RESENHA/ Homem-Aranha: O Nascimento de Venom

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“Eu sei. Talvez eu tivesse feito à mesma coisa no seu lugar. Nós fazemos o que temos de fazer. Todos nós. E vivemos com isso.”Homem-Aranha/ David Michelinie


SINOPSE: Horrorizado ao descobrir que seu traje negro era, na verdade, um parasita alienígena, o Aranha descartou o sinistro uniforme simbionte- mas agora ele está de volta, mesclado a um novo hospedeiro e faminto por vingança!


Após o fim de Guerras Secretas, primeira mega saga do universo Marvel, Peter Paker adquiriu um novo uniforme que demonstrou- se muito mais útil que seu antigo, o clássico azul e vermelho, visto que este aparentemente reagia até mesmo aos seus pensamentos, tomando a forma de qualquer outro vestuário, bastando apenas o desejo do portador. Mas, indícios foram surgindo de havia algo de muito errado a nova aquisição: Parker acordava cansado como se não tivesse dormido durante a noite toda (o uniforme apossava-se do seu corpo e vagava pela cidade por se alimentar da adrenalina do organismo do hospedeiro); e o Puma, percebeu que o as teias que o Homem-Aranha estava usando não eram artificias, mas sim orgânicas. Parker, então decidiu levar o uniforme para o líder do Quarteto Fantástico, Reed Richards, examiná-lo. Reed descobriu que o uniforme é, na verdade, uma forma de vida alienígena, um simbionte.  Assustado o amigão da vizinhança livrou-se do uniforme com a ajuda de uma arma sônica do cientista. No entanto, o simbionte fugiu, tentou novamente apossar-se do corpo de Peter Parker.  Não tendo êxito, em virtude do raciocínio rápido de Peter Parker que se valeu do sino de uma igreja para atordoar o simbionte e assim livrar se dele, pelo menos momentaneamente. Não é novidade para ninguém que o simbionte, atraído pelos desejos mais íntimos do ex-jornalista Eddie Brock, apossou-se do seu corpo, criando assim um laço de ódio em comum pelo escalador de paredes. Desejando vingança, o simbionte e Eddie Brock vão até o apartamento de Parker e atormentam Mary Jane, sua recém-esposa, e mais tarde, se apresenta a ele como Venom.

A partir desse momento temos inicio a uma série de aparições do simbionte alienígena no universo Marvel, sendo usado pelos mais variados roteiristas; e nas mãos dos artistas, que sucederam Todd McFarlane, adquirido vários designers diferentes ao longo dos anos.  Venom futuramente, após, sua primeira aparição chega a se tornar um anti-herói, abandonando a rixa com Peter Parker após esse salvar a vida da  ex-esposa de Brock, Ann Weying.

Venom- Anarkia literária

_Imagino uma voz gélida hahaha

 “Até que a morte nos separe” de Louise Simonson, nos apresenta junto a Greg La Rocque a emblemática cena de Peter Parker, dominado pelo simbionte, livrando-se deste com a ajuda do som estridente dos sinos da torre que usou como a alternativa mais viável naquele momento, visto que o QG do Quarteto Fantástico estava longe demais do conflito. O restante das histórias que o encadernado possui são assinadas por David Michelinie e com desenhos de Todd “monstro” McFarlane. No posfácio da coletânea, David Michelinie revela que a ideia inicial era de que Venom seria uma mulher e não o Eddie Brock: “No meu conceito original, o personagem era pra ser feminino. Imaginei uma mulher grávida preste a dar à luz e seu marido corre pelas ruas atrás de um taxi pra leva-la até um hospital, mas o taxista está olhando pra cima, vendo o Homem-Aranha lutando com um vilão (…), e atropela o marido matando-o. o choque disso faz com que a mulher perca o bebê e a sanidade. Ela fica internada por um tempo e então é solta ou escapa, com toda a sua vida centrada em matar uma única pessoa que culpa pela morte de seu marido e seu filho: o Homem- Aranha”. Eu não sabia disso, fiquei pasmo.  Considero que teria sido interessante se isso

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_McFarlane põe o Gato Félix em, praticamente todas as histórias que desenha.

tivesse acontecido para a aparição de inicial de Venom nos quadrinhos, porém o diretor da época, Jim Salocrup, apesar de ter gostado do argumento, considerou que não valeria a pena correr o risco dos leitores não gostarem de ver o Homem- Aranha apanhando de um personagem feminino (pois, é, sexismo desde sempre).  De qualquer forma, Venom se tornou icônico, sendo um personagem extremamente querido do universo Marvel (quantas vezes não joguei com ele em Marvel vs Capcom no Arcade?). Apesar de alguns o considerarem com um background fraco, eu considero o contrário, no entanto, concordo que Michelinie forçou a barra no capítulo “Venom”, mais especificamente na cena na qual o Homem-Aranha sofre para pegar a arma sônica de Reed Richards, esticando o braço de forma sofrida, enquanto Eddie Brock explica todo seu conflito existencial (por causa das consequências de ter dado ouvidos para um informante pirado para uma de suas matérias), ao invés de usar um feixe de teia.  Enquanto a arte, esta eu afirmo ser fenomenal. Claro que McFarlane estava em fase de evolução artística, estando em seu ápice, na arte de Violador de Spawn, quando co-fundou a Editora Imagem Comics, com Erik Larsen, Jim Lee, Rob Liefeld e Marc Silvestre, no entanto, durante sua fase no titulo de aracnídeo, podemos considerar os movimentos dos personagens incríveis, sendo eles (por mais forçado fisicamente que possam ser) dinâmicos, oferecendo vivacidade para os quadros narrativos. O Venom musculoso na época arrepiou muitos leitores com sua boca imensa de presas afiadíssimas. Afora que o simbionte ainda gerou Carnificina outro personagem fodido do universo Marvel.

A Coleção Definitiva-Homem-Aranha: O Nascimento de Venom para quem gosta dos roteiros de David Michelinie e da arte de Todd McFarlane vale muito mais a pena do que o encadernado da Coleção Oficial de Graphic Novels MarvelO Espetacular Homem-Aranha: O nascimento de Venom que possui muitas histórias aleatórias, tendo as mãos dos artistas apenas nas últimas 40 páginas finais da coletânea, apesar do destaque dos nomes deles na capa.

A Coleção Definitiva MARVEL- Homem-Aranha: O Nascimento de Venom, Nº18,  publicada pela Editora SALVAT, compila as edições Web of Spider- Man 1 (escrita por Louise Simonson, desenhada por Greg La Rocque, arte-finalizada por Jim Mooney, cores de George Roussos) e The Amazing Spider-Man 298-302 (escritas por David Michelinie, desenhadas por Todd McFarlane, arte-finalizadas por Bob McLeod, Josef Rubinstein, cores de Janet Jackson, Bob Sharen e Gregory Wright).

RESENHA/ Homem- Aranha: A Saga do Traje Alienígena

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LIGA DA JUSTIÇA: TORRE DE BABEL [MARK WAID/ DAN CURTIS JOHNSON/ HOWARD PORTER/ PLABO RAIMONDI/ STEVE SCOTT…]

 

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Quantas vezes você sonhou em ouvir  a voz de seu pai de novo? Ou sentir o toque de e sua mãe?Ra’s al Ghul!.

Ou ser digno da memória deles?”- Batman.


SINOPSE: “Os arquivos secretos de Batman sobre a Liga da Justiça caíram nas mãos do seu mais antigo e mortal inimigo: Ra’s al Ghul! Agora, Superman, Mulher Maravilha, Aquaman, Caçador de Marte, Lanterna Verde e Flash estão sendo levados a armadilhas especificamente projetadas para se opor às suas notáveis habilidades. Será que a Liga da Justiça sobreviverá? E se sobreviver, será capaz de perdoar Batman por esta terrível traição?”.


Então, a humanidade agindo de acordo com sua vaidade desmedida começa a construir uma torre que conseguiria chegar até os Deuses, no entanto, Javé, de acordo com o Velho Testamento, derruba com sua onipotência a construção egocêntrica, e para garantir que sua vontade seja satisfeita, no caso, de que descendentes de Noé se espalhassem pelo mundo, o habitassem, não se agrupando em um único lugar, também mistura as línguas criando assim a possível origem para os idiomas diferentes que tecem a civilização.

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LIGA DA JUSTIÇA: TORRE DE BABEL [JLA TOWER OF BABEL] mantem como premissa essa alegoria bíblica, no caso da minissérie de MARK WAID e DAN CURTIS JOHNSON, a Torre, construída e mantida em segredo na Antártica por RA’S AL GHUL, é capaz de interferir no processo de decodificação do cérebro que garante a possibilidade de compreender sinais e sons, causando assim, no começo, a impossibilidade da humanidade de compreender a linguagem tanto escrita quanto de sinais, e depois de um tempo, também afetando a linguagem falada, que por consequência causa o caos e a eminência de guerra, muito provavelmente chegando a nível bélico. A ironia alegórica está no fato de que a humanidade classifica os seres vivos da natureza- ou “não” vivos, se incluirmos os vírus– criando uma torre <Pirâmide>, por assim dizer, dividindo em gêneros, que são dividias em famílias, e assim em diante, culminando nos reinos, e por existir a necessidade da cadeia alimentar os humanos decidem quais os seres vivos, seja animal, vegetal… Que devem ser sacrificados para garantir a existência da espécie, ou seja, a raça humana. Por tanto tal fator em consequência afeta a natureza porque o homem não sente necessidades apenas fisiológicas, mas também de outros itens que, por exemplo, fazem parte da Hierarquia de necessidades de Maslow, teoria cunhada pelo psicólogo americano, MASLOW, como a necessidade de segurança, o que exige moradias, por isso quantas florestas já não foram devastadas para existir grandes metrópoles? A natureza, então há muito tem sofrido pela intervenção do homem; no universo DC COMICS, esse egoísmo perturba o vilão, RA’S AL GHUL, que prevê uma catástrofe ambiental sem precedentes se a condição humana continuar na mesma, por isso, construiu a TORRE DE BABEL: diminuir a quantidade de seres humanos no mundo, facilitando assim o controle sobre eles. RA’S AL GHUL, não é movido por motivos egoístas, na verdade ele quer salvar a natureza, porém como alguns psicopatas, este tem sua própria noção de justiça, ignorando a injustiça em seus próprios atos.

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Para concretizar o seu plano, sabia que precisava tirar de cena os heróis mais poderosos que protegem a Terra: AQUAMAN, FLASH, SUPERMAN, CAÇADOR DE MARTE,MULHER MARAVILHA, LANTERNA VERDE [KYLE], HOMEM BORRACHA, BATMAN, ou seja, a LIGA DA JUSTIÇA,  consegue tal intento com a ajuda do próprio BATMAN que, no seu calculismo, têm estudado todos os seus amigos de equipe para ter meios de imobiliza-los, caso sejam dominados por alguma entidade- como já aconteceu no passado, o caso Agamenon, no qual a LJA foi dominado e causou temor nos terráqueos, – e mantinha, na TORRE DA VIGILÂNCIA, registros especificando esses métodos. Roubando, por intermédio da filha, TALIA, esses arquivos, e distraindo o homem-morcego com uma das poucas formas que podem afetá-lo emocionalmente, aos poucos RA’S AL GHUL consegue conter os heróis, auxilado por sua LIGA DAS SOMBRAS, e inicia seu plano de redução da superpopulação e possível controle sobre os restantes.

A ironia é o mote da história, a analogia com o evento bíblico, no entanto, o cerne do conflito, está na forma que os personagens, sejam os heróis, sejam vilões, reagem a precaução de BRUCE WAYNE. E claro, não apenas os conflitos internos dos personagens vão sendo desenvolvidos durante a trama em relação ao ato, talvez, traiçoeiro, mas somos convidados a entrar nesse questionamento e assim, talvez, chegarmos as nossas próprias conclusões.

Durante o pano de fundo da história, essa questão das pessoas não conseguirem compreender umas as outras, podendo causar uma guerra que dizimaria a humanidade, me incomodou um pouco por que num mundo na qual não existem apenas os heróis membros da LIGA DA JUSTIÇA, o evento carrega em si a temática das minisséries que envolvem a vida de todos os personagens como, por exemplo, FIM DOS TEMPOS, porém durante a trama nenhum personagem, além daqueles da LJA, aparecem- eu considero isso um tanto inverossímil.

Quanto aos desenhos, estes são bem detalhados, cumprem bem o papel, apenas, em alguns casos, incomoda o exagero nas expressões dos personagens.

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_As expressões tanto podem não incomodar o leitor quanto podem deixar incomodado a níveis apocalíticos.

Mesmo que exista um ou outro pequeno detalhe que incomoda, a minissérie, não por acaso, é uma das mais lembradas pelos aficionados pelo universo DC Comics, e realmente não poderia deixar de fazer parte da linha DC COMICS COLEÇÃO DE GRAPHICS NOVELS da EAGLEMOSS: COLLECTIONS.

LJA- Torre de Babel 02A edição da EAGLEMOSS, VOLUME 4, contêm a primeira aparição da LIGA DA JUSTIÇA DA AMÉRICA na história: STARRO, O CONQUISTADOR, na qual enfrentam o vilão STARRO, vindo do espaço sideral, capaz de tornar gigantes as estrelas do mar, tornando-as suas subordinadas- aliás, a própria aparência de Starro é de uma estrela do mar, -intencionando dominar o universo, começando pelo planeta Terra. Os extras são galerias de capas, informações sobre a origem da LJA, descrição dos eventos que culminaram em Torre de BABR-057-017gabel.


O arco no Brasil, anteriormente saiu pela EDITORA ABRIL, na linha SUPERMAN– SUPER-HERÓIS PREMIUM, Nº 17, em 2001/ SUPERMAN- SUPER-HERÓIS PREMIUM, Nº 21, em 2002.



LIGA DA JUSTIÇA: A LEGIÃO DO MAL [JUSTICE LEAGUE: DOOM] é uma animação de 2012, dirigida por LAUREN MONTGOMERY, que adaptou livremente TORRE DE BABEL, mudando vários detalhes, princip22almente o responsável pelo roubo das informações confidencias do BATMAN, no caso, ao invés de TALIA, é o vilão SAVAGE.

TRAILER:

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Liga_da_Justi%C3%A7a:_Torre_de_Babel

http://www.guiadosquadrinhos.com/edicao/superman-1-serie-n-17/sm00301/8171


A ÚLTIMA TENTAÇÃO [NEIL GAIMAN & MICHAEL ZULLI]- PANDORA BOOKS


A última tentação- Pandora Box

É preciso uma armadilha diferente para cada criatura. E um tipo diferente de isca, também. Uma ratoeira pega ratos. Uma armadilha para ursos pega ursos. Uma armadilha para Stevens… Bem, como você acha que ela seria, hein?

Alguma vez na vida já parou para refletir quais são as tentações em sua vida? Principalmente quando adolescente e suas mudanças eminentes?

Netfontes_vampire_games_Logontes de falar da magnifica obra A ÚLTIMA TENTAÇÃO, escrita por NEIL GAIMAN, talvez seja necessário falar de ALICE COOPER:

VINCENT DAMON FURNIER, nos anos 70, tinha com outros quatro músicos: GLEN BUXTON, MICHAEL BRUCE, DENNIS DUNAAlice-Cooper-nw06WAY e NEAL SMITH, uma banda chamada ALICE COOPER. Com o término desta, após sete álbuns lançados, VINCENT decidiu adotar o ALICE COOPER como pseudônimo; obtendo legalmente esse direito, em 1975, a partir de então seguiu carreira solo e lançou o álbum WELCOME TO MY NIGHTMARE, chegando à CALÇADA DA FAMA de Hollywood, em 2003, e ao ROCK AND ROLL HALL OF FAME, em 2011.

ALICE COOPER é um ícone do Rock And Roll- junto a JIMI HENDRIX e OZZY OSBOURNE – considerado uns dos precursores do chamado ROCK AND ROLL TERROR, por suas apresentações performáticas, inspiradas em filmes de terror, usando objetos que vão desde guilhotinas às bonecas voodoo. Nos anos 70 foi um dos pioneiros a pintar o rosto e encarnar um personagem levando isso cenicamente ao palco.

Durante a carreira, entre cair e se reerguer, continua ativo, firme e forte.

Então… Como entra NEIL GAIMAN na vida desse maluco?

Acredito que o mais correto a se dizer é que COOPER entrou na vida de GAIMAN. Em 1994, BOB PFEIFER, então produtor executivo da EPIC RECORDS, entrou em contato com o escritor britânico para saber se este tinha interesse em trabalhar num álbum conceitual de um dos seus músicos. GAIMAN, de inicio não levou muito a sério, mas, quando ouviu o nome de ALICE COOPER, sentiu certa empolgação. Após, um encontro com COOPER, num quarto de hotel em PHOENIX, na cidade de ARIZONA, onde fizeram um Brainstorming, surgiu o álbum THE LAST TEMPTATION com o conceito e algumas ideias de NEIL GAIMAN.

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No mesmo ano, surgiu à proposta de transformar THE LAST TEMPTATION numa história em quadrinhos. Isso permitiu que GAIMAN pudesse usar algumas ideias que ficaram de fora do álbum. A arte ficou por conta de MICHAEL ZULLI que já tinha colaborado com ele em outras obras, SANDMAN a primeira, sendo está sua quarta colaboração.

A HQ acabou sendo publicada pela MARVEL MUSIC, um selo da MARVEL COMICS, dedicado à indústria musical, como minissérie em três edições.

Capas The last tempation Marvel Comics

No ano de 2005 ocorreu a republicação como Graphic Novel pela DARK HORSE BOOKS, mas, dessa vez ao invés de páginas coloridas, aderiram ao tom sépia e branco; É esta versão que a EDITORA PANDORA BOOKS publicou no Brasil, em 2002, inclusive com a mesma arte de capa.

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Ano passado [2014] a EDITORA DYNAMITE adquiriu os direitos de publicação, e pôs no mercado uma Graphic Novel luxuosa, com os desenhos de ZULLI recoloridos pelo artista DAVID CURIEL, com a capa do álbum de Cooper feita por DAVID MCKEAN, e com o prefácio da edição de 1996 de NEIL GAIMAN.

SINOPSE:

A última Tentação é sobre a vida de STEVEN, um garoto que vive num cidade pacata, que tem muito medo de histórias de terror, de espíritos de outro mundo, e principalmente de crescer.

Andando com os “amigos” pelas ruas no dia de HALLOWEEN, os jovens encontram num beco um GRAND GUIGNOL e são convidados por uma figura sombria que se autodenomina O MESTRE DE CERIMÔNIAS [SHOWMAN, no original] para assistirem a apresentação teatral da noite, no entanto, apenas um deles pode ficar com o ingresso. Para a surpresa de todos STEVEN, personagem que surgiu pela primeira vez no álbum de Cooper, WELCOME TO MY NIGHTMARE, aceita. A partir de então, o garoto começa a conhecer O TEATRO DO REAL.

À medida que a peça se desenrola, STEVE tem a visão do seu futuro decadente, recebendo, então, a proposta do MESTRE DE CERIMÔNIAS- incorporado pela persona de Alice Cooper- de ficar para sempre ali fazendo parte do seu show de horrores, jamais envelhecendo, ou sofrer as consequências de ter um futuro de alguém perdido na vida.

gears-of-war-skull-2CONSIDERAÇÕES– contendo revelações da narrativa [E viagens psicodélicas]

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_Imagem do encadernado da editora Dynamite

Em A ÚLTIMA TENTAÇÃO, NEIL GAIMAN parte do pressuposto de Bem e Mal definido da bíblia Cristã, criando uma obra alegórica com signos religiosos, no entanto, dependendo da interpretação dos indivíduos, a definição maniqueísta dessas duas forças cai por água baixo por outros elementos filosóficos inseridos na narrativa.

O título da obra remete ao romance do escritor grego NÍKOS KAZANTZÁKIS, publicado em 1951, chamado: A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO. No livro de KAZANTZÁKIS, JESUS CRISTO durante sua crucificação é visitado por um anjo que o aconselha a descer dali e se livrar do sofrimento. JESUS, então, recordando-se de tudo que vivera até o momento, decide ouvir as palavras do anjo e desce da cruz, encontrando MARIA MADALENA. Quando MADALENA morre, JESUS se casa com sua irmã MARTA, forma família, e vive desde então como um homem comum, mas, acaba encontrando o apostolo PAULO, enquanto este estava pregando sobre a vida do messias e seu sacrifício. JESUS explica o que aconteceu, e mesmo sabendo a verdade PAULO diz que continuará fazendo a pregação mesmo que este não esteja de acordo. Quando JESUS está nos seus últimos dias de vida, alguns apóstolos o visitam, o convencem de que o anjo que ouvira era na verdade o diabo, e o censuram por ter renegado o seu destino. CRISTO volta então ao seu calvário e completa sua sina: comete o sacrifício pela humanidade.

STEVEN é um nome de variante espanhola, ESTEVÃO, sendo assim, podemos considerar que seja relacionado ao SANTO ESTEVÃO, considerado o primeiro mártir do cristianismo, este por sua vez “homem cheio de fé e espírito santo” [Atos 6:5]. O personagem criado por ALICE COOPER para seu álbum WELCOME TO MY NIGHTMARE, desde sua estréia tem aparecido nos trabalhos do astro do Rock, sendo muito bem utilizado por GAIMAN.  STEVEN é tímido e bastante inocente, sendo constantemente maltratado por outros garotos, principalmente por JACOBnome de origem hebraica que significa “aquele que vence, “o vencedor, ou “suplantador”-, porém, demostrando-se sempre fraternal, o santo [a ovelha] entre os pecadores [lobos].

A história se passa na época de Halloween, também conhecido como Dia das Bruxas, que ocorre em OUTUBRO nos Estados Unidos, por isso a folha que um corvo derruba ao levantar voo é importante para representar o Outono, símbolo de transição. O OUTONO é o limiar entre o Verão e o Inverno. As árvores como um ato de sobrevivência perdem as folhas para estarem preparadas para a próxima estação, se isso não ocorresse, o frio gélido queimaria suas folhas, afetando os ciclos de respiração levando-as a morte.  Perder algo, muitas vezes torna-se um ganho. Antes que STEVEN apareça em cena, temos a árvore perdendo a folha, podemos interpretar isso como um signo para a adolescência e a mudança que este estágio de vida o é na vida dos seres humanos. E essa mudança muitas vezes necessita de sacrifícios. Por mais belas que sejam as folhas de algumas árvores elas precisam cair e serem levadas para longe pelo sopro do vento.

A adolescência é essencialmente dualística: tanto é o medo do desconhecido quanto à curiosidade pelo mesmo. Assim que os garotos deparam-se com o beco sem saída no crepúsculo vespertino e sem nada no seu fim, repentinamente surge como uma ruptura do tempo, o GRAND GUIGNOL; STEVE apesar do espanto com a aparição do MESTRE DE CERIMÔNIAS, e do desafios dos “amigos”, aceita a oferta do único ingresso para apresentação teatral, demostrando que no seu intimo a curiosidade existia.  Adentrando o GRAND GUIGNOL, o MESTRE DE CERIMÔNIAS indaga STEVEN se este sabe que seu nome é antigo e significa Corvo. O corvo apesar de carregar o fardo de ser considerado de mau agouro, em muitas culturas é considerado uma ave mística e que simboliza aspectos positivos; uns dos exemplos são os AMERÍNDIOS que as relacionam a criatividade e ao sol. Aqui temos um aspecto dualístico: ao mesmo tempo em que “santo”, em outras palavras um jovem de boa ética e boa moral, STEVEN, não é considerado pelas pessoas como alguém com potencial. O próprio crepúsculo vespertino já é um símbolo para a decadência, talvez reservada para seu futuro condenado por suas próprias escolhas, como um Cristo que deixou sua paixão de lado para a segurança da sua zona de conforto.

Agora temos uma questão: o homem é mau por natureza como THOMAS HOBBES [15881679] disserta na sua obra O LEVIATÃ [1651], ou é bom por natureza e pervertido pelo meio,  no qual vive, de acordo com o filosofo JEAN-JACQUES ROUSSEAU [17121778] em sua obra DO CONTRATO SOCIAL [1762]?

NEIL GAIMAN de forma singela trata dessa reflexão.  No primeiro momento de STEVEN dentro do Teatro do MESTRE DE CERIMÔNIAS, quando o garoto pergunta se ali tem pipoca e refrigerante, o refrigerante ofertado é uma Coca-Cola. Sim, parece um detalhe ingênuo na narrativa, mas, não é.  Há um signo a mais: O MESTRE DE CERIMÔNIAS <o meio> oferta àquilo que STEVEN <indivíduo> deseja; ou seja, o ser humano, sendo assim influencia o ambiente?

As coisas estranhas no interior do teatro apesar de gerar desconfortoem alguns casos repugnância também gera fascínio. Esse estado psicológico de ambivalência permeia a narrativa toda, favorecendo com que o próprio MESTRE DE CERIMÔNIAS, que de antemão deveria nos causar pavor, seja ao mesmo tempo macabro e interessante. Até mesmo a aparência do Mestre é parecida com WILLY WONKA, de A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATE [WILLY WONKA AND THE CHOCOLATE FACTORY], mas de forma gótica, inspirada em antigos filmes de terror, e do próprio, ALICE COOPER, claro, criando em nossa mente, o conflito interno de algo mágico e bonitoa referência estética ao personagem do filme infantil– e grotesco.LastTemptation_Page_022

Começa a realmente aparecer à tentação quando MERCYnome de origem francesa que tanto pode significar mercê como clemência-, a garota lanterninha aparece, influindo nos hormônios de STEVEN, logo mais, ao inicio da apresentação, o MESTRE DE CERIMÔNIAS diz que se chama O TEATRO DO REAL: e ele vai lhe contar como é realmente lá fora, no mundo dos adultos e das represálias”.

Na infância/ adolescência há o medo de crescer, mais especificamente tornar-se adulto em outras palavras fazer parte da sociedade adquirindo direitos, mas, ao mesmo tempo, deveres. Nunca é fácil viver numa sociedade onde os mais fortes dominam os fracos, onde os lobos sujam a água do fluxo do rio, acima do cordeiro, e como punição, independente dos argumentos da vitima, o cordeiro é devorado como causador da injustiça.

Numa versão macabra de UM CONTO DE NATAL [A CHRISTMAS CAROL] de CHARLES DICKENS, STEVEN vê o seu futuro, talvez, uns dos seus possíveis futuros. Um futuro desagradável aos olhos do garoto, sem emprego, sem carro, sem dinheiro, nem namorada, por isso mesmo, motivo evidente para a oferta do MESTRE DE CERIMÔNIAS ao longo da história: fazer parte do seu teatro, membro do elenco e obter juventude com o conforto eterno da inocência.

No sonho de STEVEN, este se encontra com o MESTRE DE CERIMÔNIAS que está em cima de uma Torre envolvida por ossos e corpos putrefatos, a TORRE DE BABEL, que pela arrogância do homem de “aproximar-se” a Deus, por meios que nada tinha haver com a e devoção, ao mesmo tempo em que impedindo o povo multiplicar-se pela Terra e agir pela vontade do criador. A vaidade de STEVEN é testada/ desafiada. O MESTRE DE CERIMÔNIAS com jogos de palavras afirma que toda alma pode cair em tentação e pecar <cometer crimes>. O cheiro podre do ambiente é uma representação da maldade, da escuridão, mas quando STEVEN se vê sozinho, após como um JESUS CRISTO tentado pelo diabo no deserto, uma figura ao longe levita nas alturas, um anjo, possivelmente. Ainda existe a bondade, a luz, mas, STEVEN está tentado, não consegue ver nada além de sua própria confusão.

Quando acorda, o mesmo que aconteceu assim que chegou a sua casa antes de cair no sono e sonhar, volta a acontecer: O MESTRE DE CERIMÔNIAS age como a SERPENTE tentando EVAsimilar ao conceito já usado em A LENDA DA CHAMA VERDE passando a espreitar STEVEN por toda parte, assumindo a mente da sua professora, do seu treinador, a merendeira, o faxineiro e de sua amiga [e fonte de possível desejo] conseguindo com que finalmente STEVE, no acordo de ser liberado depois, pelo menos assista o grand finale.

No dia do ritual de Halloween-sair para conseguir doces, ou fazer travessuras– do seu colégio, STEVEN aproveita “a deixa” para se distanciar dos outros companheiros de classe e seguir até a biblioteca da cidade. Essa sequência é importante por que representa a única solução contra o mal espiritual, ou as injustiças sociais: O CONHECIMENTO. É notável que GAIMAN soube representar muito bem isso, quando construiu cenas na qual o tempo todo o jovem é perseguido pelo MESTRE DE CERIMÔNIAS, no entanto, a bibliotecária não é “possuída” pela entidade. Aqueles que conhecem sobre magia, sabem que o mal apenas pode representar ameaça se assim for permitido, e que o conhecimento é uma defesa incrivelmente eficaz. Se O MESTRE DE CERIMÔNIAS pudesse adentrar esse domínio teria consciência que Steven descobriu sobre o seu [do Mestre] passado e isso não ocorreu pela possível proteção do lugar. A bibliotecária seria o anjo nos sonhos de STEVEN? Quem sabe.

As leituras feitas por STEVEN nos jornais, guardados na biblioteca, revelaram que em 31 de Outubro de 1884, o TEATRO MEMORIAL SPAULDING foi destruído por um incendiário, e que a partir daquele dia, crianças começaram a desparecer seguindo determinado ciclo. A conclusão mais óbvia após o tempo de pesquisa é que O MESTRE DE CERIMÔNIAS é o lunático obcecado por chamas que vem ocasionando todas essas desaparições.

Dado o momento de cumprir sua promessa, STEVEN adentra o GRAND GUIGNOL, e apesar do que sabe, faz a oferta de ficar em troca da liberdade de MERCY- que de lanterninha apareceu mais tarde como dançarina de strip-tease. O MESTRE DE CERIMÔNIAS revela que ela não passa de uma criação sua, agora temos outra questão: sendo criação sua, será mesmo que ela não tinha vontade própria? Aparentemente, após a batalha perdida do Mestre, esta pareceu ser sincera nos seus sentimentos em relação a STEVEN.

Temos aqui um conceito filosófico irônico: o bem e o mal são face da mesma moeda, ou seja, o YIN-YANG, dois conceitos básicos do TAOÍSMO, que expõem a dualidade de tudo que existe no universo; mas, no contexto religioso da narrativa, o Mestre sendo a serpente enviada por SATÃ ao Éden para tentar EVA, acaba sendo traído pela sua própria criação igual a DEUS e seu anjo mais belo, LÚCIFER.

STEVEN, não aceitando acordo algum, tenta sair do Teatro, mas, não consegue, chegando à conclusão da armadilha perfeita para ele: O SEU PRÓPRIO CORAÇÃO. No entanto, já tendo deixado bem claro pelo próprio MESTRE DE CERIMÔNIAS que o seu desejo não é a alma do jovem, mas sim seu potencial [talvez o meio querendo suprimir o individuo], este demonstra que sua perspectiva em relação ao garoto se mostrou correta: ele descobriu como vencê-lo. STEVEN invocou dentro de sua memória, e na materialização de seus pensamentos com ajuda dos seus sonhos, a chama [mesmo fantasma] necessária para por fim no GRAND GUIGNOL e o TEATRO DO REAL por que quer passar pela vida, quer cometer seus próprios erros, envelhecer e morrer: seguir o ciclo natural da existência humana.

O MESTRE DE CERIMÔNIAS revela sua “forma” verdadeira e surge a serpente que não conseguiu oferecer a vida eterna e nem o falso conhecimento. O conhecimento que STEVEN tanto deseja, ao contrário do que seu eu inicial pensava está no presente e no futuro, ou seja, vivendo, tendo suas próprias experiências, criando suas próprias asas.

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O final é triste, já esperado, mas, no entanto não menos tocante: realmente MERCY é criação do MESTRE DE CERIMÔNIAS e com a derrota deste desaparece, revelando ser seu – do Mestre de Cerimônias- CAJADO. O seu próprio apoio [apoio, “ombro direito”] o traidor. É um final triste, com certeza.

O que precisamos abrir mão, deixar partir para seguirmos firmes e fortes para os próximos ciclos da vida, crescer e amadurecer? O Outono é época do amadurecimento dos frutos, e STEVEN decidiu seguir o fluxo. O MESTRE DE CERIMÔNIAS não desapareceu completamente, sempre estará à espreita- o Mal, a sociedade, nosso próprio eu– perdeu a batalha, mas anseia por continuar a guerra.

O sacrifício então um caráter sagrado para a transmutação da vida.

Por fim, visitante do AL, o que deve deixar para trás para não ser devorado pelos lobos e pelas serpentes?

CURIOSIDADES:

I- O LIVRO, nas mãos da bibliotecária, intitulado SUAS ASAS [HER WINGS] um romance de RICHARD MADDOCK, apareceu também em outras histórias de GAIMAN. É uma piada interna, o livro não existe na vida real.

II- O GRAND GUIGNOL foi um teatro [LE THÉÂTRE DU GRAND-GRAND GHINOLGUIGNOL] na região do Pigalle em PARIS [situado na rue Chaptal, número 20 bis], o qual, desde sua inauguração em 1897 até à data do encerramento, ocorrida em 1962, era especializado em espetáculos de horror naturalista. O termo é geralmente utilizado para descrever um tipo concreto e bem determinado de entretenimento de horror- informação: wikipedia.org/wiki/Grand_Guignol.

 

 

III- O quadro em que os alunos estão fantasiados, um deles está vestido de MORFEUS

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IV- STEVEN aparece usando uma camiseta com estampa do HOMEM ARANHA.

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V- O MESTRE DE CERIMÔNIAS aparece em outra graphic novel de NEIL/ZULLI: THE FACTS IN THE CASE OF THE DEPARTUR51wtZwCcUpL._SY344_BO1,204,203,200_E OF MISS FINCH, adaptação do conto incluído no livro FRAGILE THINGS, no Brasil COISAS FRÁGEIS I, com o título de OS CASOS DA PARTIDA DA SENHORA FINCH. Ele executa outro tipo de espetáculo, demostrando alguns poderes, e canta canções de ALICE COOPER, porém, existe a dúvida se é o mesmo MESTRE DE CERIMÔNIAS ou algum aficionado por esse tipo de persona.

VI- O VÍDEO CLIP da música LOST IN AMERICA do álbum THE LAST TEMPTATION, mostra algumas cenas da HQ. Infelizmente, as cenas com um garoto lendo a obra é extremamente tosca.

 

VII- A ÚLTIMA TENTAÇÃO não é a primeira aparição de ALICE COOPER nos quadrinhos. Entre os anos 1970 e 1980 a MARVEL COMICS possuía abullpenbulletins antologia MARVEL PREMIERE, a edição Nº 50 era uma adaptação do seu álbum FROM THE INSIDE.

 

VIII- Outra aparição de COOPER nas HQS é a RED ROCKET 7 – A SAGA DO ROCK, publicada em sete partes na DARK HORSE e publicada no Brasil em julho de 2007 pela EDITORA: DEVIR numa edição de luxo, volume único, capa cantonada.

red rocket devir

IX- ALICE COOPER THE LAST TEMPTATION TRAILER

para ler ouvindo

THE LAST TEMPTATION [1994] ALICE COOPER

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


 

 

 

MONSTRO DO PÂNTANO: IRMÃOS [NEIL GAIMAN, RICHARD PIERS RAYNER,…]


Swamp Thing 5 Neil gaiman

Netfontes_vampire_games_Logo obra IRMÃOS, escrita por NEIL em 1989, publicada pela editora DC COMICS no número de SWAMP THING ANNUAL, é um prato cheio para saudosistas- ou não– da década de 60, e um verdadeiro ensaio sobre o contraste da Ideologia, cultura e valores do MOVIMENTO HIPPIE com a Década de 80 e sua aparente inocência definitivamente perdida, onde sobraram poucos irmãos de batalhas.


década de 60

Antes de qualquer coisa voltemos um pouco no tempo, mais exatamente na DÉCADA DE 60.

“É como um sentimento que, meu amor/ Eu não consigo esconder, eu não consigo esconder.” I Want To Hold Your Hand-The Beatles

A primeira metade dos ANOS 60 [1960 a 1965] pode-se considerar uma época dotada de certa inocência e lirismo nas manifestações socioculturais, quando tivemos os jovens lutando para “mandar para o inferno” o moralismo rígido da década anterior, mostrando ao mundo o descontentamento destes com O sonho Americano que já não era capaz de entusiasmar a juventude e exigia do povo espirito de luta e ideologias a serem seguidas no âmbito politico.

“Eu li as notícias de hoje, oh, garoto/ Sobre um sortudo que ganhou na loteria/ E embora as notícias fossem um tanto tristes/ Bem, não pude deixar de rir/ Eu vi a fotografia” A Day In The Life-The Beatles

No entanto, I WANT TO HOLD YOUR HAND, tornou-se apenas um “prelúdio” irônico para A DAY IN THE LIFE, visto que, na segunda metade [1966 a 1968] revela-se a acidez juvenil com experiências com drogas e a perda da inocência.  A máscara estava caindo e os jovens começaram a acordar definitivamente para a situação atual do sistema governamental. É o momento que se iniciam os protestos contra a ameaça da imposição governamental e da mídia. É quando o feminismo se faz presente e dá a cara a tapas, lutando pela libertação dos padrões patriarcais e surgem movimentos a favor dos negros e homossexuais.

A contracultura teve seu ápice em 1969, gerando toda uma transmutação de valores, da consciência e do comportamento, sendo assim foi à passagem do que seriam os anos 70- deixando de lado a viagem psicodélica para o surgimento do movimento punk.

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“Eu vi você no espelho quando a história começou/ E eu me apaixonei por você, eu amo seu pecado/ Seus pensamentos são presos, mas eu amo a sua companhia/ Eu apenas deixo você, quando você não tem dinheiro/ Eu não tenho sentimentos por ninguém” No Feelings-Sex Pistols

Musicalmente falando, e com isso também sociologicamente, passamos uma época na qual o movimento Paz e Amor dos hippies fora deixado, um pouco, de lado e tivemos algo mais visceral, mais explícitotalvez até mais sincero, talvez mais realista -, muito mais agressivo com o MOVIMENTO PUNK e sua revolta contra o sistema eminente.

Agora chegamos à DÉCADA DE 80, e logo no seu primeiro ano, JOHN LENNON, ironicamente fora assassinado por um dito fã, e até agora IMAGINE tem uma mensagem linda, mas, infelizmente, um tanto utópica se for analisada e contextualizada com a condição humana atual que parece não mudar o egoísmo e a vaidade exacerbada.


IRMÃOS

“Se você ama alguém, tem que deixar essa pessoa livre. Irmão Monstro do pantano irmãos neil gaimanPoder, pág. 37

Em 1989 chegou, às mãos dos americanos, a obra  MONSTRO DO PÂNTANO- IRMÃOS, que no Brasil teve sua publicação pela extinta EDITORA BRAINSTORE, em abril de 2000, contendo a seguinte descrição:

“Esta edição, one-shot, apresenta duas histórias escritas pelo aclamado NEIL GAIMAN. IRMÃOS, desenhada por RICHARD PIERS RAYNER e MIKE HOFFMAN, é uma “viagem” aos anos 60, os anos da PAZ E AMOR, ou SEXO, DROGAS e ROCK’N ROLL, e é cheia de referências: WOODSTOCK, FRANK ZAPPA, GRATEFUL DEAD, BANANA SPLITZ… E ao IRMÃO PODER. Este último, você conhecerá melhor nesta edição. E, EM HISTÓRIAS DO DEUS ESCABROSO [com arte de MIKE MIGNOLA], JASON WOODROE, O FLORÔNICO – importante personagem na cronologia do MONSTRO DO PÂNTANOvisita o PARLAMENTO DE ÁRVORES.”

Irmão Poder

_A obra logo de cara cheia de referências

Realmente a obra é cheia de referências dessa época, mas, também, uma espécie de homenagem a determinados personagens que dão as caras na trama. E por falar em trama, não temos apenas, como alguns alegam somente referências e mais referências, sem realmente uma narrativa ao bom e velho estilo NEIL GAIMAN; Já que se nos deixarmos levar pela narrativa e argumentos, temos ali uma intimação de GAIMAN para aqueles que viveram a efervescência dos anos 60,70 e liam a história IRMÃOS na época da composição da obra: a década de 80; Ou seja, qual era a posição daquele leitor especifico agora que o movimento paz e amor havia passado e tinham chegados à era da informação?

É meu caro! Vai dizer que ao ler IRMÃOS, você não parou para repensar suas crenças ideológicas ao ver o personagem ENDOR intimando e desabafando seus pêsames sobre a ideologia perdida com o hippie CHESTER WILLIAMS que ainda mantem no coração a ideologia [e lirismo interno] daquela época? E como não podemos deixar de lado todo o romantismo que essas décadas passadas tiveram, mesmo que em níveis diferentes, é interessante parar para refletir sobre o dilema entre CHESTER e sua esposa que está passando por um momento difícil de sua vida e querendo, ou, não, e independente do quanto este a ame acaba sendo afetado por essa condição atual da amada o fazendo repensar muita coisa.  Em outras palavras GAIMAN sabe, como sempre, trabalhar vários aspectos numa narrativa, não tornando as histórias truncadas como acontece com frequência em determinados quadrinhos. Além do mais quando GAIMAN aprendeu com ALAN MOORE esse sistema de narrativa onde o psicológico dos personagens é explorado, dando aquele “quezinho Machadiano”, faz com que, independente de ser uma história com Super-heróis, o leitor adentre no clima e se identifique com os aspectos humanos que sempre são abordados por esses autores de forma extremamente sensível- a meu ver Gaiman o faz com mais frequência e profundidade, mas, isso é só questão de opinião.

A capa tem uma linda arte que, aparentemente, é um signo do que tratará a primeira história da edição, uma vez que, temos uma mistura do personagem IRMÃO PODER com OS ELEMENTAIS DO VERDE.

Irmão Poder- Irmãos

Irmão Poder também aparece numa história do escritor J. Michael Straczynski chamada Histórias perdidas de ontem, hoje e amanhã

Quando comecei a ler, logo de cara, na segunda página, encontrei um personagem que não conhecia: o IRMÃO PODER. À medida que fui entendendo sua origem, não pude deixar de compará-lo com PinóquioSério!  Dei uma pesquisada sobre o estranho personagem e o considerei bem interessante. Ele é a prova do quão o ser humano pode chegar com as suas analogias e criatividade- um tanto insana, diga-se de passagem.

A série original do personagem teve duas edições, nele conhecemos a forma que este ganhou vida, e pode crê, é um tanto surreal, pois, este era um manequim abandonado numa loja de alfaiate vazia que acabou sendo assumida por dois hippies: NICK CRANSTON e PAUL CYMBALIST, este último por estar com as suas roupas molhadas e ensanguentadas- que havia sido atacado por um CÃO DAWG e outros FALCÕES DE GUERRA – decidiu vesti-las no manequim para evitar que encolhessem. Ate aí tudo bem, mas, esquecido ali por meses, acabou sendo atingido por um raio e ganhando vida além de superpotência e velocidade.

Então, tivemos um ser que surgiu a partir de um raio, e ALAN MOORE quando reformulou o personagem MONSTRO DO PÂNTANO, após ser contratado para, quem sabe, salvar o título que seria possivelmente cancelado, transformou-o num Elemental. Um ser que faz parte da natureza, e como todos sabem NEIL GAIMAN é um cara que usa e abusa de mitos, signos, referências históricas e o “diabo a quatro” para compor suas narrativas, o que mais ele faria senão, usar sua criatividade e parar para pensar na soma e resultado:

Raio + Elementais = Natureza?

Isso aê! O manequim poderia muito bem ser um Elemental, nesse caso, um pouco desajustado e que seria de conhecimento do PARLAMENTO, fazendo um casamento perfeito com a ideia de MOORE– que, sim, conseguiu salvar o personagem.

Nas suas desventuras, IRMÃO PODER, foi sequestrado pelo CIRCO PSICODÉLICO. Assim que conseguiu escapar, uma hippie chamada CINDY, lhe deu um rosto. Este animado tentou se candidatar ao congresso dos Estados UnidosFalei que era um tanto surreal– Então, tendo outras desventuras, o governador RONALD REAGAN, achou um jeito de envia-lo para o espaço.  Essa foi à deixa da qual GAIMAN se aproveitou para trazer o manequim de volta, o qual por sua vez, da mesma forma que os Elementais como ALEC HOLLAND que vagam pelo verde, o consegue, no seu caso, vagar de bonecos a bonecos.

sanguedeorc.com - Monstro do Pantano - Irmaos 01

Creio que vale explicar por que a personagem ABBYamiga dos dois hippies que aparecem no inicio da história e que optou por viver no meio do mato, – está grávida.  Pois, bem, em determinado seguimento da história do MONSTRO DO PÂNTANO, o PARLAMENTO acreditou que este havia morrido, então, como a natureza precisa de um guardião, deram vida a um broto que ocuparia seu lugar quando encontrasse um corpo adequado, mas, ALEC reaparece e para este é dada duas opções: matar o recém-criado, sendo que não pode haver dois deles ao mesmo tempo, ou abandonar a Terra para se juntar aos outros parlamentares. Nós sabemos que ALEC não mataria aquela nova vida, então, no arco O CELESTIAL E O PROFANO, decide tomar o broto como seu filho e usa o corpo de JOHN CONSTANTINE para engravidar ABBYé mano, esses caras são fodas! Acredito que saber desses dois fatos já ajuda a aproveitar melhor à narrativa, apesar de que, GAIMAN consegue criar histórias com tanto lirismo que não conhecermos exatamente todos os fatos da linha temporal, mesmo assim conseguimos absolver a poesia da narrativa.

Assim sendo o título IRMÃOS, tanto remete a cultura Hippie, como também, a proximidade entre IRMÃO PODER e CHESTER, ambos, símbolos de um IDEAL aparentemente perdido.

 

“Há tantos mundos diferentes/ Tantos sóis diferentes/ E nós temos apenas um/ Mas vivemos em mundos distintos” Brothers in Arms -Dire Straits

 

Batman- monstro do pantâno- irmãos

_Dificilmente Gaiman perderia a chance de pôr seu personagem favorito da DC na narrativa.


HISTÓRIAS DO DEUS ESCABROSO

“Variedades de sons preenchem minha mente. Um universo de formas. Caleidoscópio de cores. Jardins estelares florescem em suas solidões. Arquitetura espiral. Aqui estou parado. Aqui estou pensativo. Curiosidade, sede por conhecimento” Elements – Stratovarius

A segunda história chamada de HISTÓRIAS DO DEUS ESCABROSO, [no original, SHAGGY GOD STORIES] seria na verdade um prelúdio do que GAIMAN pretendia com o personagem, criando toda uma teologia Vegetal, porém, não deu continuidade, aliás, decidiu não assumir o titulo como apoio ao escritor RICK VEITCH que tinha abandonado o titulo quando a editora não aceitou que a história que criou, na qual envolvia JESUS CRISTO, fosse utilizada- e o desenhista MICHAEL ZULLI chegou a fazer algumas páginas dela.

O Florônico

_A gente sentiu raiva de JASON WOODRUE em LIÇÃO DE ANATOMIA, mas, aqui Gaiman conseguiu nos comover com o conflito do personagem.

Essa história de cinco páginas é uma prova de que nem sempre é necessário 500 páginas para dar vida a uma narrativa repleta de poesia e conceitos filosóficos, já que, o escritor nos oferece uma analogia incrível sobre as árvores [como também a natureza] e os significados que adquiriram, seja em qual religião, ou, mitologia for.  É importante lembrar que o Elemental, que aparece na história, chamado de O FLORÔNICO, é JASON WOODRUE, um eco terrorista inimigo do personagem ELÉKTRON, que deu as caras, e foi importante para a nova concepção dada por ALAN MOORE ao MONSTRO DO PÂNTANO, na história LIÇÃO DE ANATOMIA. Infelizmente, essas duas histórias são apenas o prelúdio de GAIMAN para o que pretendia para o MONSTRO DO PÂNTANO e a concepção de sua TEOLOGIA VEGETAL iniciada em ORQUÍDEA NEGRA.

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A arte de MIKE MAGNOLA e cores de TATJANA WOOD são lindas e unidas ao roteiro de GAIMAN nos ofereceu uma verdadeira pinturDIAS_DE_MEIA_NOITE__1239209435Ba sequencial.

“É bom” mencionar que ambas as histórias foram compiladas e publicadas na edição NEIL GAIMAN’S MIDNIGHT DAYS, em Dezembro de 1999 pela DC/ Vertigo, no Brasil, sob o título de NEIL GAIMAN: DIAS DA MEIA NOITE, saindo pela editora PIXEL MEDIA, em Abril de 2007, republicada pela PANINI COMICs, em 2013.

“O Verde não é Bom nem Mau… E contem muitas coisas… Não apenas mentes vegetais… Mas, doces dríades, e algumas forças sombrias que também caminham no verde…” O Parlamento das Flores [Neil Gaiman]


Neil Gaiman- Alec


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

X- MEN- DEUS AMA, O HOMEM MATA [CHRISTOPHER CLAREMONT & BRENT ERIC ANDERSON]

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“Tão jovens e tão inocentes para conhecer tanto medo e dor. Seu único crime… Foi terem nascido.”Magneto [C. Claremont].

Netfontes_cartoon_2_us_Logoesde o anúncio da publicação X-MEN: DEUS AMA, O HOMEM MATA, pela Editora PANINI Comics, fiquei ansioso em pode ter em mãos essa obra, infelizmente, demorei um pouco para consegui-la, mas como paciência é uma virtude, isso ocorreu por esses dias.

Particularmente, sou fissurado por obras que tenham, como pano de fundo, assuntos religiosos, e isso independente da mídia, ou seja, se descubro um filme sobre, ou, um livro, busco devorar a obra o máximo que puder.

E não! Não sou religioso, o máximo que me considero é espiritualista- alguns me consideram ateu… – e não, não sou nenhum defensor da veracidade da bíblia, pelo contrário, apenas a considero literatura como qualquer outro livro com teor místico; o que significa para mim que o cristianismo é mitologia da mesma forma que as crenças egípcias, gregas, nórdicas, celtas e todas essas narrativas fantásticas de criação do mundo e concepção do ser humano.

Certo. Gosto muito, como já disse de histórias onde a religião é utilizada de alguma forma, seja para o bem, ou, para o mal- Não importa. Então, imagine saber que poderia ler uma história dos X-MEN com o axioma sobre preconceito e deturpação humana? – Isso me deixou na expectativa.

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X- MEN: DEUS AMA, O HOMEM MATAtítulo originalX-MEN: GOD LOVES, MAN KILLS, – surgiu nos anos 80, mais especificamente em 1982, quando a MARVEL Comics já tinha aderido o formato de GRAPHIC NOVELS, porém, sua aparição no Brasil, apenas ocorreu em 1988. E também não é a primeira vez que a EDITORA PANINI lança o titulo, pois em 2003 já o tinha feito.

A obra é de autoria de CHRISTOPHER CLAREMONT e BRENT ERIC ANDERSEN.

Se formos analisar buscando sentindo biológico, a concepção dos X-MEN, e toda turba de MUTANTES [MUTUNAS], faz bastante sentindo, pois acaba entrando em questões como desenvolvimento biológico – em outras palavras teoria evolutiva e tudo o mais, diferente dos personagens anteriores de STAN LEE e JACK KIRBY e de outros autores da casa das ideias– que obtinham seus poderes em decorrências radioativas e similares, que estão longe de ser realistas. Só esse fato faz dos personagens algo especial como também contribui para tratar de temas sociais polêmicos, o principal deles, o preconceito.

Já pelo titulo podemos ter o entendimento de qual forma CLAREMONT pretende trabalhar sua narrativa, sendo que “Deus ama” já tem conotação positiva perante a existência da religião, mais necessariamente a fé, e “O homem Mata” especificando que toda JIHAD, e qualquer forma de preconceito indutivo bíblico, não passa de má interpretação dos textos bíblicos, ou, vista grossa perante a reformulação religiosa proposta por CRISTO no NOVO TESTAMENTO-, sobre essa subjetividade humana é assunto para uma crônica futura em meu outro blog.

Ou seja, em DEUS AMA, O HOMEM MATA, o autor não faz uma critica a religião em si, mas a determinados indivíduos que usam a bíblia, ou, qualquer outro [documento] conceito religioso para seus próprios fins. O que nos oferece uma obra que, de sua maneira, aborda o assunto mais corriqueiro na existência dos mutantes da Marvel: O PRECONCEITO.

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_Magneto como sempre marcando presença

Quem nunca sofreu algum tipo de preconceito vivendo em sociedade? E quem nunca teve preconceito em relação a algo que atire a primeira pedra. É. É triste dizer isso, mas hipócrita aquele que diz ser nulo em relação a ter preconceito.

Os seres humanos são territorialistas, como todos os animais o são, e em sua formação social seguem determinados padrões. Algo que pode ilustrar bem o que pretendo dizer é um velho acontecimento que me contaram quando criança: uma menina criada no campo, que passava maior parte do seu tempo brincando no sítio no qual seus pais eram donos e que não saía passear em quase lugar algum, um dia, viu chegar no quintal de sua casa um estranho, e este gerou nela pânico por ser diferente de todas as pessoas que já tinha visto, já que vivendo isolada no meio do mato, numa época de poucas moradias, conhecia poucas pessoas e por isso saiu correndo e se escondeu. Um pouco depois que o visitante foi embora, a mãe explicou que ela não precisava ter medo por que aquela pessoa era de cor negra, porém, que não era diferente dela. Sim, isso mesmo, ela temeu um negro por não ter até aquele momento visto nenhum em sua frente e ninguém ter falado sobre isso com ela até aquele dia. Obs.: realmente isso aconteceu, apenas não cito o nome porque não pedi ordem.

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_Brent e sua arte espetacular

A mesma coisa acontece no universo Marvel. Até antes do surgimento da raça mutante, tínhamos pessoas com poderes provindos de acidentes científicos, ou, experiências militares, que não necessariamente causava temor nas pessoas, pelo contrário, humanos como o CAPITÃO AMÉRICA eram ícones a serem seguidos, mas de repente surgiram pessoas que nasciam, ou, desenvolviam características diferentes das pessoas comuns e isso causava pânico, medo e repudio em muitas pessoas. Desde sua concepção os mutantes serviam na causa de combater o preconceito que, convenhamos, por mais que ainda exista, anos atrás, aliás, décadas, era maior do que se possa cogitar, principalmente, por não ser “mascarado” como
atualmente por de trás da hipocrisia do politicamente correto.

E claro, logicamente algum escritor teria o “insight” de trabalhar o tema usando a cegueira religiosa como forma de atormentar a vida dos mutantes que já tinham passado perrengues preconceituosos “por demais da conta” até então.

Um homem chamado, WILLIAM STRYKER [EX-SARGENTO DO EXERCITO AMERICANO] –que por motivos pessoais perturbadores, se tornou reverendo – decide combater a afronta a Deus que é, na sua concepção [interpretação da bíblia], a raça mutante. E assim sendo, criou um grupo de EXTERMÍNIO DE MUTANTES, chamado de PURIFICADORES, os quais não poupam nem a vida de crianças inocentes. É quando se inicia a CRUZADA STRYKERbom trocadilho, não é? – a qual faz a vida dos X-MEN um inferno na terra.

A premissa é basicamente essa.

-Mas, e aê, valeu a pena esperar para ter a obra em mãos?
-valeu sim, mas, tenho algumas considerações finais!

“É tipo assim sabe.” Eu gostei bastante da história, mas sinceramente esperava mais, no entanto, acredito que o que me incomodou não seja culpa de CLAREMONT, mas sim, das engrenagens editoriais, o que resulta num número especifico de páginas.

Eu sei que uma ideia legal, não precisa necessariamente de “trocentas” páginas para ser exposta, muitas vezes em pouquíssimas paginas o escritor é capaz de fazê-lo- quem conhece obras do Neil Gaiman o sabe muito bem, – mas, mesmo assim, em minha humilde opinião, o tema preconceito com base em deturpação religiosa, poderia ter sido mais extenso, gerando algumas páginas a mais na qual pudesse ser mais aprofundando alguns aspectos do tema, como, por exemplo, o personagem, KURT WAGNER, NOTURNO, que após certo tempo de existência passou a ter um embasamento religioso muito grande e que na sua infância no vilarejo no qual morava, abrigado por ciganos, por causa dos seus poderes, osdeus ama o homem mata- x men- 03.3 moradores o viram como o diabo e tentaram linchá-lo, ao meu ver este personagem poderia ter tido uma presença maior durante a narrativa já que novamente estava passando por isso, mas, de forma mais violenta. Outra coisa que me incomodou foi o fato do debate, entre o PROFESSOR XAVIER e o REVERENDO STRYKER, ter sido bem curto, apesar da contextualização de boicote da emissora, mesmo assim o tema mutantes, serem considerado humanos ou não, poderia gerar um debate muito mais profundo no qual o poder de Persuasão entre os personagens atingisse níveis épicos. A verdade é que a frase: “O Acalorado debate prossegue ao longo de todo o programa” me pareceu preguiça de CLAREMONT de fazer a- como, dizem por aí– a cobra fumar.

Outra coisa: o motivo, pelo qual o REVERENDO STRYKER decidiu seguir seu caminho de devoto as leis de Deus, de uma forma um tanto eugênica, também poderia ser mais romantizado, afinal de contas seria legal se pudéssemos “sentir” sua dor e mesmo assim o víssemos como extremista.

No mais, a obra tem muitos pontos fortes como KITTY PRIDE marcando presença- só não gosto do uniforme dela…,XAVIER sendo usado a bel prazer pelo Reverendo contra seus pupilos, e bons argumentos usados pelos personagens. Não temos aquele tipo de roteiro superficial nos diálogos, todos são bem trabalhados e verossímeis. Afora os desenhos de BRENT ERIC ANDERSON que marcam época. Vale também dar crédito ao colorista STEVE OLIFF que nos oferece uma atmosfera subjetiva e lírica.

Sobre a edição de 2014 da PANINI, esta é bem caprichada pelo seu designe de capa com detalhes em relevo, a introdução de CHRIS CLAREMONT sobre a obra, as entrevistas feitas por JOHN RHETT THOMAS com CHRIS e ANDERSEN, e até mesmo temos um texto de NEAL ADAMS que de primeira havia sido cogitado para desenhar a obra, mas por motivos ideológicos não o fez.

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Mais uma obra que faz parte das minhas HQs de cabeceira
‘”E que assim seja!”

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 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

SANDMAN [NEIL GAIMAN] – [DC/VERTIGO]

11193327_450654065098314_1862673273976001700_n“COM UM PUNHADO DE AREIA EU MOSTRAREI O TERROR A VOCÊS…” [T.S. ELIOT]

Durante A GRANDE TEMPESTADE de 1987, ocorrida durante o final da noite de 15 e 16 de Outubro, com seus ventos que chegavam a atingir 220 km/h, derrubando 15 milhões de árvores, ocasionando mortes na Inglaterra – e em toda Europa-, o escritor britânico NEIL GAIMAN num quarto escuro, concebia sua proposta para a reformulação do personagem SANDMAN da década de 30, a Era de Ouro dos quadrinhos, no entanto, por vários motivos, como este estar sendo usado por outro escritor nas histórias da SOCIEDADE DA JUSTIÇA, e principalmente por Gaiman ainda ser um escritor desconhecido na terra do Tio Sam, não conseguiu de imediato realizar seu intento, apenas, durante uma reunião periódica entre editores e administradores da DC Comics numa biblioteca empoeirada numa antiga casa em TARRYTOWN, nas Hudson Highlands, no Estado de NOVA YORK, estes chegaram à conclusão que deveriam buscar novos escritores, e na esperança de encontrar outros talentos como ALAN MOORE e GRANT MORRISON, decidiram se voltar para o REINO UNIDO, permitindo assim novo encontro entre Neil e KAREN BERGER, para qual Gaiman havia algum tempo antes enviado a história JACK IN THE GREEN, e conseguido o sinal verde para escrever um roteiro para sua segunda opção de personagem: ORQUÍDEA NEGRA, porém, mesmo que escrita por Gaiman, e desenhada por Dave McKean, ficou na geladeira até o momento conveniente da obra ser publicada, ou seja, quando ambos os artistas já tivessem pelo menos um trabalho conhecido no mercado de quadrinhos estadunidense, no caso: ASILO ARKHAM – UMA SÉRIA CASA EM UM SÉRIO MUNDO entre McKean e Grant Morrison, e ironicamente Gaiman começando sua visão de Sandman, O MESTRE DOS SONHOS.

Karen Berger editora da DC Comics na época, quando entregou o título Sandman às mãos de Neil Gaiman, disse que este poderia fazer o que quisesse com o personagem [a gente sabe que no mercado editorial nunca é bem assim], porém, que pelo menos, o nome deveria ser mantido. E assim Gaiman o fez, mexeu com todo o conceito do personagem, com genialidade conseguiu encaixar as duas encarnações anteriores de Sandman na narrativa, tanto WESLEY DODDS como o herói mascarado de JOE SIMON e JACK KIRBY, traçando de certa forma uma “linearidade” para a existência dos Sandmans.

Os irmãos Perpétuos no traço de MARC HEMPEL

Os irmãos Perpétuos no traço de MARC HEMPEL

Gaiman estudou durante um bom tempo, pesquisando sobre o universo onírico para construir a saga de MORFEUS– que podemos dizer que se tornou mitológica, pela grande aceitação do público e pode ser considerada atemporal-, por isso temos uma concepção do MUNDO DOS SONHOS coerente, e que trabalha muito bem o INCONSCIENTE COLETIVO [conceito de psicologia analítica criada pelo psiquiatra suíço CARL GUSTAV JUNG] e cheio de personagens cativantes, os quais, principalmente OS PERPÉTUOS são além de tudo conceitos que representam de forma eficaz a dualidade da sociedade pós-moderna.

O titulo foi lançado em 29 de Novembro de 1988 [apesar de a primeira edição estar datada em Janeiro de 1989] pela Dc Comics– o qual junto a MONSTRO DO PÂNTANO, HELLBLAZER são a gênesis do selo adulto VERTIGO– e foi finalizada em Março de 1996, a pedido de Gaiman que já estava a oito anos criando histórias e precisava de um descanso [afora que após o encontro de Morfeus e seu filho ORFEU seria difícil prolongar muito mais o derradeiro final da saga]. Magistralmente, Gaiman, misturou no universo do Senhor dos sonhos – na série possuindo os mais variados nomes como ONEIROS, KAI’CKUL, LORDE MOLDADOR, entre outros– ,mitologia, religião, ocultismo, filosofia, psicologia ,fazendo da série não unicamente uma história em quadrinhos, mas, literatura em banda desenhada, por isso mesmo a obra angariou prêmios importantes durante sua existência, principalmente a história SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO que recebeu o prestigiado WORLD FANTASY AWARD, na categoria “FICÇÃO CURTA”, primeira e única história em quadrinhos a ganhar esse premio, logo após os administradores proibiram a indicação de Grafic Novels.

Morte no traço de JOHN WATKISS

Morte no traço de JOHN WATKISS

Como já mencionado, Sandman possui como premissa a existência de seres que são análogos a criação do universo e a vida humana, MANIFESTAÇÕES ANTROPOMÓRFICAS de aspectos comuns a todos os seres vivos: DESTINO, MORTE, SONHO, DESTRUIÇÃO, DESEJO, DESESPERO e DELÍRIO, Os Perpétuos; Estes por sua vez habitam o Universo do Mundo do Sonhar, o qual LORDE MORPHEUS [O Sandman do titulo] tem seu domínio, porém, aprisionado quando o místico RODERICK BURGESS, em 1916 intencionava prender a Morte, ironicamente irmã de Sandman, com isso afetando a vida dos seres vivos e o universo do Sonhar desestruturando-o.

As histórias são desenhadas pelos mais variados artistas, fator importantíssimo para representar a subjetividade dos sonhos para cada indivíduo, no entanto, as capas são de autoria de um único artista, DAVE MCKEAN, amigo de longa data de Gaiman, com quem anteriormente trabalhou nas Grafic Novels VIOLENT CASES e Orquídea Negra.

Arte de Dave McKean

Arte de Dave McKean

Sandman pode ser considerado um Cânone do final dos anos 80 e meados dos anos 90 por flertar com subculturas da época como a SUBCULTURA GÓTICAque possui relação com o gênero musical DARKWAVE, no Brasil sua ramificação conhecida como CULTURA OBSCURA– um contexto artístico e comportamental que inclui literatura, cinema, música, artes plásticas e vestuário, entre outras formas de expressões, de forma que um elemento enriqueça o outro e multiplique-se, e o PUNK com suas vertentes: ANARCO, POSTé importante frisar que o POST PUNK é que mais atraiu Neil Gaiman na adolescência – e NEW WAVE, independente de qual fase, algumas características são similares, o Punk comumente têm como abordagem suas letras de cunho sociológico, tratando de temas como o desemprego, a guerra, a violência e drogas; ou o contrário disto: temas como relacionamentos de pura diversão e sexo.

As duas décadas são marcadas por TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS como A TERCEIRA ONDA DO FEMINISMO que buscava delimitar paradigmas das ondas anteriores, como, por exemplo, a psicóloga CAROL GILLIAN, expoente dessa onda feminista, defensora da existência de diferenças significativas entre os sexos, que por tanto devem ser levadas em consideração no meio social, em contrapartida a conceitos feministas anteriores que propunham a não existência de diferenças entre os gêneros sendo isso apenas causa do meio no qual se vive; e o estigma em relação a AIDS que permearam essa época, como também a GRAVIDEZ tinha um porcentual alto na adolescência; outro fator importante da época é a IDENTIDADE GAY sendo “reconhecida”, mostrando os frutos da REBELIÃO DE STONEWALL do final dos anos 60. É importante ressaltar que a obra de Neil Gaiman não se restringe apenas ao panorama geral da época que foi escrita, sendo que o escritor empregou a técnica de FANTASIA RECURSIVA, utilizou de fatos históricos – e personas históricas como WILLIAM SHAKESPEARE, MARK TWAIN, JOSHUA NORTON entre outros– para contar sua história tornando-a capaz de remeter o leitor a um alto grau de misticismo filosófico que permeia a narrativa, tornando assim a existência dos Perpétuos como algo aceitável e crível.

Arte de Yoshitaka Amano para a obra Sandman: Os Caçadores de Sonhos

Arte de Yoshitaka Amano para a obra Sandman: Os Caçadores de Sonhos

É incrível o quanto cada arco começa e termina de uma forma que tem tudo haver com nossas vidas. É esse tipo de Literatura que me agrada. Aquela que o escritor consegue usar as palavras formulando-as de forma que nosso subjetivismo Interlocutor consegue a partir de conhecimento, experiência, reflexão, e sensibilidade próprias ir o mais fundo possível na narrativa e sentir dentro de si o coração dos personagens e – sério – Gaiman consegue contar a estória de uma forma que a gente consegue adentrar na psique dos personagens, seja ele qual for, porque cada palavra dita, cada sentimento, cada ato, transparece o que somos como pessoas: humanos frágeis cheios de ódio e amor.

A obra se aprofunda em todos esses aspectos sociológicos, filosóficos, místicos de épocas passadas, e principalmente de seu contexto de ano de produção, oferecendo uma narrativa extremamente amarrada, repleta de revira voltas que nos faz ter vontade de conhecer o autor e tê-lo como um amigo. E falando sobre isso, é sempre importante ressaltar que Sandman surgiu numa época em que produzir quadrinhos era muito mais difícil por questões técnicas, diferente de hoje em dia que um quadrinho- ou uma página de livro– pode ser diagramado pelo computador, naquela época tudo era feito a mão e as cópias por máquinas de reprodução inferiores as que existem atualmente. Apenas por esse fato, devemos reconhecer o talento de TODD KLEIN, o letrista, que dedicava imenso cuidado ao criar seus balões, demarcando maneirismos linguísticos, pensamentos e diferentes expressões dos personagens, como também criou as onomatopeias, cartazes, pichações e boa parte da composição da cena, outro fato importante é o talento de Dave McKean que numa época pró-Photoshop criava lindas- e surrealistas– imagens usando tudo o que tinha a disposição, seja um cadeado, corrente e outros objetos, mesclada a sua sensibilidade com o pincel e outras formas de pinturas.

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Wesley Dodds, o Sandman da era de ouro dos quadrinhos

Em relação à divulgação da obra, temos outro fator importante, sendo que não existia a internet da forma que a conhecemos, Gaiman muitas vezes dedicava seus dias divulgando seu trabalho em encontros dedicados a quadrinhos, palestras e todas as formas de divulgações possíveis, isso demonstra a importância que sempre deu para seu trabalho e a consideração que tem pelos seus fãs.

Antes de Sandman, o comum era o gênero masculino ser consumidor em grande escala, ter interesse pela 9ª ARTE, mas, isso mudou a partir do momento que a saga –e todo drama– de Morfeus passou a ser conhecida pelo sexo feminino, trazendo para o mercado dos quadrinhos uma quantia significativa de leitoras do “sexo frágil” que encontravam na obra de Gaiman personagens mulheres que vivendo num mundo patriarcal demostravam muita força e garra para com seus ideais.
Por mais que Sandman seja parte do universo DC, Neil conseguiu de forma sutil criar um caminho à parte para a jornada do herói, apenas utilizando-se de personagens DC em momentos convenientes, jamais tornando essas aparições forçadas. Em suma Neil Gaiman resumiu bem em SANDMAN: CAÇADORES DE SONHOS do que se trata toda saga do Perpétuo:

“O REI DOS SONHOS APRENDE QUE É PRECISO MUDAR OU MORRER, ENTÃO TOMA SUA DECISÃO”

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“AS PESSOAS MUDAM. EU PELO MENOS PUDE ESCOLHER. É MAIS DO QUE DÁ PARA DIZER DA MAIORIA DAS PESSOAS”.


obs: O mesmo post pode se encontrado em meu outro blog- dedicado apenas a vida e obra de Neil GaimanNeil e O Vale dos Devaneios. 


FONTES DE PESQUISA:

  • SANDMAN: EDIÇÃO DEFINITIVA VOLS I.II,III,IV -EDITORA PANINI COMICS
  • NEIL GAIMAN: ENTES PERPÉTUOS – [HEITOR PITOMBO] – EDITORA KALACO.
  • PRÍNCIPE DAS HISTÓRIAS: OS VÁRIOS MUNDOS DE NEIL GAIMAN- [HANK WAGNER, CHRISTOPHER GOLDEN E STEPHEN R. BISSETE] – GERAÇÃO EDITORIAL.
  • A ARTE DE NEIL GAIMAN [HAYLEY CAMPBELL] – MYTHOS EDITORA.
  • HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/SANDMAN_(REVISTA_EM_QUADRINHOS)
  • HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/SANDMAN_(WESLEY_DODDS)
  • HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/?TITLE=INCONSCIENTE_COLETIVO
  • HTTP://WWW.MODADESUBCULTURAS.COM.BR/SEARCH/LABEL/ESTILO%3A%20ANOS%2090
  • HTTP://WWW.SPECTRUMGOTHIC.COM.BR/GOTHIC/SUBCULTURA/SUBCULTURA.HTM
  • HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/?TITLE=DARKWAVE
  • HTTP://WWW.SPECTRUMGOTHIC.COM.BR/GOTHIC/CULTURA_OBSCURA.HTM
    HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/PUNK_ROCK#FINAL_DA_D.C3.A9CADA_DE_1970_E_IN.C3.ADCIO_DA_D.C3.A9CADA_DE_1980
  • HTTP://WWW.EBAH.COM.BR/CONTENT/ABAAAFPZ8AL/DECADA-80
  • HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/D%C3%A9CADA_DE_1990
  • HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/TERCEIRA_ONDA_DO_FEMINISMO
  • HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/REBELI%C3%A3O_DE_STONEWALL