda d’OS MELHORES DO MUNDO, e esta está no plano onírico, lugar que os heróis devem ir, agindo de acordo com a do menino.

MICHAEL HANEY, continua no seu quarto, mas diferente de antes, no plano onírico, sendo tentado pelo alienígena, pela COISA.

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A COISA, no sonho, domina a mente das pessoas, divide suas emoções, interfere na sua vontade de potência, deseja torna-las suas marionetes, Zumbifica -las, enquanto, HANEY, procura por um nome, não, mais que isso, procura superar o niilismo, auxiliado pelo mensageiro DANIEL, o SENHOR DOS SONHOS, que mostra o desenho feito por HANEY, antes de adormecer: o SUPER- HOMEM, essa é a salvação da perda da razão, perda dos sentidos, ele precisa tornar-se o Super Homem do filosofo, NIETZSCHE.

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Durante esse meio tempo, os heróis: SUPERMAN, MULHER MARAVILHA, LANTERNA VERDE [KYLE RAYNER] vagam pelos sonhos a procura do menino perdido, o menino que deposita fé nos potencial dos heróis. “Por que você sempre exita? Jordan, que usou o anel mágico antes de você… afeta todas as suas ações” afirma, DANIEL, quando, KYLE, demonstrasse inseguro, sem saber o que fazer, nem aonde ir. O LANTERNA VERDE, novamente, demonstra insegurança quando age de acordo com sua vaidade, mesmo admirando HAL JORDAN, e diz que todos consideram JORDAN, o antigo portador do anel, como o melhor Lanterna de todos, porém DANIEL, afirma que KYLE, sabe algo que JORDAN nunca aprendeu: sentir medo. A coragem pode, em muitos casos, gerar arrogância, favorecer a fúria, enquanto o medo, quando superado, consegue tornar- o individuo virtuoso, digno, capaz de se sacrificar por um ideal.

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As duas passagens são extremamente importantes na narrativa por que, ao mesmo tempo em que, DANIEL está com os heróis, também está com HANEY, e após mostrar esses dois pontos de vistas, uma consciência onírica reflete: “Mas é só imaginação. Todos dizem que ele tem isso de sobra. Que ele é estranho. Ela sabe”.

Por um lado, o individuo deve se aperfeiçoar, potencializar sua própria personalidade, buscar sua própria felicidade, e não a felicidade coletiva, antes de pensar na sociedade, tornar-se o Super Homem; por outro, o indivíduo deve vencer o medo, seguir em frente, ser capaz de ajudar, amar o próximo, buscar a paz coletiva– o Lanterna Verde é o signo para isso. Mas: “A voz do pai é grossa e engraçada, como se ele falasse com gelatina na boca. Como duas vozes ao mesmo tempo. Talvez seja só imaginação.”, prossegue a voz onírica.

A entidade alienígena, segundo, AQUAMAN: “A Coisa… está livre… divide… e invade (…) ela é mais velha que o tempo (…) ela divide e conquista.”, no entanto, quando a vontade de potência do menino, HANEY, aliada a convicção dos heróis no sonho; e o esforço dos membros da LJA despertos, a COISA é derrotada, seu sonho deixa de ser palpável, e o conquistador descobre que acima do lobo no riacho que devorou a ovelha que, supostamente, sujou sua água, existe outro lobo mais feroz acima, espreitando, capaz de devorá-lo.

“Nas mansões ilimitadas do rei das histórias um sonho termina”

CONSIDERAÇÕES:

Toda a narrativa de MORRISON é repleta de simbolismo, começando pelo designo da entidade alienígena: A COISA. É bem provável que ela seja da mesma raça de STARRO, O CONQUISTADOR ESTELAR, que apareceu pela primeira vez na história, THE BRAVE AND THE BOLD #28, em 1960, porém isso não é claro, MORRISON, nos deixa na duvida, afinal de contas, mesmo tendo as mesmas particularidades, STARRO, é roxo, ao passo que, A COISA é verde, de tamanho descomunal. Importante frisar que o nome do segundo capítulo é CONQUISTADORES, e tem duplo sentido: tanto pode remeter e especificar que a COISA é descendente de STARRO; quanto é o símbolo “Nietzschiniano” para o Super Homem, do filosofo, tendo como base HANEY e os membros da LIGA DA JUSTIÇA DA AMÉRICA.  A denominação COISA também remete a especulações metafísicas , por exemplo, se alguém pegar uma pedra, puser em cima de uma mesa, em seguida com uma marreta dividi-la no meio, o resultado será: duas pedras, ou uma pedra partida em dois pedaços? Ou seja, quantas coisas serão? O que é uma coisa? Definimos as coisas por suas propriedades individuais, ou como um todo?

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_“Cuidado com a coisa, coisando por aí, a coisa sempre coisa, também coisa por aqui… Sucesso e seu resgate envenena sua atenção”Marcianos Invadem a Terra [Legião Urbana]

MORRISON, não por acaso, quis usar DANIEL em sua história; em A TEMPESTADE, SHAKESPEARE, versa o seguinte: “Somos feitos da matéria de que são tecidos os sonhos e a nossa vida tão curta tem por fronteira um sono”, ou seja, todas as informações que temos em relação ao universo como um todo, são representações de nossa mente, então como é possível provar a existência de uma realidade? Quando pensamos em alguma Coisa, prontamente vem à mente o contrário de Nada, mesmo que não tenhamos a imagem delineada de objeto, ou ser vivo, LJA- Mestre dos sonhos-10algum. Durante o período de sono, e consequentemente sonhos por mais que haja nossa interação, tudo sempre remete a névoas, e muito do que vivemos empiricamente nesse momento, ao acordarmos cai no esquecimento. Quando KYLE acredita já ter despertado do sonho, diz que pode então fazer o que quiser; é possível se libertar das representações das crenças? O conceito, de superação individual e transcendência além da estrutura e contexto, de NIETZSCHE, aparece nesse momento da narrativa.

Usar a COISA como um conceito filosófico de nossa definição <Não definição> da realidade; e DANIEL como a representação abstrata das ideias, analogando, tanto com conceitos de NIETZSCHE; quanto com o MITO DA CAVERNA do filósofo grego, PLATÃO, foi uma “sacada” extremamente filosófica, praticamente irônica, de certa forma.

A história é capaz de oferecer várias interpretações seguindo a premissa entre especulações da realidade e dos sonhos; MORRISON conseguiu em poucas páginas fazer jus ao personagem <conceito> “criado” por NEIL GAIMAN. A arte de HOWARD PORTER é caprichada, principalmente nos quadros com DANIEL.

“Ela teme o que sabe. Ela sabe o que todos os conquistadores descobrem: sempre há alguém maior que você”

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

http://www.guiadosquadrinhos.com/edicao/melhores-do-mundo-os-n-26/mmu0302/7248

http://observationdeck.kinja.com/a-history-of-dc-crossovers-the-sandman-1708127365

https://pt.wikipedia.org/wiki/Kyle_Rayner


NEIL GAIMAN: O escritor de SANDMAN entrevistado [Revista PANACEA Nº 38- Ano V]


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Arevista Panacea surgiu numa época na qual a internet começou a dar seus primeiros passos, e a importância do registro dessa entrevista está no fato de que nos mostra um Neil Gaiman um tanto diferente do qual o conhecemos atualmente. É visível  [de acordo com entrevista] que naquela época Gaiman, como a maioria dos escritores [de quadrinhos] não nutria muito interesse pelo cinema, diferente de agora que procura se envolver com 7ª arte e já teve alguns roteiros filmados/ adaptados. O Gaiman da entrevista é o escritor pós Sandman, buscando seu lugar no mundo dos quadrinhos, e ainda não tinha escrito seu primeiro romance solo Lugar Nenhum, e muito menos Deuses Americanos.

Sem delongas, bom, eis a transcrição dessa entrevista da revista PANACEA Nº 38 [MARÇO/ ABRIL/ 1996]- espero que gostem.


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Esta entrevista se deu por e-mail, uma das muitas coisas, extremamente úteis que a internet pode oferecer, e que será uma mão na roda em muito pouco tempo [se o governo brasileiro não fizer muita besteira]. O inconveniente é que ela se assemelha a uma entrevista por fax ou por carta porque é uma entrevista por carta. Só que mais dinâmica e mais barata. O resultado é que as perguntas foram feitas, respondidas, e novas perguntas feitas em cima das respostas, mas sem ter a linguagem corporal e o modo de falar, a entonação e as ênfases do entrevistado, que ajudam sobremaneira na condução de uma boa entrevista. Outro grande problema foi a falta de tempo, que acabou me forçando a concentrar as perguntas e assim, ser obrigado a escrever o que faltou. Aí está, este misto de matéria e Entrevista. Mais entrevistas nesse estilo [com artistas estrangeiros] já estão pautadas. Aproveitem porque é só na Panaceia


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Neil Gaiman é inglês. Ou britânico, depende sobre o que você quer falar.

Na infância, foi um pequeno rato de biblioteca. Leu muito. Tanto, que resolveu que seria escritor. De livros. Mas Gaiman também lia muitos quadrinhos [as histórias de KIRBY chegavam à Inglaterra com um certo atraso, o que fez com que Gaiman as lesse quase todas].

Depois de trabalhar como crítico “cultural” em jornais e revistas Ingleses, resolveu que seria escritor. De quadrinhos. E assim o fez. E fez bem: após a sua estréia, em VIOLENT CASES, foi atrás dos editores da DC- que se encontravam em Londres “caçando cabeças” -, acompanhado de DAVE MCKEAN, e fechou negócio para a produção da minissérie ORQUÍDEA NEGRA. Um pouco depois, Gaiman foi contatado pela editora KAREN BERGER para começar a escrever um título mensal. Nasceu SANDMAN, e Gaiman mudou-se para os EUA.

KAZI: Qual a sua idade?

GAIMAN: 34.

KAZI: Você tem curso superior?

GAIMAN: Não.

KAZI: Por que você mudou para os Estados Unidos? Por causa do trabalho na DC? Você está feliz aí?

GAIMAN: Eu mudei porque minha esposa é americana, e a família dela Panaceia 03queria ver as crianças. Estou feliz, apesar de sentir muitas saudades da Inglaterra.

KAZI: Você vive nos EUA com sua mulher e filhos? Quantos anos têm seus filhos? Eles lêem seus quadrinhos?

GAIMAN: Sim. Eles têm 11 e 9. Meu filho, MICHAEL, gosta dos trabalhos que eu fiz para o SPAWN [quadrinho de TODD MCFARLANE, publicado pela IMAGE, editora do próprio Todd].

KAZI: Quais são as diferenças básicas entre os quadrinhos americanos e os quadrinhos ingleses?

GAIMAN: A maioria dos quadrinhos ingleses são antologias semanais.

KAZI: Você sempre escreveu o que gostaria de ler?

GAIMAN: Sempre. Há muito tempo eu escrevi um livro que eu não leria, por dinheiro. Depois que ele foi publicado eu decidi que nunca mais faria isso.

KAZI: Quais são seus escritores de quadrinhos preferidos?

GAIMAN: ALAN MOORE, DAVE SIM, CHESTER BROWN, GILBERT HERNANDEZ, WILL EISNER, JEFF SMITH…

KAZI: Você acha que essa onda de escritores de quadrinhos “autobiográficos” como HARVEY PEKAR [AMERICAN SPLENDOR], CHESTER BROWN [YUMMY FUR, UNDERWATER] ou mesmo PETER BAGGE [HATE] é um avanço na linguagem dos quadrinhos?

GAIMAN: Eu acho que qualquer aumento no número de gêneros e assuntos nos quadrinhos é sempre um avanço.

KAZI: Alan Moore é um escritor esplêndido, e a maioria dos escritores de quadrinhos da DC ou da MARVEL [bem, não tanto dessa última] que perco meu tempo procurando são ingleses. Você acha que Moore foi de importância crucial pra “invasão inglesa” do mercado americano no início dos anos 90?

GAIMAN: Sem dúvida. Sem Alan nada disso teria acontecido.

KAZI: Certa vez você disse sobre o personagem SWOON, de CEREBUS [na verdade, você falou de seu autor, DAVE SIM]: “Ele consegue me imitar, ao menos em Sandman”. Num dos capítulos de “VIDAS BREVES”, enquanto SONHO e DESTRUIÇÃO, estão conversando, DELÍRIO está fazendo algumas “coisas”, e uma dessas coisas é… Cerebus. Foi uma homenagem sua ou de JILL THOMPSON [a desenhista]? O que você acha de Cerebus como quadrinhos literatura?

GAIMAN: Estava no roteiro. Eu acho que Cerebus se dá melhor como literatura quando tenta ser bom quadrinho do que quando tenta ser boa literatura.

KAZI: Você costumava desenhar quadrinhos. Você ainda desenha?

GAIMAN: Eu desenhei urna história chamada “BEING AN ACCOUNT OF THE LIFE OF THE EMPEROR HELIOGABOLUS”, que foi publicada naPanaceia 04 revista Cerebus 174 [acho].

KAZI: Você acha que a crítica de quadrinhos é um mal necessário? Pergunto isso porque, no Brasil, os críticos não têm formação: eles são fãs. Você acha que é necessário dar aos quadrinhos o status de arte?

GAIMAN: Eu acho que a crítica de qualidade [corno um todo, não apenas “apontar os erros”] é vital para qualquer meio. Mas não, não acho necessário dar aos quadrinhos o status de arte. Você produz trabalhos mais “vitais” se ninguém estiver olhando.

KAZI: Sua experiência como crítico de quadrinhos fez de você um melhor escritor de quadrinhos? Ou apenas fez com que você quisesse se tornar um escritor de quadrinhos?

GAIMAN: Eu nunca me vi corno um crítico muito bom, seja de literatura, cinema ou quadrinhos. Entretanto, conhecer bons críticos foi de grande ajuda – é bom ver as coisas pelos olhos deles.

KAZI: Onde você trabalhou como crítico de quadrinhos e cinema?

GAIMAN: Em várias revistas e jornais ingleses de 1983 a 1987. Eu também resenhava livros nessa época.

KAZI: Que tipo de filmes você gosta? Eu arriscaria dizer Fellilíí…

GAIMAN: Eu gosto de filmes difíceis. Acho FELLINI FASCINANTE, mas sua prioridade não são as histórias, mas as imagens e as pessoas, e eu tendo mais para as histórias. Cineastas que eu admiro: PETERPanaceia 05 GREENAWAY, JAN SVANK: Major, Bob Fosse e Terry Gilliam.

KAZI: Você já teve vontade de escrever e/ou dirigir um filme? Sobre O que ele seria?

GAIMAN: Às vezes, mas quando isso acontece tomo uma ducha fria ou dou um passeio longo até a vontade passar.

KAZI: Que tipo de música você gosta?

GAIMAN: Tudo. Atualmente estou gostando muito de JOHN CALE e CONLAN NANCARROW.

Panaceia 06VIOLENT CASES é tida como a entrada de Gaiman nos quadrinhos, mas a coisa não é bem assim. Gaiman trabalhou em diversas outras revistas na mesma época, com resultados pouco animadores. Não por si, nem pelo meio [médium], mas por ter constatado que o mercado poderia ser pior do que parecia. Hoje, Gaiman recebe convites aos montes para desenvolver projetos, mas falta-lhe tempo.

KAZI: Como foi sua experiência com a revista inglesa 2000 A.D., da EDITORA FLEETWAY?

GAIMAN: Não me impressionou muito. Eu parei de trabalhar com eles quando vi que eles estavam reeditando meu trabalho e não estavam me pagando por isso.

KAZI: Sobre o que era “FUTURE SHOCK”?

GAIMAN: Houve 5 ou 6 “Future shocks”histórias divertidas, estranhas e curtas com finais esquisitos. A única da qual tenho boas lembranças foi uma discussão de duas páginas sobre a utilização do planeta Terra como um enfeite decorativo.

KAZI: Quem é PAUL GRAVATT? As pessoas no Brasil sabem muito pouco sobre a REVISTA ESCAPE. Qual é a importância de Gravatt e da Escape para os quadrinhos britânicos?

GAIMAN: Paul Gravatt é o atual curador do Museu Inglês de Quadrinhos. Ele editou a Escape, que era uma das melhores revistas de quadrinhos que eu já vi, durante os anos 80.

KAZI: Qual é exatamente o seu papel no quadrinho MR. HERO?

GAIMAN: Eu o inventei, e sugeri JIM VANCE para escrevê-lo. Eles [a EDITORA TEKNO COMIX] me enviam a revista quando ela sai.

KAZI: Ouvi um rumor acerca de um projeto chamado NIGHT CIRCUS, que você escreveria e SIMON BISLEY faria a arte. É verdade?

GAIMAN : Para ser honesto, eu não sei se Night Circus acontecerá algum dia. Veremos…


VIOLENT CASES foi uma das primeiras coisas que li de Neil Gaiman. Um álbum originalmente publicado em preto e branco [serializado na revista Escape] e depois em cores [resgatando a arte maravilhosa de Dave McKean] pela TUNDRA, a extinta editora de KEVIN “Teenage Mutant Ninja Turtle” EASTMAN. A história gira em torno de uma criança e a forma como ela vê um mundo que não compreende: o mundo adulto. O título é uma brincadeira com um mal entendido: os gângster carregavam “violin cases” [caixas de violinos, onde escondiam suas armas].


KAZI: Violent Cases foi uma espécie de despertar para você?

GAIMAN: Um despertar? Suponho que sim. Foi o trabalho mais honesto que fiz em minha obra ficcional, e foi o ponto no qual percebi que o que faz de um [a] artista diferente ou importante é o [a] próprio [a] artista.

KAZI: Estaria Violent Cases completa com MR. PUNCH?

GAIMAN: Eu duvido.

Panaceia 08

SIGNAL TO NOISE, a segunda Graphic Novel de Gaiman [também em parceria com McKean], foi também serializada em revista, desta vez em THE FACE. A EDITORA VICTOR GOLANCZ publicou o álbum na Inglaterra, e a DARK HORSE nos EUA. SIGNAL TO NOISE [a expressão] refere-se à relação entre sinal e ruído numa transmissão: quanto mais sinal menos ruído, mais compreensível à mensagem, e vice-versa. A história é uma fábula sobre mortalidade, relacionamentos e começos e fins. O pivô é um cineasta [uma homenagem a EISENSTEIN] que descobre estar com câncer, e que talvez não tenha tempo de terminar seu último filme.

KAZI: Você já pensou na possibilidade de encontrar com suas criações quando morrer?

GAIMAN: Não. Às vezes eu imagino se eles iriam vir para me ver quando eles morressem. Afinal de contas, se eu vou me encontrar com meu criador, talvez eles façam o mesmo…

KAZI: Por que você diz, em Signal to noise, que a virada do milênio é em 31 de dezembro de 1999 se, na verdade, ela se dará em 31 de dezembro dePanaceia 07 2000?

GAIMAN: Percepção pública. É como o Odómetro de um carro, o momento em que ele passa dos 1000 para os 2000. E o último “fervor de milênio” foi quando [o ano] 999 virou para 1000, não quando 1000 mudou um dígito e se tornou 1001. Eu sei qual Ano Novo eu vou comemorar…

KAZI: Sobre o corcunda, na vila do filme, em Signal to noise: é preciso viver à margem da sociedade para ver as coisas? Seria o corcunda aquele que está realmente livre, em oposição à mulher que estava na prisão?

GAIMAN: Eu não acho: ele está lá mais para ilustrar a forma como uma mente criativa trabalha. Eu preciso de um personagem para [dizer] isso, portanto eu tenho que criá-lo. Mas os marginais frequentemente veem com mais clareza: eles olham de fora, e não de dentro.

KAZI: Apocalipse é salvação? Apocatástase, em português, também significa “doutrina herética segundo a qual, no fim dos tempos, serão admitidas ao Paraíso todas as almas, inclusive a do Diabo”. Você não refere essa acepção em Signal to noise. Você a conhecia? Ela estava escondida intencionalmente?

GAIMAN: Eu não acho. Não. Não em Signal to noise, em momento algum – é um fim, não um começo. Eu não conhecia esse significado de apocatástase, mas agora que você me disse eu provavelmente vou usá-lo na versão para novela radiofônica de Signal to noise.

KAZI: Quando e por onde será irradiada essa versão radiofônica?

GAIMAN: BBC RADIO 3 . Ainda este ano, eu espero.

PUNCH foi a última obra publicada de Gaiman em parceria com McKean. Gaiman refere-se a ela como uma “autobiografia mentirosa”. Nela, o escritor volta ao passado e vê, com seus olhos de garoto, as relações familiares de seu avô, entremeando a narrativa com uma peça de teatro de marionetes secular chamada Mr. Punch [THE MR. PUNCH AND JUDY SHOW], onde um homem mata um bebê, a mãe do bebê, um policial, a Lei, o Demônio e se dá bem no final.

As metáforas não são tão evidentes. Gaiman fez questão de deixar as coisas pouco óbvias [tanto quanto possível], ao ponto de brincar que só ele entenderia a obra. Mas é clara a intenção de expurgar sentimentos passados e dúvidas presentes. Aparentemente sem sentido, Mr. Punch é a obra mais redonda de Gaiman até hoje. Afiada e belíssima. E que não está, ainda, completa.

GOOD OMENS[BONS AUGÚRIOS/BELA MALDIÇÕES] é um livro de Gaiman, escrito em parceria com TERRY PRATCHETT. No livro, o Anticristo nasce e é trocado na maternidade, não recebendo a “educação” que deveria. O Apocalipse fica um pouco diferente das escrituras por causa disso…

KAZI: Mr. Punch é autoanálise?

GAIMAN: Não é autoanálise: é uma autobiografia não confiável [mentirosa], o que é bem diferente.

KAZI: Seus livros, inclusive GOOD OMENS, parecem narrar despertares diferentes. Seria essa sua intenção: acordar ou fazer com que seu leitor acorde?

GAIMAN: Um pouco dos dois. Todas as histórias são despertares, e todo despertar é um momento de criação: é quando nós moldamos o mundo.

KAZI: Sempre há uma história dentro da história em seus livros, e elas sempre se misturam. Isso é bastante claro em Mr. Punch e Signal to noise. É uma “fórmula” ou não? WATCHMEN, de Alan Moore, teria sido uma influência?

GAIMAN: Uma fórmula? Não acho. De certa maneira é uma obsessão se exorcizando. Meus personagens definem-se através das suas histórias. Watchmen, nesse caso, me influenciou menos que as obras ficcionais de BORGES e GENE WOLFE.

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KAZI: Você parece bastante interessado em histórias e contadores de histórias e em formas de contar histórias. Foi por isso que você escolheu os quadrinhos? Por que não usar outro meio? Eu li que você gostaria de ser escritor, é verdade?

GAIMAN: Eu gosto de contar histórias. Eu gosto de quadrinho porque é um meio sub-utilizado e é o único lugar onde se pode fazer ficção serializada hoje em dia. Eu já escrevi “meio-livro” [Good omens], e indubitavelmente escreverei mais alguns antes de morrer.

KAZI: Você está procurando padrões nas histórias, uma conexão entre todas as histórias, inclusive a história da sua vida e a de todo mundo? Como se tudo estivesse escrito num grande livro [mais ou menos como o livro de DESTINO]?

GAIMAN: Claro, se não fosse assim, por que escrever?

KAZI: O que você acha de colocarem finais felizes nas histórias antigas?

GAIMAN: Eu acho que as histórias, tal como a água, encontram seu nível, apropriado para a cultura e para o tempo nos quais são contadas.

KAZI: Qual foi o problema com a DC e o álbum Mr. Punch? Por que a DC só imprimiu 15 mil cópias?

GAIMAN: Porque o departamento de marketing [que define a tiragem das revistas] decidiu que iriam imprimir 15 mil cópias. Não faço a menor idéia do porquê.

KAZI: Haverá realmente mais outros dois álbuns, além de Violent Cases e Mr. Punch [uma obra em quatro partes]?

GAIMAN: Possivelmente. Veremos. Para ser honesto, eu não sei – em alguns anos eu posso sentir vontade de escrever o próximo.

KAZI: Eu achei Good Omens engraçado, mas tocante. Você ficou satisfeito com o fim do livro?

GAIMAN: Eu nunca fico satisfeito.

Panaceia 10

MIRACLEMAN se chamava MARVELMAN, mas uma certa editora Norte- Americana resolveu criar caso… Alan Moore foi o responsável pela volta do herói, nos anos 80. Só que ele voltou mais, er, real. Moore transformou Miracleman em uma espécie de deus; afinal, um ser com poderes virtualmente ilimitado não poderia ser um humano. Comparável ao que fez com o MONSTRO DO PÂNTANO, Moore transformou Miracleman num quadrinho de super-herói digno de ser lido [façanha considerável]. Gaiman herdou [por indicação de Moore] a revista da Eclipse e vinha escrevendo até a falência da editora. Ninguém sabe o que será de Miracleman no futuro. Interessante saber que Gaiman já criticou em entrevista os quadrinhos da IMAGE e o gênero de super-heróis em geral [“clones de STAN LEE de quinta geração“, sendo que um deles seria o próprio Stan Lee].

KAZI: Hoje em dia os super-heróis são bem diferentes do que eram há 30 anos. O que você acha dos super-heróis atuais?

GAIMAN: Eu não sei o que pensar, realmente. O que sei é que tudo o que me lembro dos super-heróis da minha juventude é amenizado por uma nostalgia tema, e que os heróis de hoje. Bem, não tenho muita saudade deles.

KAZI: Você acha que, se os super-heróis realmente existissem, eles se pareceriam com a sua versão de Miracleman?

GAIMAN: Não.

KAZI: O que está acontecendo com a revista Miracleman da Eclipse? MARK BUCKINGHAM [o desenhista] já foi pago?

GAJMAN: Não, Mark ainda não foi pago. Acredito que a Eclipse abriu falência. Você sabe tanto quanto eu sobre o futuro [da revista].

SANDMAN dispensa apresentações? Talvez. Mas falar um pouco não fará mal a ninguém. Há sete “seres” sencientes chamados PERPÉTUOS. Os Perpétuos são irmãos, ou algo que eles chamam de irmãos, e personificam potencialidades de todos os seres vivos do Universo. Antes mesmo de nascer, todo ser tem traçado seu Destino. Quando nasce, já está Panaceia 11fadado à Morte. Antes mesmo de ter consciência de sua individualidade, o indivíduo já pode Sonhar. E o instinto de Destruição lhe assegura a sobrevivência, assim tomo o Desejo o ajuda a perpetuar a espécie. Consciente, um ser está à mercê de outros sentimentos, tais como o Desespero e o Delírio [ou o Deleite]. Ei-los, os sete Perpétuos: DESTINY, DEATH, DREAM, DESTRUCTION, DESIRE, DESPAIR e DELIRIUM.
Sandman é Sonho, e o SONHAR que habita. Gaiman usa esse palco para contar histórias, fundamentalmente, sejam elas tiradas do folclore celta, da mitologia grega, hindu ou egípcia; sejam contos de fadas ou fábulas modernas. Sejam devaneios filosóficos de JOHN MILTON ou de Neil Gaiman.
A EDITORA GLOBO, em parceria com a DEVIR, publica a revista no Brasil [quase] mensalmente.

KAZI: Há uma relação nos relacionamentos entre você e seu avô e entre Delírio e Sandman? Isso me pareceu evidente na cena onde você/Delírio tem que lidar com a mesma situação quando seu avô/Sandman está em Panaceia 14choque [Mr. Punch e “Brief lives”].

GAIMAN: Suponho que sim. Sim, a loucura me assusta – talvez mais do que qualquer coisa. E adultos “indefesos” sempre nos forçam a amadurecer de maneira mais dura do que deveríamos…

KAZI: Sandman é uma história sobre um contador de histórias [ou um guardião de histórias], de certa maneira. Você deixa isso claro o tempo todo, especialmente em “SONHOS DE UMA NOITE DE VERÃO” [uma das melhores histórias até agora]. Você conhece algum RPG? Já pensou em escrever algum, como os da WHITE WOLFE [WEREWOLF/ LOBISOMEM é dedicado a você]? Há alguma possibilidade da White Wolf publicar algum quadrinho escrito por Neil Gaiman?

GAIMAN: Por que jogar RPG? Eu tenho que ser cada um dos personagens que eu criei todos de uma vez. A White Wolf vai publicar um Panaceia 12livro infantil que escrevi e Dave McKean ilustrou.

KAZI: Qual o nome desse livro? Quando ele vai ser lançado?

GAIMAN: THE DAY I SWAPPED MY DAD FOR TWO GOLDFISH [O DIA EM QUE TROQUEI MEU PAI POR DOIS PEIXINHOS DOURADOS]. Espero [que saia] em maio de 1996.

KAZI: Sandman é um personagem imaturo e egoísta. Você acha que essa faceta adolescente da personalidade é que fez dele tão popular?

GAIMAN: Eu não acho que sua personalidade adolescente é o que o faz tão popular: ele poderia ter uma personalidade completamente diferente e ainda assim ser popular. Mas Sandman é a história de uma adoPanaceia 13lescência.

KAZI: Quanto tempo você leva para escrever uma história de Sandman?

GAIMAN: Um número de Sandman leva em torno de um mês para ser
escrito.

KAZI: Morte é, de certo modo, sua personagem de maior sucesso. Mais do que o próprio Sandman, Morte é adorada pelo público [ao menos aqui no Brasil], e me parece que você a mantém sob controle. É isso mesmo?

GAIMAN: Sim.

KAZI: Você tem vontade de fazer mais histórias com a personagem Morte depois de parar de escrever Sandman?

GAIMAN: Eu farei, com certeza, mais uma história da Morte: “THE TIME OF YOUR LIFE”. Outras, bem, veremos.

KAZI: Você aborda assuntos que poderiam lhe causar problemas, como homossexualismo, ou um button onde se lê: “I CHOSE TO HAVE A BABY BUT I’M GLAD I HAVE A CHOICE” [“eu escolhi ter um bebê mas estou feliz por ter escolha”] … Você tem problemas com sua editora ou com o público americano por causa disso?

GAIMAN: Não. [A associação] THE CONCERNED MOTHERS OF AMERICA [algo como as mães preocupadas da América] anunciou, alguns anos atrás, que iria boicotar Sandman, mas as vendas não foram afetadas.

KAZI: Em Sandman não há uma religião “suprema”: há deuses que surgem e morrem. Entretanto, você parece ter mostrado um certo cuidado quando falou do deus judaico-cristão. Por exemplo: quando você diz que Lúcifer e Deus são mais poderosos que Sandman, que são os dois seres mais poderosos do universo. Você tem alguma religião?

GAIMAN: Eu não vejo evidência que o “Criador” mencionado em “ESTAÇÃO DAS BRUMAS” seja o deus judaico-cristão. [Lúcifer certamente não é judaico-cristão: ele é Miltoniano.].

KAZI: Não só eu, mas as pessoas com quem converso sobre o seu trabalho em Sandman às vezes não sabe quem está desenhando a revista. Seu texto é tão forte que nós quase só lemos os balões. Às vezes há um grande artista, como MARC HEMPEL ou P. CRAIG RUSSEL, mas isso não é frequente. É você quem escolhe os artistas de Sandman, ou eles são impostos pela DC?

GAIMAN: Um pouco dos dois.

Panaceia 15

KAZI: Tem havido muitas pistas indicando que Sandman vai morrer. Pistas demais para me fazer achar que ele realmente vai. Sandman vai morrer até o fim da revista? [Ei, eu posso tentar, não posso?].

GAIMAN: Boa pergunta.

KAZI: Falando de finais, quando a revista vai acabar?

GAIMAN: No número 75.

KAZI: “Ali Bette’s stories have happy endings. That’s because she knows where to stop. She’s realized the real problem with stories – if you keep them going long enough, they always end in death.” [“Todas as histórias de Bette têm finais felizes. É porque ela sabe quando parar. Bette descobriu o verdadeiro problema com as histórias se você deixá-las ir longe demais, elas sempre acabam em morte.”] Sandman já foi longe demais?

GAIMAN: Quase.

KAZI: “THE KINDLY ONES” parece estar se alongando por mais capítulos do que deveria. É por causa do seu contrato com a DC?

GAIMAN: Não, não tem nada a ver com o meu contrato com a DC. O fato é que “The kindly ones” foi escrita para passar por todos os personagens e temas de Sandman, e há muito mais do que eu achei que haveria…

KAZI: Eu ouvi falar de minisséries que você faria com os outros Perpétuos, e eu acho que Delírio está crescendo em importância nas suas histórias. Quantas serão? Quando sairão?

GAIMAN: [Farei] uma para cada Perpétuo, espero.

KAZI: Quanto vai durar “THE WAKE” [“O funeral”, o último arco de história de Sandman]?

GAIMAN: “The wake” terá três capítulos.

KAZI: Sobre o que será “THE TEMPEST” [história a ser publicada após o fim da revista]?

GAIMAN: Vai ser sobre Shakespeare, e [a história] se dará em 1611.

KAZI: Lendo todos os capítulos de Sandman [até o número 67, o último disponível no Brasil], sinto que você vai deixar um monte de pontas soltas, de perguntas sem respostas. Algumas delas, eu acho, devem ficar sem resposta, mas você vai voltar a algumas nas minisséries?

GAIMAN: A algumas delas, sim. Mas vai haver uma boa dúzia sem resposta.

KAZI: Como você conheceu Dave McKean [o artista das capas de Sandman]?

Panaceia 16
GAIMAN: Nós nos encontramos [para fazer] um quadrinho chamado BORDERLINE, que nunca foi publicado, e gostamos do trabalho um do outro…

KAZI: Há muitos rumores no Brasil sobre um número especial do Sandman com McKean fazendo a arte. Algum projeto de verdade?

GAIMAN: Há idéias, mas isso não vai acontecer por algum tempo ainda…

KAZI: Há algum [a] artista com o [a] qual você gostaria de trabalhar e ainda não o fez?

GAIMAN: BARRY WINDSOR SMITH, talvez…

KAZI: A DC é dona de todos os personagens de Sandman. Isso não desanima?

GAIMAN: Claro.

KAZI: Você vai trabalhar de novo para uma editora que não deixe você possuir legalmente os direitos sobre suas criações?

GAIMAN: Eu duvido.


O que faria um escritor tido em consideração pela profundidade de sua obra escrevendo histórias para a Image, uma editora que não prima por histórias, digamos, inteligentes? Na verdade, a Image é a exacerbação do gênero dos super-heróis, que acaba definitivamente com qualquer resquício de história inteligível. Como num filme pornô, onde só importam as cenas de sexo explícito, às páginas de Spawn, por exemplo, são base para desenhos arrojados de “fortões de maiô lutando no espaço sideral”. MIKEY, filho mais velho de Gaiman, seria o responsável pela façanha. O que não faz um pai consciencioso…
Já o trabalho com a Marvel veio através da gravadora de ALICE COOPER com desenhos de MICHAEL ZULLI, Gaiman fez a adaptação para quadrinhos do mais recente álbum [THE LAST TEMPTATIONde Cooper.


KAZI: Como foi trabalhar para a Marvel?

GAIMAN: Eu não fiquei muito impressionado com a Marvel.

KAZI: Como foi escrever uma história para o Spawn?

GAIMAN: Muito, muito divertido.

KAZI: Como foi escrever mais uma história para o Spawn?

GAIMAN: Eu não estava com muita vontade de trabalhar…

KAZI: Você vai escrever outro título mensal em breve?

GAIMAN: Não!

Panaceia 18


Enquanto você lê esta entrevista, é possível que Neil Gaiman ainda esteja no Brasil, mais precisamente em São Paulo, para receber o TROFÉU HQ MIX de melhor roteirista estrangeiro. Desde nosso primeiro contato, no ano retrasado, Gaiman diz que tem vontade de visitar o país. Corra e pegue o autógrafo dele na PANACEA!


Panaceia 17

KAZI: Ouvi dizer que você estaria no Brasil em abril. É verdade?

GAIMAN: Esse é o boato, realmente. Pergunte a Globo…

KAZI: O que você conhece do folclore brasileiro? Você citou O CURUPIRA na minissérie ORQUÍDEA NEGRA.

GAIMAN: Conheço um pouco, mas não tanto quanto gostaria.

KAZI: Você conhece algum quadrinhista brasileiro? Ou escritor?

GAIMAN: Ainda não. Mas posso conhecer em abril.

KAZI: Você é reconhecido nas ruas nos Estados Unidos? Como você lida com fãs sedentos por autógrafos?

GAIMAN: Eu só sou reconhecido ocasionalmente. Fico meio embaraçado quando não estou esperando por isso, mas lido bem com a situação quando estou esperando…

KAZI: O que você espera da sua viagem ao Brasil?

GAIMAN: Problemas com o fuso-horário e pessoas legais.

KAZI: Você conhece as discussões sobre Sandman na USENET [fórum de debates da Internet]? O que você acha delas?

GAIMAN: Eu me sinto lisonjeado que isso aconteça, mas tenho visto muito pouca coisa de valor nas mensagens nos últimos quatro anos. Ou melhor, as mensagens interessantes ocasionais estão soterradas pela grande quantidade das desinteressantes. Mas as observações certamente são úteis, ainda que incompletas [e às vezes erradas].

KAZI: Você vê algum futuro para os quadrinhos nos CD-ROMs ou nas tecnologias de produtos multimídia?

GAIMAN: Não, realmente. Eu espero que os CD-ROMs e similares achem um conteúdo próprio…

ANOTAÇÕES NA AREIA:

I- A década de 80 começou a ser marcada pelas facilidades provindas pelo progresso tecnológico da época, algo que facilitou e muito aos FANZINEIROS produzir em maior quantidade os seus ZINES. No entanto, tais facilidades também aumentaram a elevação dos custos, e o desequilíbrio econômico, no final dessa mesma década, acabou levando o país à hiperinflação, como consequência muitas editoras fechando as portas e muitos fanzines diminuindo sua produção, quando não extintos. Por consequência, o editor do fanzine POLÍTIQUA, JOSÉ CARLOS RIBEIRO, denominou esse novo período COMO CRISE NOS INFINITOS FANZINES, uma alusão à saga CRISE NAS INFINITAS TERRAS da editora americana DC COMICS. Os fanzines passaram então ter como meta não a obtenção de lucro, mas meios de auto sustento, continuidade e evolução.

O significado de zine, segundo o site FANZINEEXPO.WORDPRESS.COM “vem da contração da expressão em inglês fanatic magazine, que significa em português revista de fãs. E o que isso significa? Significa que os fanzines são publicações feitas por pessoas e para as pessoas que gostam de um determinado tema em comum, sejam elas amadoras ou profissionais”.

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Durante a ressaca da Crise nos infinitos fanzines, na década de 90, entusiastas da mídia alternativa começaram a batalhar dentro do mundo de publicações independentes brasileira, entre eles um cara chamado JOSÉ MAURO KAZI que criou o FANZINE PANACEA em Osasco, São Paulo- este aluno da USP. A Panacea inicialmente era um folheto de oito páginas fotocopiadas no formato meio-ofício, contendo histórias em quadrinhos, artigos sobre HQS, música e também textos literários. Durou 33 edições, no entanto chegou a ganhar o TROFÉU ÂNGELO AGOSTINI no ano de 1992 como melhor fanzine. KAZI é lembrando num misto de amor e ódio, pois para sugerir uma atmosfera mais profissional ao fanzine publicava artigos usando pseudônimos, algo que muitos editores na época consideravam ser antiético. E havia também o fato de sua criticas serem extremamente diretas, sem fazer nenhum tipo de concessão. Apesar disso, o fanzine, após, seu termino acabou virando uma revista de 80 páginas, a PANACEA: A REVISTA BRASILEIRA DE QUADRINHOS (E OUTROS BICHOS), comportando dessa forma mais espaço para resenhas de quadrinhos, música; e entrevistas com os mais variados escritores dos quadrinhos como ALAN MOORE, NEIL GAIMAN, DAVID MAZZUCCHELLI e FLAVIO COLIN. Contabilizando as edições como zine e como revista foram 40 edições até o término definitivo. Sem sombra de dúvidas a Panacea merece ser lembrada pelo sua importância cultural e dedicação ao universo dos quadrinhos.

II- NA MESMA EDIÇÃO ENCONTRAMOS UMA TIRA SATIRIZANDO DAVE MCKEAN:

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 


 

WHERE’S NEIL WHEN YOU NEED HIM? – Álbum tributo à Neil Gaiman


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Onde está Neil quando você precisa dele?


“O mundo todo acabou de parar,

Então você diz que não quer mais ficar junto.

Deixe-me tomar um respiro profundo, querido.

Se você precisar de mim,

Vou estar com Neil dando uma volta com o rei dos sonhos”

Tear In Your HandTori Amos


chove lá fora, enquanto escrevo isso, rola no media Player, WHERE’S NEIL WHEN YOU NEED HIM? : Álbum tributo à NEIL GAIMAN idealizado pela artista TORI AMOS, lançado pela gravadora, DANCING FERRET DISCS, em 18 de julho de 2006. O álbum possui a colaboração de vários artistas diferentes, cada qual compôs, de acordo com seu estilo, uma canção baseada em alguma obra de NEIL GAIMAN.

No ano de 1991, quando TORI AMOS escreveu “TEAR IN YOUR HAND”, décima canção do álbum LITTLE EARTHQUAKES, na qual menciona NEIL GAIMAN, isso os aproximou, criaram amizade, e desde então, o forte laço afetivo entre eles perdura até os dias atuais.

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_Neil & Tori

O titulo, do álbum tributo, deriva da canção SPACE DOG”, na qual também faz referência a NEIL.

A grandeza do tributo começa logo com o encarte:

As ilustrações, começando pela capa, são de autoria de DAVE MCKEANclaro, não poderia deixar de sê-lo, – e cada música é comentada pelo próprio escritor homenageado. Ao todo são 17 canções que geram o clima perfeito para meditarmos [e naturalmente, refletirmos sobre as obras de Gaiman], e cada qual capturou a “magia” de cada obra.

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Não sou músico, nem critico musical, mas posso afirmar que WHERE’S NEIL WHEN YOU NEED HIM? é uns dos mais belos tributos que alguém poderia receber.

Mesmo que as maiorias das canções tenham como tema SANDMAN, muitos dos seus livros infantis, as primeiras Graphic Novels e seus romances, foram temas, como por exemplo, CORALINE, O LOBO DENTRO DAS PAREDES, O DIA QUE TROQUEI MEU PAI POR DOIS PEIXINHOS DOURADOS, MR PUNCH, DEUSES AMERICANOS, STARDUST e LUGAR NENHUM.

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_arte de Charles Vess para  o romance Stardust

A atmosfera do álbum se desenvolve entre estados oníricos, sensações de terror, emoções afetivas e lúdicas. Ora nos geram sentimentos de tranquilidade, ora de desconforto, alguns casos o conflito de estados de consciências dualísticos, o que de certa forma, é uma característica das obras de NEIL GAIMAN, as quais apesar de algumas histórias parecerem em sua superfície uma narrativa simples [ou melhor, sem muitas pretensões] acabam, mesmo assim, gerando algum sentimento a mais, agregando valores que nunca paramos para formular de forma mais profunda- As obras de Neil sempre são uma linha tênue entre o otimismo e o sinistro.

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_THEA EVE GILMORE

Uma das minhas canções favoritas é “EVEN GODS DO,” da cantora inglesa THEA EVE GILMORE, inspirada em DEUSES AMERICANOS, a qual emprega a grandeza de sua voz para exibir uma riqueza de intensidade emocional.

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_MELORA CREAGER

A faixa de abertura é outra das minhas favoritas: “CORALINE” da banda RASPUTINA. A voz de MELORA CREAGER é linda, nítida, deliciosamente rouca, num tom divertido, mas ao mesmo tempo em que gerando um clima assustador que, para mim, resume o sentimento de leitura CORALINE: “Eu digo que é um preço alto que você tem que pagar para ir a explorar o outro lado da porta…”.

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_ROGUE

Considero que não poderia ter sido outra banda para compor uma música baseada em MÁSCARA DA ILUSÃO, a não ser THE CRÜXSHADOWS, pois, o tema tem tudo haver com o teor lírico que a banda emprega nos seus álbuns. Desde há muito eu gosto dessa banda, fiquei muito feliz quando ouvindo as faixas me deparo com a voz de ROGUE, a qual “cai como uma luva” para a canção “WAKE THE WHITE QUEEN”. O som electrogótico da banda remete instantaneamente as imagens belíssimas de DAVE MCKEAN para o filme e o drama de HELENA: “Corra Helena, A Rainha Negra, perdeu sua criança/ E os tentáculos escuros estão devorando a luz/ Você a vê pela janela, mas ela está olhando para dentro [ela está olhando para você]”.

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_Helena ]Máscara da Ilusão/ MirrorMask]

O som sinistro da canção VANDEMAR feita por JOACHIM WITT, consegue nos levar aos mais profundos becos da Londres de Baixo, gerando aquela sensação de que o inimigo de RICHARD MAYHEW está a nossa espreita, esperando o momento certo para nos abordar e cumprir a sua tarefa maligna.

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_JOACHIM WITT

“MAGDA TREADGOLDS MÄRCHEN” da banda folk/medieval, alemã, SCHANDMAUL, é alegre, dançante, e empolga de imediato.

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_Schandmaul

VOLTAIRE nos brinda com uma verdadeira ode ao Perpétuo, MORTE com “COME SWEET DEATH”. Este conseguiu passar em poucas palavras e com sua música, o conceito, criado por GAIMAN, da donzela que leva as almas que partem “dessa pra melhor: tem um ritmo dançante, divertido, tudo haver com a estrela de MORTE – O PREÇO DA VIDA.

“Eu nunca sonhei

Que a morte poderia ser tão doce

Até que ela veio para mim’.

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_MORTE no traço de ROGER CRUZ

Na empolgação, acabaria discorrendo sobre todas as músicas, de tão gostosas são de se ouvir. Apenas afirmo que TORI AMOS fechou magistralmente com “SISTER NAMED DESIRE”: “Eles dizem que a garota perdeu o seu domínio naquele dia.”.

E a chuva parou de cair lá fora…

O álbum, infelizmente, não é fácil de conseguir para comprar. Uns dos poucos sites que vendem por encomenda é a livraria Cultura, também é possível se comprar pelo Amazon. UKse você  tiver, claro, um cartão de crédito internacional.

 [AMAZON UK]

Se quiserem ouvir online, o álbum completo está disponível no SPOTIFY:

Download pela internet é “osso” de conseguir, mas como sou um “bom rapaz” e um “demônio necessário”, deixo o link para download álbum completo no Humberto:

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DEIXO TAMBÉM A LISTA DE NOME DOS DEVIDO AUTORES DE CADA FAIXA.

  • I RASPUTINA – “Coraline” [CORALINE]
  • II THOUSHALTNOT – “When Everyone Forgets” [American Gods]- [DEUSES AMERICANOS].
  • III TAPPING THE VEIN – “Trader Boy” [The Day I Swapped My Dad For Two Goldfish]- [O DIA QUE TROQUEI MEU PAI POR DOIS PEIXINHOS DOURADOS].
  • IV LUNASCAPE – “Raven Star” [Stardust]-[STARDUST- O MISTÉRIO DA ESTRELA].
  • VDEINE LAKAIEN – “A Fish Called Prince” [“THE GOLDFISH POOL”].
  • VITHEA GILMORE – “Even Gods Do” [American Gods].
  • VII ROSE BERLIN FEATURING CURVE – “Coraline” [Coraline]
  • VIII SCHANDMAUL – “Magda Treadgolds Märchen” [THE SANDMAN]
  • IX HUNGRY LUCY “We Won’t Go” [The Wolves in the Walls]-[ O LOBO DENTRO DAS PAREDES].
  • X VOLTAIRE “Come Sweet Death” [MORTE/ SANDMAN].
  • XI FUTURE BIBLE HEROES “Mr. Punch” [The Tragical Comedy or Comical Tragedy of Mr. Punch]-[A COMÉDIA TRÁGICA OU A TRAGÉDIA CÔMICA DE MR. PUNCH].
  • XII RAZED IN BLACK – “The Endless” [OS PERPÉTUOS DE SANDMAN]
  • XIIITHE CRÜXSHADOWS – “Wake the White Queen” [Mirror Mask]- [A MÁSCARA DA ILUSÃO OU A MÁSCARA DE CRISTAL].
  • XIV EGO LIKENESS – “You Better Leave the Stars Alone” [Stardust].
  • XV AZAM ALI – “The Cold Black Key” [Coraline].
  • XVIJOACHIM WITT – “Vandemar” [Neverwhere]-[LUGAR NENHUM].
  • XVIITORI AMOS – “Sister Named Desire [New Master]” [The Sandman].

 

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_AZAM ALI

 

OUÇAM, EM ALTO E BOM SOM, SONHADORES ^^


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

https://en.wikipedia.org/wiki/Where’s_Neil_When_You_Need_Him%3F

http://www.amazon.co.uk/Wheres-Neil-When-You-Need/dp/B000FP2IXMhttp://factoide.com.br/2010/07/27/um-disco-para-neil-gaiman/


LEELA [Breve Histórico] e MUNDO VISIONÁRIO – Homenagem aos Perpétuos do Universo de Sandman


 

Leela banda

A vida é bela, a dúvida eterna.


Netfontes_vampire_games_Logobanda LEELA, anos atrás, teve uma boa presença no cenário musical Brasileiro, com o clip, da música TE PROCURO, rolando incessantemente na Rede Televisiva MTV, no ano de 2004, no entanto, a banda começou seu caminho quatro anos atrás antes do lançamento dessa música, ou seja, em 2000 após o término da banda POLEN [ex-POLUX].

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_Bianca Jhordão

LEELA começou a participar de alguns festivais, e o publico passou a dar atenção para o talento e competência dos membros : BIANCA JHORDÃO [Voz, Guitarra e Teremim], RODRIGO BRANDÃO [Guitarra e Voz], TCHAGO KOCHENBORGER [Baixo] e PHD RONZONI [Bateria], conseguindo, no ano de 2003, firmar contrato com o selo ARSENAL, o qual, em conjunto com a gravadora EMI, acabou por lançar o primeiro álbum da banda no ano seguinte.

A banda tomou mais notoriedade pelo fato de ter aberto o show da Cantora canadense, AVRIL LAVIGNE, o que possibilitou novas pessoas a conhecerem o som da banda.

O single TE PROCURO, seu hit de maior sucesso, fez parte da trilha sonora do seriado Malhação, algo que sempre possibilita aos músicos/bandas serem conhecidas pela mídia- principalmente adolescentes, claro.

Para quem quiser saber mais sobre a banda, segue o link do site oficial:

http://www.leela.com.br/pequenascaixas/

AO TODO A BANDA LANÇOU  3 ÁLBUNS/E 6 SINGLES:

  • LEELA [Demo Independente no ano de 2001]
  • LEELA [Também conhecido pelo titulo de VER O QUE FAÇOARSENAL/EMI– Ano de 2004]

Leela - Leela (Capa Oficial do Álbum) Ver o que faço

  • PEQUENAS CAIXAS [Arsenal/UNIVERSAL MUSIC– Ano de 2007]

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  • MÚSICA TODO DIA [PISCES RECORDS– Ano de 2012]

 

leelamusicatododiacapacd- musica todo o dia

_É obvio que a Delírio foi inspiração para a capa

 

SINGLES/ VIDEOCLIPES:

Tributo a LEGIÃO URBANA:


Recordo-me que a banda surgiu numa época em que bandas com vocais femininos começaram a deslanchar na mídia, o que eu achei “mó barato”- desde sempre gostei de bandas com garotas dominado o microfone.


MUNDO VISIONÁRIO

A canção, Mundo Visionário, pertence ao álbum, PEQUENAS CAIXAS; e é uma homenagem a obra SANDMAN de NEIL GAIMAN, mais especificamente aos SETE PERPÉTUOS: MORTE, SONHO, DESEJO, DELÍRIO, DESTINO, DESESPERO e DESTRUIÇÃO.

Perpetuo

_Wagner Dávilla

A composição é de autoria da vocal, BIANCA; e o guitarrista RODRIGO; em parceria com o poeta FAUSTO FAWCETT. A letra busca uma analogia poética entre o eu lírico e os Sete Perpétuos reforçada com a voz melódica de Bianca.  “O flerte com a Morte que é desejo de perigo”, trecho que se enquadra muito bem com minha adolescência- e tantas outras pessoas.

“Vamos lá poeta, que a musa tá com pressa/ O coração apaixonado vai rimando amor com dor/ A Terra já rodou, já envenenou/ Qual a cor da alegria/ A vida é bela, a dúvida eterna/ Tua arma é o Delírio que alivia o Desespero/ A vida é bela, a dúvida eterna/ O flerte com a Morte, que é Desejo de perigo/  Vamos lá poeta, que a musa tá com pressa/ Vai desistir? Vai desabar?/ Vai chorar? Ou vai pirar?/ Acende a luz da obsessão/ Cai fundo nessa confusão/ A vida é bela, a dúvida eterna/ Cutucando toda sorte de um encontro com o Destino/ A vida é bela, a dúvida eterna/ Não se compra na esquina da total Destruição/ A vida é bela, a dúvida eterna/ Não se passa de um Sonho onde tudo é Perpétuo/ A vida é bela, a dúvida eterna/ A palavra é um atalho para um mundo visionário.”

Se analisarmos bem, apesar da extrema simplicidade da letra, a trajetória de MORPHEUS, durante a saga, é bem definida, desde sua prisão por LORDE MAGUS, sua crise existencial e conversa com a irmã MORTE, sua decisão de buscar NADA no Inferno durante a reunião no casa do irmão DESTINO, seu encontro com DESTRUIÇÃOafora a ligação comDESESPERO e DESEJO, – seus momentos cômicos com a irmã caçula DELÍRIO e sua sina cumprida ao realizar o último desejo do filho ORPHEU. E percebo uma linda afirmação sobre o criador da obra, Neil Gaiman: A PALAVRA É UM ATALHO PARA UM MUNDO VISIONÁRIO.

O que mais GAIMAN é senão um visionário? Um cara que não dá ponto sem nó, sabendo administrar muito bem sua carreira e aproveitando cada chance que tem, conseguindo utilizar-se do seu talento como escritor, nas mais variadas mídias, desde os quadrinhos ao cinema.

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O clipe da canção, MUNDO VISIONÁRIO, possui direção de MARCOS MION e ANDRÉ VASCO; e fora gravado no TEATRO DO CENTRO DA TERRA [SP], inspirado no filme DOGVILLE de LARS VON TRIER, no qual temos um cenário invisível, no sentido de não possuir portas nem janelas, algo que nos remete muito ao estado onírico, que maioria das vezes, não sabemos como o sonho começa, nem sempre conseguimos compreender sua razão de ser, e nem acordar facilmente.  Dividiram o cenário em quatro partes num circulo de sal onde optaram por representar o mundo de cada um dos integrantes utilizando-se de objetos pessoais que remetem a cada um deles. É interessante ver a edição VIDAS BREVES, da CONRAD EDITORA, aparecendo no clip- pertence da linda Bianca. No começo fiquei incomodado com o desfoque na maioria das cenas, mas, comecei a compreender que foi a forma encontrada para remeter ao estado de sonho no qual vemos as coisas com determinada distorção. Em paralelo temos o ator WAGNER DÁVILLA representando os Sete Perpétuos, interferindo no mundo particular de cada integrante da banda.

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Considero LEELA umas das melhores bandas dos anos 2000; e SANDMAN umas da melhores HQS dos anos 80/90, por isso o tanta a banda como o clip merecem os melhores elogios. Vale  a pena conferir:


No mesmo álbum temos a canção DELÍRIO que eu acredito também remeter a SANDMAN, mais especificamente a personagem DELÍRIOque eu carinhosamente chamo deDel.

“O mundo às vezes é pequeno/ É muito pouco pro que eu quero/ E o que eu quero é atingir/ O tal delírio universal/ Às vezes esse mundo é um lixo frágil/  Nesse céu tão explorado/ Mais vazio/ Nesse céu tão explorado/ Tão vazio/ Vou…/ Eu vou sair desse lugar/ Vou…/ Vou viajar vou me jogar/ Vou plugar a mente/ E me mandar pra outro lado/ Minha vontade é tiro certo/ Dominando o impossível/ E o que eu quero é atingir/ O tal delírio universal/ A vida às vezes não é fácil/ E eu me sinto passeando no vazio/ E eu me sinto passeando no vazio/ Vou…/ Eu vou sair desse lugar/ Vou…/ Vou viajar vou me jogar/ Vou plugar a mente/ E me mandar pra outro lado.”

Fala aê, a letra não é cara da Del?


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIAS:

 

A ARTE DE NEIL GAIMAN [HAYLEY CAMPBELL] – MYTHOS BOOK EDITORA


aartedeneilgaiman_mythoNovelista, escritor de quadrinhos, roteirista, poeta e artista ocasional, há poucos caminhos criativos pelos quais Neil Gaiman ainda não tenha se aventurado – de livros inesquecíveis, como O Oceano no fim do caminho e Deuses Americanos, a quadrinhos e graphic novels arrebatadores, como Sandman e Violent Cases; de fantasias cinematográficas, como Coraline e o mundo secreto e Stardust- o mistério da estrela, a pequenos épicos na telinha, como Doctor Who e Lugar Nenhum; e de contos a letras de músicas, peças de teatro, vinhetas de rádio, artigos jornalísticos, filmes e tudo o mais que existe entre eles […] amplamente abrangente e belamente ilustrado, A Arte de Neil Gaiman é o relato autorizado da vida e obra de um dos maiores contadores de histórias de todos os tempos.” – sinopse, Arte de Neil Gaiman, Mythos Books.


para admiradores- não sei explicar bem porque, mas não gosto do termo fã– do escritor britânico NEIL GAIMAN, a biografia A ARTE DE NEIL GAIMAN é indispensável.  A obra é de autoria de HAYLEY CAMPBELL, escritora que faz periódicos em jornais como THE DEBRIEF, THE COMICS JOURNAL, THE RUMPUS, CHANNEL 4 NEWS, FRONT, ehayleyheadshot6 PLANET NOTION. Filha do desenhista EDDIE CAMPBELL, conhecido por muitos por sua participação como ilustrador e editor da obra DO INFERNO de ALAN MOORE.

A obra passou pelo processo de quatro anos até ser finalizada- partindo de uma entrevista feita durante uma semana em Wisconsin na Escócia, no sótão de Neil Gaiman– é repleta de desenhos e rascunhos de suas obras já publicadas, ideias “descartadas” e prévias de futuro roteiros.

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_ Desenhos do próprio Neil

O PREFÁCIO é de AUDREY NIFFENEGGER, escritora estadunidense, autora do best-seller A MULHER DO VIAJANTE DO TEMPO. A INTRODUÇÃO oferece uma Sinopse muito bem elaborada que nos induz a querer continuar lendo sem parar.

O  CAPÍTULO I, PRELÚDIOS: O COMEÇO DE NEIL/PUNK nos oferece um panorama da infância de GAIMAN e seu envolvimento com a ideologia Punk. O artigo feito por NEIL explicando melhor seu corte de cabelo durante sua fase Punk é muito, mas, muito legal mesmo.

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_Gaiman quando jovem e os membros da sua banda punk, EX-EXECS

A obra possui um belíssimo designer com textos e fotos muito bem posicionados. Não se deixaram levar pelo o que consideram poluição visual, usaram e abusaram de tipografias e linhas de separação de imagens e textos que remete muito a desenhos tribais – de forma singela obviamente. Somente pelas imagens a gente sente ansiedade para ler o conteúdo escrito.

Como esperado a biografia se foca em nos passar detalhes sobre suas obras, não deixando de lado seu começo underground e nem as biografias que escreveu quando ainda trabalhava como jornalista, ou seja, aquela sobre DURAN DURAN e O GUIA OFICIAL PARA O MOCHILEIRO DAS GALÁXIAS. É extremamente interessante à descrição e depoimentos de NEIL GAIMAN do seu começo de carreira aonde chegou até mesmo a escrever matérias para PENTHOUSE, revista de conteúdo pornográfico.

Seguindo cronologicamente a vida de GAIMAN, o CAPÍTULO I termina com BELAS MALDIÇÕES, seu primeiro livro escrito em pareceria com- o falecidoTERRY PRATCHETT, uma verdadeira sátira a conceitos religiosos bíblicos. Sendo o  CAPÍTULO II, QUADRINHOS INGLESES, focado na, como já mencionei, sua fase underground como roteirista de arte sequencial, falando de sua passagem pelas revistas 2000 AD, BORDELINE e de sua obra memorável VIOLENT CASES: fruto da parceria com DAVE MACKEAN com quem criou uma amizade que se estende até os dias atuais nos oferecendo maravilhosas obras em conjunto.

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_Pág. 40, sobre a entrevista feita por Neil Gaiman com John Cooper Clarker na revista Knave

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_Pág, 74 e 76

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_ Violent Cases, obra em pareceria com o amigo de longa data Dave McKean.

O CAPÍTULO III: SUCESSOS DA VERTIGO esmiúça sua chegada à editora DC Comics, falando da obra– também parceria com McKeanORQUÍDEA NEGRA, e claro, SANDMAN: sua magnum opus, que definiu o termo Grafic Novel como o é atualmente.

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_ Págs, 69 e 69: artigo muito interessante sobre O Monstro do Pântano.

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_ Págs. 88 e 89

O perpetuo, MORTE ganha foco nesse capítulo e temos várias curiosidades sobre a personagem mais querida do universo do SONHAR.

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_ Morte, uma musa nerd =)

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_págs. 126, 127

Um desabafo aqui: apesar de eu ser apaixonado pela personagem MORTE, eu acredito que os outros Perpétuos criados por ele, deveriam ganhar mais destaque, como, por exemplo, a delirante, delirosa, DELIRIO a qual apesar de ter duas obras escritas por JIM THOMPSON, intituladas PEQUENOS PERPÉTUOS, mesmo assim poderia ser mais explorada pela editora VERTIGO. Digo editora por que tenho certeza que NEIL GAIMAN teria muitas histórias para contar envolvendo a personagem e os outros Perpétuose realmente tem, chegou a dizer que tem uma história em mente para Del.

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_ Págs. 134 e 135 sobre Overture

O CAPÍTULO IV, QUADRINHOS DIVERSOS, se foca nas obras fora da linha VERTIGO, onde temos, por exemplo, SINAL E RUÍDO, MIRACLEMAN, A ÚLTIMA TENTAÇÃO, e duas obras com o selo principal da editora MARVEL COMICS: 1602 e ETERNOS; E várias outras obras de GAIMAN na banda desenhada.

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_sobre Spawn e Angela

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_Gaiman e Dave dois artistas de peso

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_ A última tentação excelente obra de Neil e Alice Cooper

O capítulo, ALÉM DOS QUADRINHOS, é muito importante para aqueles que não são muitos chegados em HQs, mas são fissurados por literatura de alta qualidade. Aqui temos artigos falando sobre o envolvimento de NEIL com o FUNDO DE DEFESA LEGAL DOS QUADRINHOS e sobre toda sua extensa literatura, seja fantasia, terror, contos, poesias, enfim se foca na capacidade que toda sua viagem narrativa é capaz de prover.

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O CAPITULO VIPÉROLAS NA TELA, é um capitulo que não poderia faltar. Temos todo seu envolvimento com o cinema e redes televisivas.

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_ sobre a Princesa Mononoke, pág, 269

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O CAPITULO VII, REFLEXÃO, é o triste a meu ver, pois, significa que o livro está acabando, chegando às suas páginas finais, aumentado minha vontade de saber mais sobre a vida de GAIMAN. Aqui é descrita o envolvimento do escritor inglês com o rádio, com a música- como não poderia ficar de fora, também é contado seu envolvimento com a cantora AMANDA PALMER. Temos um POSFÁCIO – no qual há uma fotografia de Neil com cartola e um sorrisão “maroto”– e a BIBLIOGRAFIA para a composição da obra.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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_Ao lado da talentosa esposa Amanda Palmer

A ARTE DE NEIL GAIMAN é uma viajem no tempo, nos fazendo até mesmo recordar das sensações que tínhamos- caso o leitor, é claro, tenha nascido, pelo menos como eu, nos anos 80- naquela época.  Uma época que ainda não tínhamos internet e o processo de adquirir informações não acontecia de forma rápida- “longe” do sempre perigoso terreno de informações falsas, ou, e deturpadas do meio virtual, – exigindo muita pesquisa em bibliotecas e conversa com os amigos. Logicamente, mesmo que sejam admiradores novos de GAIMAN, ou melhor, dizendo Jovens, estes podem adentrar na narrativa cronológica de vida [profissional] e obra do escritor, sentindo prazer ao saber cada detalhe do processo de concepção e detalhes das publicações das obras.

Pois bem, a verdade é que quando li o primeiro capítulo cheguei á conclusão que, se eu tivesse pago o valor que paguei pela obra apenas por essas poucas páginas, já teria valido apena o dinheiro gasto. Logicamente isso é opinião de admirador: o que não significa que não seja exigente. Não sei o que críticos de obras biográficas e literárias acham dessa obra, mas, para mim é um prato cheio de informações que podem saciar minha sede.

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_Neil & a autora de Arte De Neil Gaiman, a lindíssima Hayley Campbell

“Extraem-se ideias de devaneios. Extraem-se ideias do tédio. Extraem-se ideias o tempo todo. A única diferença entre os escritores e as outras pessoas é que a gente percebe quando está fazendo isso”Neil Gaiman


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Curta-metragem: O JOGO DE CHORONZON


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SANDMAN: “Sou o Universo… Abraçando todas as coisas, toda a vida.”

CHORONZON: “Eu sou a anti-vida, a Besta do Julgamento. Eu sou a Escuridão no fim de tudo. O fim dos universos, Deuses, Mundos… de TUDO!”.

SANDMAN: “Eu sou a esperança.”

Baseado no arco PRELÚDIOS E NOTURNOS da obra SANDMAN, de NEIL GAIMAN, este curta-metragem é um Trabalho de Diplomação do curso Tecnologia em Design Gráfico realizado na UTFPR [Universidade Tecnológica Federal do Paraná] no ano de 2013. Dirigido e animado por BRUNO AKIRA TAKAYA, THOMAZ COSTA SOVIERZOSKI e ULISSES CANDAL SATO, orientado por LIBER PAZ.

A animação é excelente e conseguiu com maestria ambientar o clima sombrio da passagem na qual MORFEUS foi aprisionado pelo mago RODERICK BURGESS, em 1916, e o momento no qual desceu ao inferno e venceu uma disputa feita pelo demônio CHORONZON.

CONFIRAM:

 

Cometem aí o que acharam do curta-metragem. =)


 

 

PEARL JAM [Breve Histórico]- DO EVOLUTION [Análise]

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Eu não preciso de drogas para fazer a minha vida trágica.”Eddie Vedder

seja bem-vindo a AnarkiALiterária

     Vocês conhecem a banda PEARL JAM?

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Senão, o que posso dizer é que devem conhecer, mas DUVIDO que nunca tenha ouvido falar, pois a banda já existe a mais de duas décadas, já emplacou vários sucessos nas ondas de rádio e é considerada uns dos expoentes do GRUNGE.

PEARL JAM, banda Norte-Americana de Rock Alternativo, tem origem em SEATTLE [Washington] no ano de 1990, sendo formada pelos músicos: EDDIE VEDDER [vocais, guitarra rítmica], JEFF AMENT [baixo], STONE GOSSARD [guitarra rítmica] e MIKE MCCREADY [guitarra solo], tendo nesses anos todos passado por algumas mudanças na bateria, a qual atualmente está nas mãos de MATT CAMERON que também é membro da banda SOUNDGARDEN.

TEM é o primeiro álbum da banda produzido nos anos 90 em pleno movimento Grunge, praticamente todas as faixas fizeram parte das programações de rádios e vídeos clips que emplacaram na MTV. As letras do álbum tratam de assuntos “Dark” como, por exemplo, depressão, suicídio… E o mal do século: a solidão.

A faixa JEREMY é inspirada num acontecimento real no qual um estudante de ensino médio atirou em si mesmo na frente dos colegas de classe, enquanto BLACK é sobre um homem sofrendo por amor, sentindo saudade da mulher que amou e se foi- uma verdadeira “pintura” Ultrarromântica.

Apesar desse fato, inicialmente, muitos torceram nariz para a banda e a acusaram de ser um grupo meramente com propósitos comerciais, algo que se mostrou infundado pelo fato da banda, em todos os seus anos de carreira, ter mostrando que realmente busca fazer o melhor som possível para a sua proposta musical e já terem lançado vários álbuns de sucesso, porém, sem se entregarem a algumas práticas comerciais da indústria musical, como por exemplo, dedicar rios de dinheiro em vídeos clips. Tal atitude sempre foi como um “boicote” contra a própria banda, no entanto, a visão de VEDDER sobre o assunto demonstra o quanto se importa com o lirismo e importância da subjetividade musical. Ele afirma que a partir do momento que alguém ouve a música aliada às imagens [storyboard] do vídeo clip, este perde a oportunidade deixar a imaginação fluir e construir sua própria narrativa imagética conciliada com suas próprias experiências [e reflexões] de vida.


A banda abriu um processo contra a empresa TICKMASTER, no qual a empresa precisava reduzir os lucros, assim os fãs pudessem ser beneficiados. Isso porque descobriram que a empresa cobrava uma taxa além do preço do ingresso, taxa conhecida como “taxa de conveniência”, ou simplesmente “taxa de serviço“, algo que VEDDER e Cia consideram injusto, até mesmo porque grande parte dos seus fãs são jovens e muitos ainda sem emprego e que se dedicam ao estudo; Assumiu posição favorável ao aborto; e ativismo político no ano de 2004 contra a reeleição de GEORGE W. BUSH Durante um show em DENVER, EUA, VEDDER usou uma máscara de BUSH, expressou o que pensava do governo, em seguida deixou a máscara espetada no pedestal do microfone.


VEDDER compôs grande parte da trilha sonora do filme INTO THE WILD [No Brasil, NA NATUREZA SELVAGEM], convidado pelo amigo SEAN PENN, diretor do filme.


 

No ano de 2002, durante a turnê do álbum, BINAURAL, no FESTIVAL DE ROSKILDE [realizado naDinamarca], nove fãs foram pisoteados e sufocados até a morte na plateia. O acontecimento fatídico marcou profundamente os membros da banda que se sentindo culpados, pensaram em abandonar a carreira, no entanto, continuaram a trilhar o caminho da música, lutando pelo o que acreditam. Estão até hoje na ativa, tendo vindos várias vezes para o Brasil se apresentar.

Discografiano site Vagalume

pearl jam

Não Ficaram pelo caminho


Durante a recente apresentação da banda em território Brasileiro, acontecido no MINEIRÃO de BELO HORIZONTE no dia 20 de Novembro, VEDDER, expressou sua revolta contra o descaso do governo em relação ao próprio país, descaso que casou o rompimento da barragem da Mineradora Samarco, em MARIANA, que deixou muitas vitimas e casou imenso prejuízo ao meio-ambiente. Em nosso idioma proferiu o seguinte: “É duro quando grandes empresas usam e abusam de terras apenas para lucrar sem nenhum respeito pelo meio ambiente. Acidentes tiram vidas, destroem rios e, ainda assim, eles conseguem lucrar. Esperamos que eles sejam punidos, duramente punidos e cada vez mais punidos para que nunca esqueçam o triste desastre causado por eles.” E também disse que a banda doará parte do cachê para às vitimas do desastre.


Com base nesse acontecimento, a canção DO THE EVOLUTION é importante de ser lembrada, por isso, deixo minha interpretação da letra [e vídeo clip] da música que faz parte do álbum, YIELD, produzido no ano de 1998. A faixa em questão é a sétima de YIELD. Umas das músicas da banda que mais gosto e sinto prazer em ouvir.

A letra é autoria do Vocalista EDDIE VEDDER e a música ficou a cargo do guitarrista STONE GOSSARD, enquanto a animação do vídeo clip foi co-dirígido por KEVIN ALTIERI [diretor da animação BATMAN: THE ANIMATED SERIES] e TODD MCFARLANE [autor do personagem SPAWN e fez os desenhos para o clip da música FREAK ON A LEASH da banda KORN]; a produção ficou a cargo de JOE PEARSON presidente da EPOCH INK ANIMATION e TERRY FITZGERALD [TME]. Foram 16 semanas para o término da animação, tendo um resultado espetacular, merecendo o premio de BEST MUSIC VIDEO, SHORT FORM no GRAMMY AWARDS de 1999.

CHEGO A CONSIDERAR QUE A MÚSICA E O CLIP SÃO UMA UNIÃO PERFEITA EM TERMOS LÍRICOS E CRÍTICOS.

 CLIP DE DO THE EVOLUTION:

Palavras de EDDIE VEDDER sobre do que se trata DO THE EVOLUTION:

“Como as pessoas estão possuídas pela tecnologia, se achando donas do mundo e controlando tudo o que nele vive”.

E diz que a canção, como as outras faixas do álbum, foram inscritas sobre influencia da obra ISMAEL um romance do escritor DANIEL QUINN.

Eu gosto do clip por ser um daqueles no qual as imagens são realmente derivadas da música, ou seja, cada cena tem haver realmente com que a letra diz- e também porque é uma das poucas vezes que a banda se dispõe a produzir um vídeo clip.

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No inicio da animação temos o BIG BANG e cenas de um planeta convertendo-se em células que se multiplicam e dão origem aos primeiros animais, clara representação da teoria evolutiva de CHARLES DARWIN na sua obra A ORIGEM DAS ESPÉCIES [vale lembrar que o termo evolução não foi cunhado por ele, este até mesmo era contra o termo, pois prefere o termo adaptação que é o que realmente acontece].

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Agora temos algo muito legal para quem gosta de quadrinhos, mais especificamente: uma referência a personagem MORTE da obra SANDMAN, escrita por NEIL GAIMAN. A personificação da morte é representada por uma garota estilo Heavy Metal com roupas pretas, maquiagem pesada e que durante a narrativa faz uma espécie de dança da morte bem ao naipe bate cabeça da galera PUNK.

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Morte de Gaiman/ Mike Dringenberg/ Malcolm Jones III

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As próximas cenas são de animais mais fortes e maiores devorando os menores, ou seja, a Teoria da Seleção Natural: OS MAIS FORTES SOBREVIVEM.  Aqui temos os Dinossauros sendo extintos na possível catástrofe causada por meteoros que os dizimou da face da terra, logo em seguida, a narrativa dando sequência à existência de primatas que vão se transformando até chegarem à condição de Homo Sapiens Sapiens, e da mesma forma que os animais dos primórdios vão cometendo matanças para chegarem ao topo. Nesse momento a música remete a crença de Deus e as barbáries que o homem já praticou por questões religiosas- Bíblias, ou, qualquer outro livro místico.

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 “I CAN KILL ‘CAUSE IN GOD I TRUST”

Clara referencia a INQUISIÇÃO na Idade Média e AS CRUZADAS.

Então, temos um homem pulando do topo de um prédio, algo referente às suicídios providos pelo Crash na Bolsa de Valores na cidade de Nova York no ano de 1929, evento que levara a falência milhares de pessoas, afetou o mundo todo e gerou atitudes drásticas nos cidadãos.

“I’M AT PEACE, I’M THE MAN/ BUYING STOCKS ON THE DAY OF THE CRASH.”

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A guerra e as atrocidades cometidas pelos Nazistas e seu exército não poderia ficar de fora da narrativa- que praticamente é um registro da história, – então, temos cenas do HOLOCAUSTO judeus num campo de concentração.  Sob a ótica de HITLER, homossexuais, negros, judeus, deficientes físicos e mentais foram vitimados pelo preconceito e posto em fornalhas, quando não baleados até a morte. Durante a SEGUNDA GUERRA MUNDIAL houve a queima de livros efetuados pelos Nazistas no intento de destruir toda critica ou pensamento conflitantes ao regime Nazista. Temos também referência a REVOLUÇÃO FRANCESA onde a guilhotina representa o ideal de igualdade, fraternidade e liberdade; a alusão à caça das baleias; e o ponta pé para formação de uns dos maiores impérios da humanidade: O IMPÉRIO ROMANO em cenas de escravos egípcios puxando imensos blocos de pedras.

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As cenas seguintes são sequências da RELIGIÃO, sendo usada por homens ambiciosos para o acumulo de dinheiro, utilizando-se da fé das pessoas- temos um campo cheio de cruzes e um homem vendendo um crucifixo, – como também a catequização dos índios e a dizimação do seu povo pelos Europeus ao conquistarem a AMÉRICALogo mais chegamos à REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, onde as máquinas passam a fazer determinados trabalhos pesados, podendo produzir mais e escravizando ainda mais o povo, ao passo que aumenta a poluição e destrói o meio ambiente. Como determinados processos é um ciclo, temos a cena de líderes religiosos ao lado de líderes políticos decidindo o futuro do povo.

A Sequência final é uma representação do consumismo desenfreado, da morte de valores, opressão, alienação e variantes, onde temos o ser humano virando comida para cachorro, uma forma de demonstrar o povo sendo devorado pelo CAPITALISMO desregrado. A violência- que sempre existiu– é disseminada e torna-se mais visível e até mesmo idolatrada, diminuindo a sensibilidade das pessoas- programas de noticias que o digam com suas cenas extremante fortes e desnecessárias, – onde o estupro é um dos meios mais utilizados- seja este físico, ou, psicológico. Donos de terras [tiranos no poder] tratando outros seres humanos como se não fossem nada- há um homem batendo no outro com um chicote.

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A animação chega ao ápice com a era da DIGITALIZAÇÃO, onde o ser humano domina e é dominado pelos computadores [e virtualidade], e o tempo, torna-se um fator alienante, opressivo, claustrofóbico; no sentido capitalista [ganancioso] o TEMPO deve ser gasto unicamente para obter-se dinheiro- “TIME IS MONEY”, torna-se a regra do jogo.

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O Macaco sobre a mesa pode ser remetido ao primeiro transplante de coração realizado no ano de 1964, no qual o doador era um macaco, no entanto, o paciente não sobreviveu por que seu corpo rejeitou o órgão.

Nesse ponto o ser humano é uma mera ferramenta do ESTADO, um objeto qualquer e as crianças prontamente são codificados.

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E pronto: uma bomba atômica explode: uma possível solução. Realmente seria?

Algo é muito interessante: Após a implosão do mundo, nas cinzas sobram apenas os gafanhotos, ou, melhor dizendo podemos ouvir seu canto. Como se a própria MORTE tocasse violino. E que se ainda assim existir novamente a vida humana, ela por natureza possui o instinto de sobrevivência e com isso tudo que faz parte dela e sua consequência, então, novamente temos o simbolismo do gafanhoto que na Grécia antiga era símbolo de enormes saltos de fé, pulos de progresso e de dinâmicas consistentes; em outras palavras à própria existência da humanidade significa DESTRUIÇÃO sobre a asa da MORTE.

Tanto as letras como a animação são tão bem elaboradas que consegue nos fazer pensar sobre nossa própria existência e no meio no qual vivemos.

Os desenhos são sensacionais, a fotografia é linda, souberam sintetizar muito bem relatos históricos durante o tempo de musica.

Um filme com quatro horas, talvez, não conseguisse esse intento, o que demonstra a competência nos envolvidos na produção.

É por esse e outros motivos que sou apaixonado por PEAL JAM.

 

É A EVOLUÇÃO QUERIDA!

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

VINGADOR FANTASMA: A 1ª proposta de NEIL GAIMAN para DC Comics.

 


 

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Quando criança eu gostava de ler gibis de terror, de histórias assustadoras, com monstros. Mas eu lia basicamente tudo que caía de minha mão. Com uns seis ou setes anos eu já tinha descoberto a fórmula dos super heróis: ou eles ganham dos vilões ou perdem [e ganham na próxima edição]. Eu gostava muito era do Vingador Fantasma.” – Neil Gaiman

Por esses dias, folheando minhas revistas HERÓI [lançadas muitos anos atrás pela EDITORA ACNE em parceria com a NOVA SAMPA], encontrei uma pequena matéria sobre NEIL GAIMAN, na edição Nº 36, renomeada HERÓI GOLDpor causa de suas mutações.

Heroi- vingador fantasma

Existe algo mais irônico que isso? GAIMAN fã de VINGADOR FANTASMAThe_Phantom_Stranger acabou por escrever, futuramente, alguns roteiros onde pôde utilizá-lo.

Antes de sua obra SANDMAN, NEIL havia sugerido para KAREN BERGER, editora da DC Comics na época, três personagens: VINGADOR FANTASMA, ETRIGAN e ARQUEIRO VERDE . Nenhum deles disponível no momento, SANDMAN acabou sendo entregue para GAIMAN, após uma estratégia em relação a sua trama com a ORQUÍDEA NEGRA numa história com parceria com DAVE MCKEAN .

No site terrazero.com.br encontrei trechos de uma entrevista de NEIL GAIMAN [extraídos do site UNIVERSOHQ] no qual o escritor inglês fala sobre isso: :

 “Há um script que nunca foi usado de Sandman #24. Nas primeiras cinco páginas dessa edição, eu escrevi originalmente uma versão onde Sandman está voando de volta do inferno e acaba encontrando o Vingador Fantasma. Eles ficam lá, parados, e têm uma conversa sobre o que está para acontecer, dizendo coisas misteriosas que só têm algum significado para eles mesmos. Não funcionou muito bem, porque Sandman e o Vingador Fantasma são muito parecidos. Quando tinha uma página e meia disso, eu pensei como aquilo estava bobo, e cortei tudo.

Assim, suponho que, ao longo desses anos, provavelmente já tenha feito em SANDMAN tudo que queria ter feito com o Vingador Fantasma.

Acho engraçado olhar para trás e ver as razões que a DC me deu para eu não fazer o Vingador Fantasma. A razão dada foi que ele “não era heroico o suficiente”. (risos de incredulidade) Eles disseram que não poderíamos fazer uma revista mensal com o Vingador Fantasma, pois ele não era “herói o suficiente”. Aí, me pediram para escolher outro. (…) Eu sugeri Etrigan, e eles disseram não, pois Matt Wagner estava o fazendo. Deixa eu ver quem mais sugeri… o Arqueiro Verde. Mas eles deram uma resposta negativa novamente, porque Mike Grell estava trabalhando com o personagem” [Neil Gaiman: O autor que resgatou o Sonho nos quadrinhos]

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A Brigada dos Encapotados teve uma minissérie em 2001, no Brasil, publicada pela BRAINSTORE Editora

Ironicamente, NEIL utilizou o VINGADOR FANTASMA em outras histórias suas, a primeira delas: OS LIVROS DA MAGIA, na qual reuniu os quatro Magos do universo DC: VINGADOR FANTASMA, DOUTOR OCULTO, JOHN CONSTANTINE [HELLBLAZER] e MISTER IO, formando a BRIGADA DOS ENCAPOTADOS, e ajudaram o jovem TIMOTHY HUNTER, a conhecer o mundo da magia, ensinando sobre sua virtude e suas consequências, e levando-o para vários lugares; A segunda, A LENDA DA CHAMA VERDE no qual SUPERMAN e o LANTERNA VERDE, HAL JORDAN morrem por causa de uma bateria Esmeralda e se aventuram no além vida [ou seria além morte?].

Fico imaginado o que NEIL GAIMAN faria com o VINGADOR FANTASMA numa série própria, apesar do que disse sobre.

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